Eu estava me preparando para ir pra cama quando a verdade – aquela mesma que bate na gente durante alguns devaneios sortudos ao longo do dia – me fez dar meia volta e me colocar de volta ao computador ou, mais especificamente, de frente para uma tela em branco que estava apenas esperando para que eu trouxesse à vida esta verdade. De qual verdade eu estou falando? Apenas do fato de que eu poderia estar muito, mas muito feliz neste exato momento, se não fosse por mim mesmo.
É engraçado repensar sobre como esse ano começou, repleto de promessas sobre "desafiar a gravidade", experimentar coisas novas e tentar ao máximo viver como eu jamais vivi antes, só para me ver assim, com os dois pés no chão e um lar semi-pronto para chamar de meu, e um sentimento inquietante dentro de mim de que, mesmo ainda em Novembro, parece que o ano já acabou e eu joguei a toalha para os dias que ainda nos restam. E foi aí que eu percebi: eu estive mesmo aí fora no mundo desafiando a gravidade por um tempo, mas o medo da queda livre me fez voltar correndo pra dentro de casa. Um pensamento que só confirmei ao relembrar os resquícios de vida que andei sentindo durante as raras ocasiões em que me permiti relacionar-me com outras pessoas, sentir outras sensações além das minhas próprias insanidades através de outros olhos, outros rostos, outros toques, e só então eu descobri porque estavam parecendo tão importantes para mim: porque eram fragmentos de uma vida que recém começou a ser construída, mas por medo de atingir as alturas, foi colocada em espera até que eu conseguisse superar esse medo de despencar lá de cima e dar de cara no chão tão forte que jamais seria capaz de levantar de novo.
É fácil ficar em casa esperando por dias melhores, porque não há risco de ver meus planos falharem, ou minhas fantasias despedaçarem-se, ou despencar em queda livre depois de descobrir que meus sonhos não eram fortes o bastante para me impedir de trombar com a realidade. Mas está na hora de sair de novo, Igor. O ano não acabou ainda, e está na hora de rever as pessoas que você cativou, os lugares novos que você conheceu, e recuperar todos os momentos, as risadas, as lágrimas e toda a adrenalina e ansiedade que acompanham a queda livre de simplesmente sair por aí e viver e deixar viver.
Por mais assustador que pareça não ter uma rede de proteção esperando por você caso as coisas dêem errado e você sofra um acidente, o risco não deve ser um motivo bom o bastante para te impedir de pular sem olhar para baixo. Porque desafiar a gravidade é exatamente isso: tentar coisas que você sempre achou que estavam além do seu limite, e ver o que acontece quando você ultrapassa a si mesmo. Não deixe que o tempo passe em vão, e use esses últimos dias de verão para viver tudo que ainda pode viver, dentro das suas capacidades e esperanças, enquanto seus amigos ainda estão por perto e as risadas estão só esperando para que você conte as piadas e as recolha por aí. Tente, arrisque, improvise, vibre, surpreenda-se... Viva.
Você já sabe a essa altura que mesmo que você caia lá de cima, existem pessoas dispostas a te ajudar a levantar não importa o quanto você se machuque, ou quanto tempo leve para que você consiga acreditar que pode sim ser tão feliz quanto pensa. Tudo que me resta então é continuar tentando, continuar sonhando e, bom, continuar vivendo. O medo da queda livre pode nos assustar tanto que nem percebemos que estamos infelizes no chão, enquanto poderíamos muito bem aproveitar aqueles momentos deliciosos de pânico e êxtase ao pairarmos no ar.
Ao som de: Free Fallin' – John Mayer.
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