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Enquanto rolarem as lágrimas...


Se tem uma coisa que eu aprendi depois de anos envolvido em relacionamentos imaginários, paixões inatingíveis e desafios que simplesmente não podiam ser ganhos, é que quando o inevitável acontece não tem como pular o sofrimento. Vai doer, mais cedo ou mais tarde, e não tem nada que você possa fazer a não ser aceitar o fato de que, nem que seja por cinco minutos do seu dia, você precisa abrir mão de ser forte e se permitir chorar por tudo aquilo que você tanto acreditava que poderia ser e não foi. Porque toda perda, não importa qual seja – grande ou pequena, real ou imaginária, sensata ou surreal – precisa de um período de luto. Toda morte precisa de uma aceitação, e todo amor que chega ao fim precisa ser sentido, para que possa renascer com outra pessoa.

Mas se tem uma coisa que eu ainda custo a aprender, é que ninguém vive só de dor e ninguém vive só de glórias. Você vai ter dias bons e dias ruins, com alguns mais ou menos entre eles porque é simplesmente assim que a vida funciona. Durante os bons, você vai querer suas pessoas favoritas por perto para compartilhar as risadas, e durante os ruins você vai precisar delas porque algo, ou alguém, ou seja lá o que, te fez chorar e não faz sentido guardar isto só para você. E as mesmas pessoas que estavam lá por você durante os dias bons, são exatamente as mesmas capazes de te levarem de volta para eles. Porque ninguém é inquebrável, e ninguém fica quebrado para sempre. E enquanto rolarem as lágrimas, você vai precisar de alguém do seu lado para dizer que não tem problema em se sentir mal por um tempo; pelo tempo que sentir que precisa se sentir mal, até as lágrimas secarem e você conseguir enxergar que a vida continua sim, com ou sem ela, e que isto não é o fim do mundo. É o fim do mundo que você queria, mas talvez não seja o mundo que você precisa. Pelo menos, não agora.

Porque é tão difícil para mim ultimamente aceitar que também preciso parar um pouco para chorar e aceitar o fato de que eu não quebrei, nem sou tão inquebrável quanto eu gostaria de pensar, eu não sei. Talvez seja porque eu gostaria de acreditar que sou melhor do que aquele homem que você deixou para trás, seja lá por quais razões que você tenha tido para isso. Certamente você teve um motivo, e é com isso que eu ainda não consigo conviver. Mas eu estou começando a ver a luz no fim do túnel, ou o começo da aceitação sobre o que te fez escolher seguir adiante sem mim. E eu chorei por isso; mais do que qualquer um – quer dizer, salvas as minhas pessoas favoritas – poderia imaginar que eu seria capaz de me mostrar vulnerável ultimamente. Porque eu decidi que preciso ser ao menos um pouco resistente, para conseguir ajudar outras pessoas ao meu redor e impedir que sofram e chorem pelos mesmos erros pelos quais eu passei. Só que tudo tem um limite, e seja bem vindo ao meu. Isto é, ao menos eu acho que cheguei ao meu limite. Senão, porque ainda estaria de pé, e ajudando todos que posso ao meu redor, mesmo enquanto minha dor ainda se recusa a ter fim?

Talvez eu não seja mesmo inquebrável, mas definitivamente não permaneço quebrado por muito tempo. Mesmo enquanto rolarem as lágrimas, e com toda a estranheza e a bagunça que compõem o meu ser, eu ainda sou capaz de exibir um sorriso bem mais verdadeiro do que o seu. E mais do que os meses que pareciam intermináveis enquanto eu me negava a sentir isto, foram os três dias que levei para ser capaz de colocar tudo isto em palavras e finalmente começar a enfrentar algo que parecia acabado... Só que nem um pouco. Senhoras e senhores, não deixem minhas risadas enganá-los. Eu preciso de ajuda.

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