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Mostrando postagens de junho, 2010

Crepúsculo, ou o último dos românticos

Quando eu tinha 14 anos eu fiz uma decisão que tornou-se o momento definitivo do meu caráter, e a razão da minha profunda frustração por anos posteriores; eu decidi que esperaria pela mulher dos meus sonhos aparecer na minha vida – que nossas almas se encontrariam meio à perdição do mundo e instantaneamente saberiamos que pertencemos juntos, assim dariamos as mãos e seguiriamos caminhando pela mesma direção… E viveriamos felizes para sempre. Juro. Por limitar minha vida à espera de tal mulher aparecer, eu percebi exatamente quanto tempo em mãos eu tinha, e para passar tempo o que me restou foram os abençoados seriados americanos – dos quais eu aprendi não só lições como inglês também. E foi assim que eu desafiei todos os padrões possíveis ao tentar entender a essência por trás da teoria sobre como a busca pela pessoa perfeita é uma coisa feminina, e junto aos programas da revista da televisão à cabo que eu grifava para assistir, eu adicionei “ Sex and the City ” à minha lista. Tod

Eu e a outra cidade

Londrina é um municipio localizado ao norte e interior do Paraná, com mais de 500.000 habitantes, considerada a segunda grande cidade mais populosa do estado e, há um ano atrás, foi o lugar que escolhi deixar para trás para adentrar a nova fase da minha vida, e o lugar para o qual eu prometi a mim mesmo que voltaria a ser meu lar. Mesmo nascido em Cambé, uma vila anexada à área metropolitana da cidade grande, Londrina é minha casa e o berço de todas as lembranças e experiências que um adolescente no auge dos seus dezessete anos poderia sonhar em ter, composta por monumentos como a rodoviária em forma de nave espacial, o shopping Catuaí em toda a sua grandeza em expansão, a Universidade Estadual (ou o que sobrou dela), o colégio Marista (o melhor campo pedagógico de concentração que há), e lugares memoráveis como o calçadão, o lago Igapó, a avenida Tiradentes, a rua Maringá, a avenida JK, a tumultuosa Leste-Oeste, e claro, as casas dos meus amigos que mesmo depois de tanto tempo, a

Os três dias do condor

Eu não durmo há três dias , mas não foi de todo ruim. Por três dias eu vi o sol nascer, e foi bom sentir em mãos inúmeras possibilidades apresentadas a mim pelo início de mais um dia. Noites bem dormidas tornaram-se lembranças distantes, enquanto sonhos tornaram-se mais inalcançáveis do que o de costume. E por três dias, eu não fiz nada senão pensar sobre isto, sem chegar em conclusões satisfatórias… Até agora. Talvez tudo tenha começado, ou melhor, terminado, quando eu mesmo declarei o fim dos meus sonhos; que não havia alma-gêmea, que não sentiríamos no coração com apenas um olhar que pertencemos um ao outro, e que quando nos encontrássemos, vindo de caminhos distantes, seguiriamos em frente de mãos dadas a mesma direção, para onde quer que fossemos. Desde então não houveram mais sonhos de qualquer tipo, e uma sucessão de noites mal-dormidas deu-se início. Eu não deveria estar surpreso que logo após os sonhos, perderia o sono em seguida. Ao me assegurar no que diziam ser terriv

Dê tempo ao tempo

Tempo é uma coisa engraçada. Enquanto cinco anos podem passar num piscar de olhos e manter a nós e nossos amigos exatamente como sempre fomos, coisas impressionantes podem acontecer da noite pro dia. Coisas que nunca esperávamos que fossem possíveis. E mesmo depois de tanto tempo, eu ainda estou do mesmo modo; apaixonado. Mas a medida em que tomamos nosso tempo como garantido, deixamos que este escape por nossos dedos, somente para percebermos de novo e de novo que não há nada que possamos fazer para recuperar tempo perdido. Deixamos tanto para o amanhã, que nos esquecemos do hoje. Esquecemos que a vida não pára para assistir nossa constante procrastinação. E então podemos acordar um dia e descobrir que nosso tempo se esgotou independente dos relógios a nossa volta, que teóricamente deveriam controlar o tempo ao nosso favor. Será que deixamos a teoria se tornar mais importante do que a prática? O que estamos fazendo com nosso tempo? Deixamos o sol nascer e se pôr sem perceber su

Boa noite, meu alguém

Em “ The Music Man ” quando uma garotinha, Amaryllis, pergunta à Marian, sua professora de piano, para quem ela deve dizer “boa noite” quando as estrelas tomam o céu, Marian simplesmente sugere que ela deseje boa noite ao seu “alguém”, e faz isso em forma de música (“ Goodnight My Someone ”). Foi assim que eu passei a adotar este costume, principalmente para me encher de esperança e para me sentir menos sozinho quando deito a cabeça no travesseiro, na minha cama, no meu apartamento vazio. Também foi assim que eu aprendi a deixar músicas orientarem minhas emoções, como modo de tornar mais fácil lidar com quaisquer crises que meu subconsciente pudesse criar. Com o tempo este costume amadureceu a ponto de tornar-se um estilo de vida, assim como minhas músicas foram além dos fones de ouvido, e passaram a liderar minha caminhada rumo ao meu “alguém”. O que explica porque eu me senti assombrado por Gloria Gaynor cantando “ Never Can Say Goodbye ” quando minha última relação séria em ano

Os sonhadores

Apesar do preto e branco que cobre o mundo hoje, algumas pessoas não só ainda conseguem distinguir o preto do branco, como também conseguem enxergar com clareza todos os tons de cinza que existem entre eles. Algumas pessoas ainda acreditam que o mundo pode até mesmo deixar de ser preto e branco; pode voltar a ter todas as cores possíveis, e que a vida pode ser mais do que nos dizem que pode ser. Algumas pessoas não só ainda tem sonhos com ainda acreditam neles; acreditam que podem torná-los realidade até quando a própria realidade massacrante tenta provar o contrário. Algumas pessoas provavelmente conhecerão mais felicidade do que outras, por perceberem que esta nasce dentro de cada um, antes de ser projetada para fora, e para os outros se inspirarem nela. E diante de tudo que lhes é mostrado, algumas pessoas ainda conseguem ver o lado bom de tudo, inclusive a bondade que existe onde dizem ser apenas mal. Algumas pessoas não desperdiçam a vida; pelo contrário, buscam aproveitar ca

Terra de ninguém

Acordar à uma da tarde , geladeira cheia de comida pra microondas, cama desarrumada, sem supervisão (a não ser os vizinhos que ficam passando pela janela), e total liberdade. Em apenas três meses em Cascavel - ou como eu costumava chamar, "terra de ninguém" - e no auge dos agonizantes dezessete anos, eu havia conseguido o improvável: meu próprio apartamento. E em apenas um ano, eu consegui o impossível: fazer deste apartamento meu lar definitivo pelos próximos quatro anos e meio, ou até minha estadia expirar aqui na cidade onde as capivaras correm soltas. E ao somar isto com um muito merecido período de férias do trabalho, é possível sentir o aroma de preguiça no ar mesmo de longe. Eu havia construído minha própria terra de ninguém, e realizado o sonho de qualquer adolescente frustrado que aspira um dia fugir de casa ou montar uma república. Claro, dormir e acordar quando dá vontade, comer e beber o que quiser, e aproveitar tudo o que o ócio criativo tem a oferecer tem s

O efeito Scherzinger

Todo homem sonha em encontrar sua alma-gêmea - uma mulher compreensiva, bonita, inteligente, capaz de tornar realidade todas as suas fantasias. Mas há controvérsias; alguns esperam anos por aquela mulher, com letra maiúscula, aquela que aparece apenas uma vez na vida e que após encontrá-la, passam o resto de sua existência tentando provar que são merecedores de sua graça, seu amor, ao mesmo tempo em que agradecem por esta finalmente trazer sentido aos seus dias. Assim como há aqueles que se contentam com a primeira que aparecer, de novo e de novo, sem expectativas de revê-la e fazendo uso da antropologia para justificar sua necessidade de espalhar sua semente o máximo que puder. Já dizia Woody Allen que sexo sem amor é uma experiência vazia, porém é uma das melhores. Mas o que resta à aqueles sonhadores incansáveis quando confrontados com o fim de suas ilusões e paixões platônicas que os mantém vivos enquanto ainda procuram a pessoa ideal? Começar a sonhar de novo. E foi exatamente

Diga como é

O que aconteceu com o tempo em que ser verdadeiro tinha valor? As pessoas mentem, fofocam, cochicham, articulam, manipulam, apunhalam pelas costas e ainda se fazem de desentendidas quando suas máscaras caem. Qual é a grande dificuldade em simplesmente ser o que é, ao em vez de falsificar uma identidade, e consequentemente falsificar relacionamentos? Somos criados com base de que devemos sempre contar a verdade, que mentir é errado, e que seja lá qual for o problema, não compensa carregar uma consciência pesada. Mas ao amadurecermos e entrarmos em contato com o mundo real, mentir e fingir perdem sua pejoratividade e tornam-se armas de sobreviência, para combater o que falam de nós, o que pensam de nós, até mesmo quando quem lança as granadas mal conhece seu próprio nariz. Sobreviver no mundo real tem seu preço, e pode custar caro ter de abrir mão de quem você realmente é, para fazer jus ao que você pensa que os outros pensam de você, e para segurar-se na sua velha opinião formada s

Grandes esperanças

Talvez o maior problema que exista ao sonhar com o futuro é que quanto mais construimos planos para nós e o que queremos da vida, mais elevamos nossas expectativas. E expectativas são sentimentos frágeis demais para se tornarem muito altas, porque quanto maior a altura, maior é a queda de volta à realidade. Isto provavelmente explica porque, depois de meses de agonia e êxtase vazios, eu ainda espero ansioso pelo dia em que me veja livre de paixões platônicas que foram em vão, ao em vez de insistir em fixar meus olhos naquela pessoa. Não é a toa que sempre me dizem, "não crie expectativas". Eu já deveria ter aprendido; não é a primeira vez que trombo de frente com o mundo real desse jeito. Ou quem sabe minhas ilusões são meu sistema de air-bag que se aciona ao choque de sentir minhas expectativas serem partidas ao meio; assim diminui o impacto, mas não impede a dor. Às vezes me sinto incapaz de não sentir esperança - se não fosse essa fé na humanidade que se recusa a ceder.

Um

No fim eu acho que o que todo mundo realmente quer da vida é um grande amor. Mas só de mencionar a expressão "um grande amor" já causa muitas controvérsias; o que define um grande amor, e o que diferencia este de meras paixões passadas? Parece ser o sonho impossível de qualquer um possuidor de um coração que busca ser feliz meio à perdição do mundo, viver um grande amor e ter as palavras simplesmente cairem da boca para confirmar que este amor é real; quando você diz em voz alta, olhos nos olhos, eu te amo. Das duas, uma: ou não existe, não acontece... Ou acontece, uma vez na vida. Uma vida, um amor, uma pessoa. E talvez não se trate apenas de uma pessoa; parece que sempre procuramos aquele "um" no meio de tantos que complete nossas vidas. Um lar, um emprego, uma chance, uma família, um... Jung e seus precursores mais pedagógicos nos ensinaram que existem duas personas em cada um de nós; aquela cuja máscara usamos quando colocamos o pé para fora de casa, para l

Por um sentido na vida

Eu não gosto de ter tempo livre. E por mais estranho que pareça a pior parte disto não é como esta afirmação soa, mas como é difícil de admitir e como as pessoas não entendem. Nós vivemos tão fixados em concepções próprias do que os outros pensam de nós quando tentamos escolher como nos definir, que simplesmente esquecemos de viver. Na verdade não esquecemos, apenas adiamos. Mas é um adiamento sem data. Por exemplo, eu não gosto de ter tempo livre porque me dá a oportunidade de reavaliar minha vida - por mais que eu ouça e até acredite que em apenas dezoito anos não é muito possível querer dar sentido à vida, uma vez que esta mal começou - e de me sentir erroneamente vazio. De querer encontrar a razão fundamental da minha existência no mundo, e ao mesmo tempo ser livre das amarras que eu mesmo criei. Tudo muito confuso e complexo que até parece simples quando dou um passo para trás, para rever o quadro maior. Que nada disso realmente importa, e que eu deveria parar de adiar minha vid

O amor está no ar

Agora que o dia passou me sinto mais capaz de fazer algum tipo de comentário. Na verdade toda a expectativa que eu havia criado em cima deste dia, mesmo inconscientemente sabendo que explodiriam na minha cara, não me feriu tanto. Como enxugar lágrimas, quando seus olhos estão secos? Foi isso o que me preocupou. Depois das inúmeras cartas de amor que foram parar no lixo, as esperas em vão, e os vultos constantes de sentimentos antigos que não vingaram, tudo me levou a imaginar que amor é uma ilusão para os tolos e uma decepção para os realistas. E então eu comecei o dia atrasado e saí correndo de casa para a aula, só para ser pego de surpreso na rua por um outdoor gigante com apenas uma única palavra escrita: amor . Eu tive que me perguntar; será que eu não me lembrava mais de como é a vontade de ter amor o bastante para encher um outdoor, ou eu simplesmente nunca tive? Eu realmente amei, ou estava apenas viciado na dor? A dor maravilhosa de me atrair por pessoas inatingíveis, e