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Quando você se despediu...

Quando você se despediu, eu não disse “tchau”. Eu não desejei boa viagem, eu nem sequer emiti o menor sinal de que você aproveitasse o tempo que passaria por lá. Tudo que eu disse foi que ainda não tinha as palavras certas para explicar porque não pude dizer “tchau”, e ainda acho que não as tenho. Mas cinco dias já se passaram, e curiosamente eu sobrevivi. Você não viu meu desespero ao te ver partir, nem ouviu minha voz se contorcer enquanto eu sussurrava para mim mesmo a pergunta que viria a assombrar meus dias a partir de então... “O que eu vou fazer, sem você?

Eu gosto de ter você aqui, todo mundo sabe. Eu não queria que você fosse, todo mundo também sabe. Mas o que ninguém sabia, nem mesmo eu, era o quanto eu me tornei dependente do seu afeto, da sua companhia... De tudo. Você se tornou meu tudo, e eu nem me incomodei com isso provavelmente pela negação constante de que, eventualmente, chegaria um dia em que você não estaria ao meu lado. Subconscientemente, eu até penso que a razão de tudo isso pode ser medo de você simplesmente não voltar, por quaisquer sejam as razões, mas só de tentar me aprofundar na possibilidade... Não consigo. Você vai voltar, só não sei como vai ser.

Como vou enfrentar seu olhar, que com tanta facilidade consegue olhar dentro da minha alma e nunca me deixa mentir? Como vou defender minhas atitudes até então, se você em tão pouco tempo já me conhece de coração. E acho que esse é exatamente o problema; por conhecer tão bem meu coração, eu decidi dá-lo a você. Mesmo sob o alerta de que nada resultaria disso. Tudo que me restou foram sonhos, e talvez tenham sido eles que me levaram adiante com tudo isso. Ilusões tão perfeitamente ilustradas, que eu não pude recusar.

Às vezes eu acho que, pelo bem do meu coração, não deveríamos mais dividir risadas, compartilhar segredos e trocar olhares de qualquer natureza. A cada minuto que sou forçado a ficar aqui, sentado, longe de você, tento refletir sobre o que me dói mais; a distância física, ou a emocional. O fato de você não estar aqui agora, ou de que você nunca estará aqui pra sempre.

Talvez você tenha razão; quem sabe, eu não te ame igual eu penso que sinto. Mas, acima de tudo que eu tenho feito, dito e sentido ao longo destes eternos cinco dias, o sonho mais decorrente tem sido ver este amor se tornar real. Não sei o que o amanhã me reserva, mas em todo caso, não importa o que aconteça, eu não vou embora sem dizer “tchau”, e te desejar exatamente o mesmo bem que você me trouxe por estar aqui.

Ao som de: Without You – Mariah Carey.

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