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Modelos e mortais

Eu poderia ser modelo - pausa para risos. Eu não fazia meus amigos rirem desse jeito desde a vez em que eu disse que a prova da incapacidade das pessoas de valorizarem o que é belo era eu estar solteiro. Mas piadas a parte, eu não estava brincando desta vez; por que eu não poderia ser modelo? Ai disseram que se eu emagrecesse, me esforçasse, uma boa academia aqui e ali, um tratamento decente para essas espinhas, se Deus me desse alguns centímetros a mais, talvez, quem sabe, eu poderia tentar. Foi o bastante para me frustrar e me fazer escrever; eu não ando muito profundo ultimamente, então qualquer frustração já está valendo alguns parágrafos.

Primeiro, eu não disse do que eu seria modelo; quem sabe não poderia ser o homem mudo que segura o produto enquanto anunciam a venda do novo modelo da TelePix ou então do revolucionário Cogumelo do Sol. Segundo, nem tudo o que eu digo é sem sentido ou absurdamente hilário; se eu disse que eu poderia, é porque eu realmente penso que conseguiria. Não é como a vez em que eu disse que, com o preparamento físico correto, eu poderia ir caminhando daqui até Londrina - até fiz as contas; cinco dias direto com poucos intervalos para água e descanso, e talvez a bateria do iPod durasse apenas até Campo Mourão, e seguiria viagem cantando para passar o tempo.

As pessoas parecem ter uma concepção fechada sobre modelos; desde os modelos de vida que decidem seguir, as outras pessoas nas quais se inspiram, e as coisas que julgam certas a serem feitas. Mas quem define esses modelos? A hipocrisia da sociedade, claro. Somente as pessoas bonitas podem ser modelos, somente aqueles que sorriem são felizes, e somente as pessoas que vivem do jeito que eu vivo estão certas, não é mesmo? E ainda insistem para que eu saia mais; não, obrigado, mas eu prefiro viver na instabilidade do meu mundo do que na incoerência do de vocês.

O que realmente existe por trás dos modelos são rótulos; estereótipos que já nos trazem uma noção do que podemos esperar das pessoas, e às vezes parece mais cômodo aceitar o que ouvimos falar sobre tal pessoa ou então o que ela aparenta ser, do que derrubar nossos paradigmas e ir além da nossa zona de conforto para tentar conhecê-la. Quem nos garante de que nossos conceitos estão certos se foram formados à distância? Quanto a mim, sou tão disfuncional quanto meus relacionamentos e as coisas que digo e escrevo para o mundo. Acredito que talvez seja mesmo melhor sair por aí e cometer erros do que ficar em casa e fazer nada, mas não há nada que eu goste mais do que provar que as pessoas estão erradas - especialmente, sobre mim.

E só para constar, eu não sou tão feio assim.

Ao som de: Born This Way - Lady Gaga.

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