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Mostrando postagens de agosto, 2013

Minha

( Oito meses atrás... )             Choveu todo dia. Fez frio também, quer dizer, quando não fez calor demais. O céu estava fechado, o tempo estava nublado, as pessoas sumiram e não havia movimento nas ruas. Não havia barulho também, a não ser pela agonia profunda e gritante que o silencio provocou dentro de mim e que fui obrigado a expor para o mundo em forma de pequenas lágrimas reprimidas e olhares distantes para o horizonte em que eu procurava por algo além das estrelas e a luz do luar. Era você que eu queria, mais do que as estrelas e o luar, ou o clima perfeito para sair de casa. A verdade é que está tudo bem; o clima, as pessoas nas ruas... A cidade não mudou; essa tempestade toda está acontecendo dentro de mim.             Começou na cabeça e choveu no coração, e pra não me afogar só o que me resta é colocar um pouco dessa água pra fora, entre vírgulas, frases e respingos de esperança que agora pulam dos meus olhos em busca de ajuda. Você não está aqui comigo e a vida

Psicodrama

             Nós somos psicólogos. Ok, tecnicamente não. Mas nós estamos tentando, e tem sido uma jornada e tanto que já dura quatro anos e já está prestes a terminar, ao contrário do que fazem parecer os inúmeros relatórios de estágio, preparações para o TCC e ansiedades crescentes a respeito do que fazer depois da formatura.             E não importa qual seja a sua ênfase, abordagem ou neurose em particular, em algum ponto ou outro – seja depois de uma dura orientação de estágio que nos deixou mais desorientados do que quando entramos, ou depois de perceber que quanto mais a gente escreve para o TCC mais parece que ele jamais ficará pronto, ou até mesmo conversando uns com os outros entre os corredores da faculdade e os horários apertados entre aulas para tomar um café ou um pouco de ar – todos nós acabamos pensando a mesma coisa: será que isso é mesmo para mim? Fiz a decisão certa? Serei um bom profissional? Talvez não teria sido mais fácil ter escutado meu pai e ter feito

As pequenas coisas

             Mais vezes do que eu deveria , eu fico dividido entre fazer o que eu acho que deveria ou o que eu realmente gostaria de fazer. O mesmo vale para pessoas: eu me divido entre as pessoas com quem eu posso contar de verdade, e os figurantes com os quais eu até gosto de passar tempo porque me divertem e nós ficamos bem em fotos, mas que definitivamente desaparecerão da minha vida em questão de alguns finais de semana.             Porque a sobriedade, além do desespero silencioso, a frustração e as crises de abstinência, despertou em mim também uma sede ainda maior do que por cerveja, mas pela profundidade das pessoas ao meu redor e as coisas que fazemos juntos. As conversas na sacada, os jantares antes da aula, as mensagens que trocamos para combinar de nos ver. As pequenas coisas que fazemos juntos de repente precisaram se tornar mais profundas do que um copo de cerveja para me satisfazer ultimamente, e nem tudo que antes me agradava agora desce tão redondo.            

Algo a mais

             Eu não quero um relacionamento.             Foram precisos quatro anos para perceber o que antes me parecia algo inacreditável, mas é a esse ponto em que chegamos. Eu não estou dizendo que eu jamais vou querer um relacionamento; só estou dizendo que hoje, aqui e agora, não é disso que eu preciso. Também não é como se houvessem outras grandes metas à minha frente apenas esperando para que eu tome uma atitude decente para alcançá-las, apesar de que a lista dos meus compromissos parece aumentar cada vez mais a medida em que as pilhas de tarefas a serem feitas no trabalho, relatórios a serem feitos na faculdade e roupas para passar em casa tendem a ocupar mais tempo do que eu esperava aguentar.             Mas eu estou aguentando e quando alguém me pergunta como andam as coisas, eu realmente não deveria mentir. Está tudo bem, sim. Não, nada de novo. Não, não estou saindo com ninguém? Por que? Agora você me pegou. Não há um motivo concreto na verdade. Eu ando tão atrasa

A síndrome do coração partido

             Depois de anos de decepções e desenganos , aconteceu que minhas suspeitas estavam certas. Que eu não estava exagerando quando dizia que quando se faz tudo por amor – ou qualquer outro sentimento peculiar que você por acaso goste de chamar de amor, na falta de algo real – e mesmo assim as coisas não dão certo, é possível que a angústia, a fatiga emocional, as mensagens de texto não-visualizadas, as coisas na sua casa que ficaram com o perfume dela e o mar de lágrimas que você mesmo cria e no qual quase se afoga possam ocasionar algo chamado “ cardiomiopatia Takotsubo ”, também conhecida como cardiomiopatia induzia por estresse ou – adivinha só! – síndrome do coração partido.             Eu sempre pensei que o preço por insistir em acordar pensando em você e fazer tudo o que eu pudesse para que você continuasse se sentindo feliz e confortável não seria nada mais caro do que alguns traumas, problemas com ansiedade e dificuldades em me relacionar com qualquer outra pessoa

Alienação afetiva

            Faz frio em Cascavel. Cinco graus, pra ser mais exato. E eu lembro do meu sofrimento durante o primeiro inverno que passei aqui como se fosse... Mentira, eu não lembro. Já faz quatro anos, quem se lembra dessas coisas? Quer dizer, eu costumava lembrar, assim como costumava sentir as coisas, as pessoas e a vida de uma maneira muito diferente. Com um grau de vulnerabilidade bem mais elevado, enquanto hoje parece que não passo mais dos cinco graus também.             Acontece que depois de quatro invernos em Cascavel – sem contar as geadas fora de época que atingiram o Oeste do estado e a região central do meu coração – eu me percebo agora quase tão frio quanto a cidade. E o pior: distorcidamente confortável com o frio. Capaz de enfrentar cinco graus de temperatura lá fora da mesma forma que encaro as coisas, as pessoas e a vida: com desdém, indiferença, incredulidade e no máximo duas blusas. Eu esfriei consideravelmente a medida que a cidade se afunda no gelo entre Julho

A garota do adeus

            Você gosta de mim. Você gosta da minha honestidade, gosta de mim porque sou sincero e não minto para você. Você gosta de mim porque eu não alimento o seu egoísmo, nem jogo os seus jogos, nem respeito as suas incoerências. Você gosta de mim porque eu sei lidar com os seus dramas, sei como enxugar suas lágrimas, e sei o que dizer para fazer você se sentir melhor. Você gosta de mim porque eu te faço chorar quando você precisa desabafar, mas é incapaz de admitir derrota, baixar as guardas e permitir que outra pessoa te veja vulnerável.             Você gosta de mim porque eu não digo o que você quer; eu digo o que você precisa ouvir, e mais ninguém te diz - nem você mesma, quando está sozinha e mal se atreve a pensar nisso. Você gosta de mim porque somos parecidos, e é exatamente por isso que você impõe limites para mim no seu coração.             Você gosta de mim, mas só até certo ponto. Você gosta de mim, mas pensa que não podemos ser mais nada além do que já somos,

Patriarcado

Se tem uma coisa que eu ouvi repetidamente a vida inteira, é o quanto eu sou igual a você. Particularmente falando, eu realmente nunca vi a semelhança. Nem no nariz, ou no jeito de olhar as horas no relógio, ou as camisas parecidas, ou os cabelos brancos precoces que herdamos do vovô. Para mim nós sempre fomos diferentes; você sempre foi rígido enquanto eu parecia mais relaxado, e em todos os sentidos possíveis. Você sempre deu o melhor de si, honrou seus compromissos, cumpriu seus horários. Sempre foi apaixonado pelo trabalho, pela importância da família, música boa e bebidas requintadas. Eu era um largado, um adolescente preguiçoso e gordo que nunca viu seu reflexo quando me olhava no espelho. Não me imaginava trabalhando, nem comprometido com horários ou causas muito nobres, e só via a família aos domingos quando era conveniente ou educadamente obrigado a comparecer aos almoços tradicionais que se alternavam entre as casas das tias e a do vovô. Eu definitivamente não era igual

Sinais de fumaça

             Eu não sei o que dizer. Logo eu que costumo ter um certo jeito com as palavras, já não sei mais como colocá-las em ordem de modo que expressem o que eu quero dizer, muito menos o que eu sinto agora. Eu não sei o que eu sinto. Não é cansaço dessa vez porque o dia foi bom, foi produtivo. Não é fome porque eu aboli este sentimento da minha vida depois das seis da tarde, pelo menos por um tempo. Não é saudade porque eu acredito agora que não vou perder ninguém das pessoas que realmente importam, e que vão continuar na minha vida na sobriedade e no alcoolismo até que a morte nos separe. Então até agora já eliminamos fadiga, gula e paranoia. O que resta?             Não, não é isso. Não pode ser isso. Nós já passamos disso. Nós já falamos sobre isso mil vezes e sabemos como acaba. E é por isso que nós não estamos falando sobre isso. Na verdade, é por isso que não estamos falando nada. E tem sido quase ótimo. Quase perfeito, porque por alguns instantes durante o dia eu me es

Tudo será como antes

            Eu nunca mais fui o mesmo depois que aprendi a precisar das pessoas. Depois que aprendi a deixar a porta de casa destrancada para que os amigos entrassem sem bater e a abrir a geladeira para ver se tinha cerveja antes de chegar até à minha cadeira cativa na sacada para me cumprimentar. E eu realmente me senti com muita sorte por isso; por ter pessoas na minha vida que não possuem absolutamente nenhuma necessidade de me cobrar ou dar satisfações, mas que querem compartilhar suas vidas comigo mesmo assim e que se importam quando eu, logo eu que falo demais, deixo algumas piadas óbvias passarem batidas porque não estou no clima.             Eu percebi que precisava das pessoas quando meus problemas deixaram de ter cara de problemas. Quando algo de ruim acontece, só o que eu consigo pensar é o melhor amigo que poderia me ajudar a lidar com isso ou, no meu caso, quando meu grupo de apoio pode se reunir para discutir o assunto. Eu percebi que não estava mais sozinho quand

A irmã mais nova

             Eu não me dou bem com crianças. Talvez isso seja em parte porque eu não gosto delas, nem sei ao certo como lidar com elas. É difícil pra mim lidar corretamente com um ser incapaz de reconhecer fraquezas, admitir erros e negociar acordos, apesar de que já encontrei bastante gente por aí que passou com honra ao mérito pela infância e mesmo assim não se tornaram os adultos mais razoáveis de se relacionar.             Mas apesar das criaturas sociavelmente consideradas como maduras com as quais eu ainda preciso tomar cuidado com o que eu falo ou faço perto delas, crianças são o meu ponto fraco. São choronas, carentes, mimadas, escandalosas e irritantes. E digo isso por experiência própria, porque eu fui uma dessas crianças – senão a pior delas – e até hoje ainda carrego comigo traços de traumas mal-resolvidos de infância sobre não ter conseguido aquele brinquedo ou não ter aprendido a andar de bicicleta ou a subir em uma árvore com sucesso. Mas antes dos traumas se in

A linha de chegada

             Muita coisa pode acontecer em quatro anos. Sonhos mudam, tendências vem e vão, prioridades são reavaliadas, e corações partidos podem voltar a bater de novo. Ou não.             Quem me conheceu há quatro anos talvez tenha percebido algo diferente em mim ultimamente. A capacidade de falar em voz alta , de ter atitudes mais firmes e paixões menos platônicas são algumas que poderiam ser comentadas. Mas o que realmente me surpreende é exatamente o caminho que eu percorri até aqui; as cem lágrimas de distância que, há quatro anos, eu costumava cantar que existiam entre mim e a felicidade. E o quanto eu costumava contar meus passos no começo até algo acontecer. Algo que eu não sei dizer de fato o que foi. Foi quando me apaixonei à primeira vista por você , sem nem ter trocado duas palavras com você para isso? Foi quando eu comecei a conversar mais com você , e da noite pro dia passei a vê-la com outros olhos? Ou talvez tenha sido quando você foi embora e me quebrou