Shakespeare escreveu uma vez sobre a inveja – esse sentimento que dilacera nossas almas ao nos fazer enxergar as pessoas e as coisas ao nosso redor como se fossem muito melhores do que nós e nossas conquistas, e distorce a maneira que costumávamos nos ver no espelho – como um "monstro de olhos verdes", e daí nasceu a associação de que ficamos "verdes de inveja" quando nos deparamos com alguém que possui o lar bem cuidado com o qual sempre sonhamos, ou a vida amorosa que sentimos tanta falta, ou até mesmo o tempo livre que você possui para se dedicar à arte e outras atividades significativas, enquanto tudo que conseguimos fazer é nos diminuir a medida que insistimos em nos comparar, e nos sentir mal por isso.
E assim como Shakespeare descreveu, essa maneira de enxergar as coisas vai aos poucos envenenando nossa alma e apodrecendo nosso coração, uma vez que tira o valor de tudo aquilo que já conquistamos um dia com muito esforço, e deteriora as relações que formamos com pessoas que continuam ao nosso lado mesmo depois de já terem descoberto nossas verdadeiras cores, e de nos perdoarem por isso também. Mas nem sempre esse monstro parte dos nossos próprios pensamentos; às vezes é alguém de fora que age contra nós, e faz questão de tentar provar que sua vida é melhor do que a nossa.
E assim o monstro de olhos verdes toma várias formas. Pode ser simbolizado por um velho amigo que se distanciou de você, e agora faz de tudo para mostrar que a perda foi sua. Às vezes é um colega de trabalho que não consegue suportar o seu talento, e se dedica a tentar sabotá-lo para recuperar o posto. E às vezes pode ser um amor errado que partiu o seu coração, mas que insiste em não ir embora porque ainda gosta de te ver sofrer por ela.
Sim, o monstro de olhos verdes está por toda parte e sempre à espreita; basta procurar nos cantos dos olhares das pessoas por perto, que já deram a entender que não querem o seu bem. Mas combater esses monstros é fácil; basta mostrar-se seguro o bastante com a sua felicidade, e logo eles se morderão tanto por isso que será demais para que possam suportar. No entanto, o monstro mais difícil de enfrentar é aquele que nasce dentro de nós e nos fere pouco a pouco, enquanto nós mesmos ainda nos permitimos sofrer por coisas fora do nosso alcance. E se não abrirmos bem os olhos para isso, é aí que corremos o risco de acabarmos totalmente cegos.
Ao som de: El Tango de Roxanne – Moulin Rouge.
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