Mais tarde naquele dia, eu me peguei pensando em porque era tão difícil perceber o quanto eu conquistei em meros vinte anos de vida, enquanto passava a maior parte do tempo me martirizando por tudo aquilo que não consegui conquistar ainda, pelas oportunidades que deixei passar, e pelos sonhos que ainda julgo ser impossíveis de serem alcançados. Mas olhe ao seu redor, Igor; não consegue enxergar que tudo isso é seu, e foi você mesmo quem conseguiu? Claro, você teve ajuda e muita, e ainda precisa das pessoas para se manter bem e ainda bem por isso. Pessoas que precisam de pessoas são as mais sortudas do mundo, porque quem vive sozinho de nada adianta conseguir tudo que deseja se no fim não há ninguém para sorrir e dizer, "Parabéns". E eu não deveria me martirizar tanto, porque apesar das noites solitárias, eu ainda ganhos vários "Parabéns" todo dia pelas coisas que fiz e ainda faço por mim e pelos outros.
O que me mata mesmo é a ansiedade. O desespero incansável, intolerável e insuportável de querer as coisas no presente, em vês de parar para entender que esperar é inevitável. Não é a toa que nos envolvemos em filas de espera por aí, ou então somos forçados a matar tempo até chegar ao dia daquela festa, ou o dia do nosso aniversário, ou até mesmo o horário de sair de casa para ir à faculdade. E eu não sei esperar. Nunca soube, na verdade, e sofro com isso todos os dias em que me deparo com situações em que eu estou perto de conseguir tudo que desejo, e apenas o que me separa e cria distância entre meus dedos e meus sonhos é o maldito tempo. E assim como eu preciso das pessoas para me acalmar, todos repetem a mesma coisa para mim: "Não sofra por antecipação". Quando eu ainda morava no meu primeiro lar, minha mãe já repetia que "paciência é uma virtude" e "coisas boas vem para aqueles que sabem esperar". O irônico disso tudo é que, a essa altura da minha vida, eu já deveria ser um expert em esperar pelas coisas que quero. Mas acho que a graça da vida está em sempre descobrirmos que estamos errados, porque aquele momento fatídico em que nos distraímos para olhar para o lado ou para pensar em qualquer outra coisa aleatória no nosso mundo, aquele é o momento em que as coisas chegam de repente e nos pegam de surpresa. E aí ficamos com cara de bestas, sem saber como lidar com aquilo que tanto queríamos, e que tanto achávamos que estávamos prontos para receber. Ou é só comigo?
E justamente quando me peguei em um desses momentos, matando tempo para chegar à algum lugar e fazer qualquer outra coisa que me tirasse do tédio, eu comecei a pensar em como a vida faz sentido por nos deixar esperando. O que aconteceria se conseguíssemos tudo que queremos na hora em que queremos? Tudo bem que somos humanos e estamos fadados à insatisfação eterna; sempre haverá algo a mais para nos atrair, especialmente as coisas que não conseguimos depois de tentar uma vez ou duas – ou vinte. Mas se a vida nos trouxesse tudo hoje, o que sobraria para o amanhã? O que aconteceria com os nossos sonhos? Cairíamos em um novo desespero, com certeza; o desespero de encontrar tudo aquilo que procurávamos, de chegar aos lugares com os quais sonhávamos e... E é isso. Nossa vez de ter tudo finalmente chegaria, e o que sobraria para alimentar nossas almas? Nossas noites de sono seriam perdidamente tenebrosas, pois viraríamos de um lado para o outro na cama rezando em silêncio para perdermos alguma coisa, só para ter a emoção de correr atrás para recuperá-la novamente. Este é o segredo da vida, eu acho: lutar contra a frustração com toda a paciência que tivermos, enquanto a fila de espera para chegar à felicidade não anda. E as pessoas sempre me dizem isso, mas eu costumo estar ocupado em paranóia com minha ansiedade louca, que insiste em me fazer olhar com esperança para todos os lados só para ter certeza de que o amor não passará por mim sem me ver.
Mas é, Igor, as coisas demoram e não há nada que se possa fazer. Agora olhe em volta para tudo que conquistou e reflita: estava esperando por tudo isso, ou foram coisas que aconteceram enquanto você estava distraído com outras vontades? Então aquele seu sonho mais impossível ainda não se realizou... Que bom! Quanto mais estamos perdidos, mais temos a encontrar no futuro. Porque a graça da vida é a procura, a espera, o momento que precede a felicidade. É isso que mexe com as nossas almas e nos tira da cama de manhã. Quem diria? Eu estou me divertindo, e nem sei disso. Infelizmente eu descobri isso tarde demais, porque esse momento maravilhoso passou enquanto eu estava ocupado questionando o futuro. Porque coisas a gente compra, vende, aluga e empresta, mas tempo... Tempo que se foi, não volta. Quando seu final feliz chegar, tenho certeza que você estará mais preocupado com as partes do meio da história que você pulou e não prestou atenção. Que isso me sirva de lição; pare de olhar para trás e preste atenção ao que está por vir, antes que a fila ande e você não perceba, de novo.
Ao som de: I Still Haven't Found What I'm Looking for – U2.
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