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Quando chove, alaga

Uma das razões para eu ter aprendido a gostar tanto de Cascavel, apesar dos apesares, é que a cidade, assim como eu, tem uma tendência a exageros. É uma cidade de extremos, começando pelo clima: quando faz calor nós derretemos, quando chove as ruas alagam, quando faz frio nós congelamos e até mesmo quando o clima está agradável lá fora, sentimos falta de uma intensidade maior. E o mesmo vale para as emoções: quando gostamos ou desprezamos alguém, fazemos questão de que ele ou ela estejam cientes, e quando nos apaixonamos... Ah, quando nos apaixonamos...

Eu sou um discípulo da teoria de que uma coisa boa foi feita para ser aproveitada em excesso: por isso quando começo a assistir uma série, me interno no quarto até terminar a temporada, ou então quando faço um amigo novo, faço questão de que conversemos todos os dias para que possamos aprender cada vez mais um sobre o outro. E quando me apaixono... Ah, quando me apaixono. Talvez seja errado extremizar situações prazerosas, pois há sempre o risco de que elas se voltem contra você e percam sua atração; algumas até podem se tornar traumáticas se passarmos muito do limite.

Mas eu não sei viver sob controle, mediando minhas emoções e cuidando para que as coisas não passem do ponto. Minha emoções estão sempre à flor da pele, e por mais perigoso que pareça viver assim, não há como questionar exatamente o quanto isso faz eu me sentir vivo. Quando estou feliz, fico insuportável; quando estou triste, também. Quando dou risada, perco o fôlego; quando choro, a mundo desaba. Quando me inspiro, escrevo livros e quando desenho, pinto quadros. Quando estou doente, sinto que vou morrer, e quando coisas maravilhosas acontecem, sinto que estou no auge da minha vida, no auge da minha felicidade, e me recuso a me desculpar por isso.

Aprendi a viver no limite, sem enlouquecer por completo. Talvez faça parte da maturidade que vem com a idade, ou apenas um sinal de que estou lentamente deixando meu desespero adolescente para trás, e começando a me tornar gente grande. Responsável, elegante, sensato, e eternamente jovem de coração. Seja bem vinda, segunda idade.

Ao som de: The Edge of Glory - Lady Gaga.

***

Falando em exageros, feliz 400º post pra mim. Será que escrevo demais?

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