Existe um paradigma inquebrável que já pré-estabelece todo e qualquer homem como naturalmente superficial. Mulheres veem os homens dos pés a cabeça, enquanto nós apenas nos concentramos em pontos específicos; isto é fato. Mulheres tentam analizar o que realmente queremos dizer quando dizemos alguma coisa, quando na verdade não queremos dizer nada com nada. Quer dizer, é mesmo? Bom, senhoras e senhores, permitam me apresentar; sou a única exceção. No entanto, como todo extremo, tenho tendências ao exagero que não melhoram muito a fama da espécie. Então ainda somos dominados pela raça cro-magnon enquanto nós, os outros, temos nosso sentidos um pouco mais aguçados; enquanto eles não sentem nada, nós sentimos demais.
Dizem que eu complico as coisas, que a vida não precisa ser tão estressante assim se você apenas se deixar levar pelos dias - como se fosse algo tão fácil de fazer. Nada em mim é raso, finito, pronto - tenho várias camadas e inúmeros relacionamentos, e são todos inacabados, profundos e em intenso crescimento, pelo menos enquanto eu puder mantê-los assim. Mas agora inventaram que é só coisa da minha cabeça, que eu preciso aprender a ser mais fácil de lidar e aceitar que tanto eu como os outros vamos ter que aceitar nossos defeitos assim como aproveitamos nossas qualidades. Eu até poderia tentar me deixar levar desse jeito, mas depois não venham dizer que não conseguem mais me reconhecer.
Sou feito de entrelinhas, de sentimentos por trás dos gestos, filosofia por trás da fala, e amor por trás das atitudes - assim como a falta delas. Sou tão profundo que às vezes me perco em mim; caio neste abismo de subjetividade apavorante e até preciso de ajuda para encontrar meu caminho de volta, antes que me afunde em tamanha consciência. E é por ser assim que eu não consigo encontrar a graça em coisas superficiais, e vocês sabem do que eu estou falando. Poderia criar amizades assim, do nada? Claro. Poderia formar laços afetivos baseados apenas em instintos? Sem dúvida. Poderia viver a vida sem bases de maneira perigosamente inconsequente? Talvez não. Sou definido por meus valores; minha família, meus amigos, minhas crenças, meu amor e, definitivamente, meus momentos de fraqueza que só tomam conta quando o mundo real me causa danos que vão além dos olhos, até o coração. E não há nada de superficial em um coração partido.
Eu poderia sair por ai e tentar descobrir como é se relacionar com as pessoas sempre protegido por indiferença, nunca me importando com quem eu possa cativar pelo caminho e sendo levado adiante conforme a frieza me permite. Você tem sentimentos? Problema seu, não me aborreça com isso. Quer discutir a relação? Desculpe, mas não há relação aqui. Sente a minha falta? Eu nem sei seu nome. É, eu poderia tentar, se não fosse por esse incansável coração que insiste em enxergar a fé até mesmo as pessoas mais incrédulas, e toma por sua missão tentar trazê-las de volta à vida. Se estamos todos juntos nessa bagunça que chamamos de sociedade, podemos mesmo afirmar que vivemos sem compromissos? Ou talvez seja eu quem esteja complicando demais, sentindo demais, e amando demais em vão. Mas mesmo com todas essas cicatrizes e lágrimas que a maioria das pessoas não consegue ver - ou, não tentam ver - eu ainda prefiro sentir dor do que não sentir nada.
A única coisa superficial em mim é a minha crença na superficialidade.
Ao som de: Never Alone - Lady Antebellum.
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