Quem vive a base de palavras sabe o inferno que pode ser quando não conseguimos escrever o que queremos dizer. Porque as palavras faltam, fogem, ou então não ficam claras o bastante a medida que produzimos, transcrevemos, editamos e postamos nossas opiniões, desejos e sonhos para aliviar nossa consciência ao compartilhar com o mundo, o nosso próprio mundo. Mas eu tento me construir com parágrafos e vírgulas, travessões e pontos que, apesar de parecerem, nunca são totalmente finais. E conforme os anos passaram, eu fui me refletindo cada vez mais para o mundo como aquele capaz de traduzir suas emoções e angústias através de palavras e mais palavras, sem saber que cada uma delas estava construindo também a jornada que até hoje sigo, mas que ainda não sei onde vai parar. Só um medo realmente me aflige; quantas palavras ainda existem dentro de mim para serem dadas de aniversário aos meus amigos, ou para serem oferecidas para pessoas que buscam algum tipo de ajuda em meus infames apelos, que agora já parecem tudo menos infames. Quantas palavras ainda me restam para tentar completar de uma vez por todas a personalidade inconstante, incoerente e irracional deste que voz fala, sem cair na repetição ou pleonasmos que estão sempre fadados a aparecerem dia após dia, texto após texto.
Entre palavras descobri um lugar de tanto conforto e segurança que agora me sinto um tanto frágil com quanto tempo ainda tenho pela frente para continuar descrevendo tanto o mundo que me cerca como o mundo que existe em mim; e se as palavras acabarem? Ainda não me faltaram, pois apesar de não me excercitar como deveria, mantenho meu léxico em sagrada forma para estar sempre pronto para ter o que dizer quando sentir a necessidade de uma discussão, um desabafo ou a menor frase sem sentido que for. Palavras são boas para tentar refletir quem somos, pelo que estamos vivendo e o que ainda esperamos dos dias por vir, para não deixar nos perdermos quando as coisas parecerem bagunçadas demais; é só reler o último capítulo que escrevemos, e partir dali.
Dizem que começamos a escrever nossa história desde o momento em que chegamos a este mundo, enquanto outros defendem que já existiamos antes mesmo de nascermos. Eu acredito que nos tornamos autores da história a partir do momento em que tomamos consciência dela e que decidimos que nós tomaremos as decisões que precisarem ser feitas, começando pela mais simples como: lapiseira, caneta, ou teclado? As palavras ainda vem a mim com mais rapidez do que eu consigo organizá-las em uma folha em branco, e quando estes insights acontecem a alegria de ainda ser capaz de editar minhas sentenças consegue ser indescritível. Talvez as palavras não me deixem tão cedo; parece que eu ainda tenho muito a dizer, e acho que estou só começando.
Ao som de: Unwritten - Natasha Bedingfield.
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