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Mostrando postagens de fevereiro, 2009

Desorientação

Algumas pessoas quando se aventuram em experiências novas, como mudar de cidade, fazer faculdade e arranjar um emprego, são questionadas por seus amigos sedentos por novidades e recontam tudo pelo que passaram com uma história envolvente e interessante. Eu queria ser uma dessas pessoas. “Como vai a faculdade?”, “E o trabalho?”, “Já fez amigos?”, “Enfim, ta gostando?”; eu consigo responder tudo com “aham” sem nem me preocupar em não ter nada relevante para adicionar, e também me questionam por isso. Eu gostaria de viver em um mundo onde meu “aham” tivesse valor, mas só o meu. As vidas dos outros podem permanecer como “best sellers”, se não for incômodo. *** Eu não questionei a razão de ter aulas de economia em Jornalismo, mesmo com apenas a teoria, mas certas matérias “fundamentais” aprofundam-se tanto que me deixa desorientado – mais do que o normal. E é com base nisso que eu desabafo: fotografia é uma coisa chata. Não tive aulas práticas ainda, com exceção de uma breve v

Em um mundo onde os reis são empregados

Dia desses no shopping, chega um cliente na loja. Avisam-me que é um cliente regular, então apesar das frescuras rotineiras preciso manter o sorriso tatuado no rosto mesmo depois dele pagar a conta. E realmente não era um cliente qualquer; era daqueles que puxa conversa. - Qual é o seu nome? - Igor. - Mesmo? E você sabe a origem do seu nome? - Até onde eu sei, é de origem russa. - Sim, sim. É o nome de um príncipe russo muito poderoso que ganhou várias batalhas na antiguidade. - Ahn... Sério? - Precisamente. Obrigado pelo chope, rei Igor. Algum tempo depois, deixei de lado o Orkut um pouco e fiz uma pesquisa. E era verdade mesmo; príncipe Igor Svyatoslavich governou Novhorod-Siverskyi, uma cidade histórica da Ucrânia a 45km sul da Rússia, no período de 1180 a 1202. Eu aproveitei o momento para apreciar a ironia, mas foi breve. Eu tive que ir dormir cedo pra trabalhar bem no dia seguinte. *** Além do necessário, eu já aprendi muito trabalhando. Eu aprendi

Três semanas depois

Eu não previ nada disto. Eu trabalho numa chopperia em um shopping (ignore a aliteração), e por mais movimento que tenha, eu ainda sim tenho o turno da manhã/começo de tarde e as coisas podem ficar meio paradas. Na praça de alimentação tem duas televisões que passam videoclipes de músicas e propagandas do shopping o dia todo – as mesmas músicas, todos os dias. Quando tem movimento, o som é diminuído ao extremo e somente surdos-mudos acompanham os vídeos. Eu já decorei a programação, e até mesmo algumas coreografias. Nesses dias eu fico escorado no balcão vendo as poucas pessoas no shopping passarem para lá e para cá, com seus olhares distraídos e sacolas recheadas de supérfluos. Essa é a pior parte do trabalho; quando não há trabalho. Minha rotina mudou completamente de três semanas atrás para hoje, e eu não tenho mais tanto tempo livre – vide minha ausência virtual. Eu não consigo nem mesmo escrever tanto quanto gostaria, não dá tempo de ligar o computador. Escrever à mão também

Sonhando acordado

Há quase uma semana eu venho tendo o mesmo sonho, todas as noites. Na verdade é mais uma sensação do que um sonho, mas ocorre sempre de noite quando já estou na cama, virando de um lado para o outro na esperança de ficar sonolento. Ontem eu deitei à 00h; eu ainda estava acordado à 1h30. No sonho, eu me livrei de todo o senso teatral/dramático que me acompanhou durante o colegial, sou bem-resolvido quanto a minha vida (trabalho, estudo, pouco tempo para lazer), e não possuía sequer a mínima complicação amorosa passional que sempre costumava gerar desde os últimos anos em que adquiri consciência. E o mais estranho do sonho é que, até o presente momento, ele ainda não acabou. Mais assustador do que qualquer pesadelo que já tive; tudo isso era real. No trabalho, eu temo que tudo acabará quando um cliente se impor e reclamar da comida. Na faculdade, eu me fecho para evitar que eu por ventura acorde caso eu finalmente me comunique com alguém. Eu não consigo entender; cadê aquela subjetiv

O "feeling"

Depois de toda a calmaria e despreocupação no 1º ato da peça, é de costume que o 2º ato desencadeie dificuldades, obstáculos e desafios que precedem o tal “final feliz” no 3º ato. E como se a mudança, a adaptação, o incômodo de dividir o quarto em um apartamento pequeno, e o primeiro emprego que forçou a exposição e o poder da fala não fossem o bastante, a nova barreira surgiu na forma mais aterrorizante para uma pessoa tímida (que, na maior das ironias, escolheu como projeto de profissão a comunicação social) – o primeiro dia de aula na faculdade. Era possível perceber as semelhanças que o ensino superior e o médio compartilhavam ao reunir seus alunos pela primeira vez na mesma sala de aula; existem os mega-comunicativos que logo se enturmam, aqueles que fazem uso das companhias conhecidas para sobreviverem, e eu – eu estava tão nervoso quanto um animal assustado fora de casa. Por sorte (ou qualquer outra circunstância) eu não era o único, mas isso não fez da experiência muito menos

Da noite pro dia

Meu nome é Igor Costa Moresca. Se você perguntar como foi meu dia, direi que não houve nada de diferente. Acordei, tomei café, fui trabalhar, e voltei para casa. Claro, se você perguntar há quanto tempo eu venho feito isto, terá uma resposta diferente. Há dois dias atrás, eu nem tomava café. Há quatro dias atrás, eu nem tinha emprego. E há uma semana atrás, eu tinha outra vida. Sete dias atrás, eu ainda estava em Londrina, onde nasci e cresci. Um mês antes do vestibular da UEL, recebi um telefonema do meu pai – que reside em Cascavel – sobre um outro vestibular que ocorreria na cidade dele, e que eu deveria optar por mais uma opção caso a UEL não resultasse bem. E foi exatamente o que aconteceu, mais ou menos. Passei no vestibular em Cascavel, enquanto meu desempenho na UEL foi catastrófico (o que uma redação não faz...). E então, meu destino estava praticamente traçado – a faculdade em Cascavel me esperava. O que eu não esperava era exatamente o quão difícil seria desapegar de uma