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Entre as linhas de medo e culpa

Basicamente, é uma mistura de culpa e medo. Não sei explicar melhor do que isso. Culpa por ter deixado para trás uma vida repleta de amor, sorrisos e risadas sinceras, e medo de que a distancia eventualmente faça com que eu perca aqueles causadores de sorrisos e risadas, e de amor.
É assustador demais porque não estou mais por perto; continua sendo apenas um ônibus de distância, se não fosse pelo diferencial da tarifa e do tempo de viagem. O que antes era tão viável agora parece inalcançável. Não posso dizer isso a ninguém, muito menos reclamar. Afinal, foi minha decisão. Eu escolhi isso. Parecia ser a opção mais sensata, no momento. Se eu soubesse que iria acabar sozinho e arrependido, eu teria reconsiderado algum cursinho por um ano.
Às vezes eu saio de casa desejando secretamente por encontrar com um amigo, um conhecido, alguém do meu passado, de repente na rua; seria maravilhoso. Às vezes eu não consigo sequer respirar aqui; a respiração agita-se, o coração acelera, e a garganta parece se fechar lentamente. Talvez seja a tal saudade que sufoca, talvez seja o arrependimento que mata. Seja lá o que for, está me matando. A cada dia que passa, é a mesma rotina; não há nenhum acontecimento que origina melhoras ou sequer esperanças. Morar aqui está sendo como encontrar-me encurralado em um beco sem saída, onde não há para onde correr a não ser de volta para onde vim; de volta para o familiar e desistir de desbravar o desconhecido. Por medo e por culpa.

Comentários

  1. Obrigada. É a melhor coisa do mundo saber que eu não to sozinha nessa confusão toda.

    É como se nada valesse a pena, porque não tem carinho, não tem amor ou risadas sinceras. E o medo de permitir que eu me abra para o novo é muito maior do que a minha vontade de tentar. E tudo fica escuro e sufocante novamente, não tem jeito fácil de escapar. E parece que nunca vai ter fim. Mas tudo tem fim, certo honey?

    To aqui sempre!

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