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De volta ao básico

Eu tive um bom dia. Fiz minha caminhada matinal (PS. Nada como andar 10 km às 7h da manhã para acordar uma pessoa), ajudei minha irmãzinha com sua tarefa de inglês, produzi (quase) o máximo que pude no trabalho, fiz minha compra semanal com ajuda do meu pai, entreguei um presente de aniversário adiantado a uma nova amiga, e por fim vi tudo se completar quando uma velha amiga e eu nos reencontramos depois de muito tempo, apesar de nos vermos todos os dias.

Ultimamente eu me sentia perdido, sem direção e sem saber o que esperar do dia de amanhã – e para quem costumava viver apenas esperando pelo amanhã, isto é um grande problema. E ao ver o mundo que eu conhecia desabar, todos os meus padrões tornaram-se dolorosamente claros: correr atrás de um amor que não só não presta como também nunca se realizaria, prender-me a amizades que não só não vingam como também não me levariam a lugar algum, e permitir que minha angústia não só controlasse minhas decisões como também me engolisse por inteiro. E esta é exatamente a palavra chave: controle. Um coração dividido em tantas partes está programado para sua eventual autodestruição, e levará consigo seu dono sem que ele menos espere.

Para mim, perder o controle tornou-se claro quando meus sentimentos já não pareciam mais encaixarem-se em palavras; eu me tornei complicado demais até para mim mesmo. Por isso em vês de lutar para repetir padrões doentios, eu simplesmente parei e vi o mundo explodir ao meu redor. Como conseqüência eu fugi para bem longe com a vã esperança de que as coisas se resolvessem sozinhas, mas quando voltei os destroços ainda estavam aqui esperando por mim. No entanto, algo incrível aconteceu: ao romper meus padrões, parte de alguém que eu costumava ser – alguém menos complicado, mais compreensivo e totalmente estranho – ressurgiu em minha vida e lentamente começou a recolocar os pedaços no lugar. De repente eu estava fazendo coisas que me deixaram feliz de novo: pequenas coisas como caminhar para clarear as idéias, desenhar para dar vazão à criatividade, e sorrindo sem esconder nenhuma mágoa ou nenhum outro responsável por trás dele; apenas eu em toda a minha simples e pura estranheza.

E então, quando minha preocupação por não conseguir mais encontrar conforto nas palavras, elas voltaram a mim com a mesma facilidade de quando as redigi pela primeira vez para dar forma a tudo que parecia flutuar em mim sem nunca se encaixar. No fim do dia eu percebi que finalmente, depois de muito tentar escrever, acreditar e literalmente tentar chegar, eu estava de volta. Este é o primeiro dia do resto da minha vida; com muito ainda pela frente, e mal posso esperar. Aliás, vou ser feliz daqui em diante, e vou adorar.

Ao som de: You Haven’t Seen the Last of Me – Cher.

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