Uma das peculiaridades da vida está no nosso constante aprendizado em como levá-la dia após dia, todos os dias. Tentamos manter em mente que que por piores que as coisas pareçam estar, não há nada como o tempo para nos levar adiante e reestabelecer a ordem em nosso caos particular. Tentamos segurar nossa ansiedade por dias melhores com todas as forças que pudermos até mesmo quando já não sabemos se ainda acreditamos que estão por vir. Eu sempre achei que com o tempo viria a maturidade, o aprenziado e a esperança para me reafirmarem de quem eu sou e o que estou fazendo aqui, ou para explicar porque digo as coisas que digo ou acredito em coisas que não posso ver, mas que posso sentir. Todo mundo carrega consigo uma história capaz de definir quem você é, quem você foi, e quem você provavelmente será, completa com seus erros e acertos, momentos de incerteza e dúvida, amor e esperança, e sonhos que um dia você considerava como as coisas mais importantes, mas que cairam no esquecimento a medida que você seguiu em frente. Isto é; nós realmente seguimos em frente, se nosso passado continua conosco?
Minha história começou cinco anos atrás. Eu estava cursando o primeiro ano do colegial, e o que futuramente também viria a ser um dos anos mais importantes da minha vida, se é que já posso colher pérolas em tão pouco tempo de existência. Mas lembro que foi o ano em que vi tudo que achava que conhecia mudar diante dos meus olhos, da noite pro dia, quando me apaixonei pela primeira vez. De repente tudo o que havia vivido antes daquele momento perdeu sua importância como se a vida de verdade mesmo estivesse finalmente começando, como um despertar para a realidade, mesmo que sob a ótica ilusória - porém, maravilhosa - do primeiro amor. E com ela, logo vieram os amigos que seguiram jornada junto a mim, os lugares que conheci, e as músicas que tocavam enquanto estávamos ocupados rindo e despreocupados com qualquer outra coisa que não fosse apenas estar ali, precocemente e ridiculamente felizes. Era o melhor dos tempos, e era o pior dos tempos.
Cinco anos depois, aqui estou eu. Levemente diferente do que daquela época, certamente mais experiente, mas tão perdido quanto antes. Consigo ver algumas diferenças gritantes, claro - eu sorria com mais frequência, ria com mais facilidade, e chorava com mais emoção. Mas quando um homem envelhece, a primeira coisa que ele deixa para trás é o seu coração, a sua paixão que o motiva a viver, a se arriscar e a sentir arrepios na espinha quando sai pelo mundo afora e expande seus horizontes, em territórios novos, onde a única coisa que não permanece desconhecida é a sua alma - apesar desta estar já um pouco cansada. Semana passada eu estava revirando algumas memórias guardadas pelos cantos do meu quarto e encontrei meu antigo walkman. Lembro que, cinco anos atrás, quando eu implorei por ele, minha mãe me disse que precisava ter calma e ela o compraria para mim. Demorou um ano, mas ela cumpriu a promessa e assim minha vida passou a ter suas tão conhecidas músicas de fundo para me acompanhar. E quando encontrei o walkman, escondido no fundo de uma mala antiga junto a outras lembranças esquecidas, me lembrei do CD que havia composto especialmente para ele - em outras palavras, minha primeira trilha sonora de vida.
01. Stickwitu - The Pussycat Dolls
03. Slipped Away - Avril Lavigne
05. Nobody Does It Better - Carly Simon
06. Put Your Records On - Corinne Bailey Rae
07. I Never Loved You Anyway - The Corrs
09. Girl, You Really Got Me Now - Jerry Brunskill
10. Boogie Shoes - KC and the Sunshine Band
12. One - U2
14. I Don't Feel Like Dancing - Scissor Sisters
15. You Don't Own Me - Bette Midler, Goldie Hawn & Diane Keaton
16. Right Now - The Pussycat Dolls
Ao ouvir minhas velhas canções, eu me lembrei de quem costumava ser; alguém que caminhava pelas ruas de Londrina desperado para amar alguém, e para encontrar alguém que me amasse de volta. Talvez seja verdade quando dizem que as coisas acontecem na hora certa em que devem acontecer, mas quando dizem realmente seguimos em frente precisamos refletir: apesar do tempo ter nos empurrado adiante, ainda não somos os mesmos? Revirando meu passado através de canções eu também me relembrei de algo que acabou sendo mais importante do que eu poderia ter imaginado um dia; meu primeiro blog, que na verdade era um fotolog, no tempo em que fotologs eram alguma coisa e deixar comentários deles era até divertido. E me lembro do seu nome, "Someday We'll Know" - traduzido como "um dia saberemos" - uma música dos New Radicals. Durou alguns anos até eu criar algo novo - meu primeiro blog oficial, "Some other day", traduzido como "algum outro dia".
Ao contrário dos meus amigos na época, nunca mudei o nome do meu blog em nome da mensagem que a música trazia - "um dia saberemos se o amor pode mover uma montanha / um dia saberemos porque o céu é azul / um dia saberemos porque eu não fui feito para você". Eu imaginava que, enquanto não soubesse ao menos a resposta para a última pergunta, manteria o mesmo nome e a mesma filosofia. Mas os anos passaram, outros mil textos e músicas vieram e se foram, e eu ainda não encontrei uma resposta para aquela pergunta. Sonhos mudam, cidades vem e vão, mas se sua casa é aonde mora o seu coração, então eu jamais realmente segui em frente; ainda sou o mesmo garoto com a mesma pergunta sem resposta. E quando deito a cabeça no travesseiro à noite, ainda repito para mim mesmo o mesmo que dizia cinco anos atrás; um dia saberemos...
Ao som de: Someday We’ll Know – New Radicals.
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