Todo ano é a mesma coisa: cada dia que precede meu aniversário torna-se decisivo para que eu consiga juntar vitórias o suficiente para satisfazer o inventário da minha vida que eu sempre insisto em rever quando adiciono mais um número em minha idade.
Eu tenho vários motivos para estar feliz: tenho amigos inquestionavelmente insanos como eu, uma família excepcional que sempre faz com que eu me sinta parte deles, uma saúde que nunca se abala apesar dos meus inúmeros resfriados ao longo dos meses, o projeto de um livro e um sonho em andamento para ser realizado, notas ridiculamente altas que ainda não sei explicar como minha cognição às produziu, e uma cara de adulto eternamente jovem que às vezes parece que nunca vai crescer.
Mas uma parte de mim - a parte obsessivo-compulsiva por contradições e dramas mexicanos - ainda consegue tirar todo o contraste das coisas boas que tenho, e dar enfoque exatamente naquilo que ainda não tenho e que desesperadamente ainda sonho em alcançar, que por acaso também é o motivo que leva qualquer homem a realizar praticamente qualquer coisa: uma mulher especial, e um relacionamento maduro, estável e confortável o bastante para que ambos sintam que amam e estão sendo amados em troca.
Quase vinte anos, Igor, e nada a declarar sobre este departamento, não é? Eu sei, eu deveria me sentir feliz por todas as outras coisas, mas de que adianta felicidade se não há com quem compartilhar? E não me olhem com esta cara; algum tempo atrás, eu pensava que felicidade só era possível em uma vida a dois. Já evoluí um pouco. Mas tudo bem; dizem que ainda tenho muitos anos pela frente para encontrar alguém, me estressar com esse alguém, e ainda encontrar outra pessoa depois disto e assim por diante. E desta vez acho que estão certos, porque como eu já disse antes aqui, se estou escutando sertanejo universitário agora, então tudo é mesmo possível nessa vida.
Por mais progressista que nossa sociedade afirme ser, ainda há algumas conquistas que uma pessoa na casa dos vinte deve apresentar: uma casa própria, um emprego estável, e alguém para nos ouvir reclamar do trabalho quando chegamos em casa. E talvez seja por isso que eu sempre me incomodo durante os dias próximos ao meu aniversário, especialmente agora que minha adolescência encontrará seu fim oficial quando meus dezenove anos expirarem e o Igor 2.0 assumir a direção daqui pra frente.
Eu não tive muito para celebrar quando completei meus dezoito anos, mas definitivamente vou sentir saudade dos meus dezenove e tudo que fiz enquanto ainda era considerado um adolescente no limite da incoerência que ainda me era permitida. Mas acho que agora vou ter que crescer um pouco e mostrar pro mundo que me tornei um pouco mais maduro, um pouco mais responsável, e um pouco menos neurótico. Sabe, pra mostrar que aprendi mesmo alguma coisa depois de todos esses anos.
Ao som de: Unwell - Matchbox 20
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Algumas pessoas completam primaveras. Eu supero invernos.
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