O inverno em Cascavel sempre traz consigo as mesmas coisas, pelo menos para mim. As blusas que ficam guardadas por meses no armário finalmente veem a luz do sol de novo, as caixas de remédios se empilham a medida que minha saúde luta para se adaptar à mudança de clima, mas o que geralmente também tende a acontecer é uma reflexão da minha parte sobre como tem sido o ano até agora. Eu achava que havia me tornado mais frio que o próprio inverno depois que doenças, mentiras e desilusões foram acabando comigo pouco a pouco, me ferindo tão profundamente que nem sequer conseguia derramar lágrimas, e de repente até me senti confortável ao usar preto, para honrar o luto pelos meus sonhos e todo o amor que eu havia lançado ao mundo com esperança de que pudesse se tornar muito mais do que eu poderia imaginar, mas não foi.
Gostamos de acreditar que apesar das coisas ruins que trazem uma nuvem negra sobre nossos melhores dias, não há nada do que não podemos nos recuperar e, quando a tempestade passar, ainda estaremos firmes e certos de que nós ficaremos bem. Mas às vezes precisamos de ajuda para nos levantarmos quando a vida nos joga reviravoltas e faz com que o chão debaixo dos nossos pés desabe, e quando parecer que não há ninguém em quem podemos confiar, o melhor a fazer é confiar em si mesmo, pois somente assim poderemos encontrar nosso caminho de volta para nós mesmos.
O ano tem sido bom; o frio do inverno já não parece tão assustador quando se compara ao gelo que pode se formar em nossas almas, e nos deixa insensíveis quanto aos outros. Sim, tive momentos ruins, mas não se comparam com as alegrias que encontrei ao fazer jus à promessa de surpreender a mim mesmo cada vez mais, nem que fosse apenas para ver aonde a vida me levaria. E aqui estou; a cidade ainda é a mesma, eu continuo inteiro, e incansavelmente em busca do amor pelo qual tudo todos os dias para encontrar.
É, está um pouco frio, mas eu vou ficar bem.
Ao som de: Rhapsody in Blue – George Gershwin.
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