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Mostrando postagens de novembro, 2013

Pequeno Marcio, grande Igor

         Um dia desses eu resolvi criar vergonha na cara e fazer a barba, e tive uma surpresa. Quando o meu desmatamento facial terminou, já não era mais o meu resto que eu via no espelho. Era o seu. Depois de anos deixando a barba crescer pra facilitar o discernimento das pessoas entre eu e você, eu descobri que não adiantava nada. Nós somos iguais. O que não deveria me surpreender tanto, se tudo o que eu realmente precisava fazer não era nem fazer a barba e me rever no espelho, mas só olhar para você entre um sermão e outro, para perceber exatamente quem eu sou. Nós brigamos o tempo todo. É assim que as pessoas nos veem, e às vezes é assim que eu mesmo me sinto quando falam de nós. Somos teimosos, impacientes, grosseiros, passionais, exagerados, sarcásticos e criticamente destrutivos. E não só um com o outro, mas com quem ousar nos desafiar, achando que sabe mais do que nós. Isto também explica porque não existe um consenso entre nós exceto quando cada um sai andando pra um la

Os 5 estágios do Roacutan

            Olá. Meu nome é Igor Costa Moresca e eu não sou um alcoólatra. Muito pelo contrário, sou um apreciador, um namorador, um profissional em se tratando de bebidas. Sem preconceito, horário ou frescura com absolutamente nenhuma delas, acredito que existe sim o paraíso, e acredito que o harém particular que está reservado para mim certamente tem open bar. Já tive bebidas de todas as cores, de várias idades, de muitos amores, assim como todas as ressacas que eram possíveis de se tirar delas. Mas todo esse amor, essa dedicação e essas dores de cabeça há muito deixaram de fazer parte do meu dia a dia, tudo por uma causa maior. Até mesmo maior do que churrascos de aniversário, camarotes com bebida liberada e brindes à meia noite depois de um dia difícil. Maior do que o meu gosto pelos drinques, coquetéis e chopes, eu optei por mergulhar de cabeça numa tentativa de aprimorar a mim mesmo, em vês de continuar me afogando na mesmisse da minha melancolia existencial.            

Um pouco mais de segurança

             Eu acho engraçado reparar que o quanto mais fantástica é a pessoa que hoje faz parte da minha vida, mais irônica é a história de como isso aconteceu. E você e eu não somos exceção. Pelo contrário. Se eu parar pra pensar nas pessoas que eu jamais esperava conhecer, não por alguma falta de afinidade, mas por desencontros de oportunidade, é provável que a nossa história seja a mais infame. O que automaticamente faria dela a melhor.             E qual é a história, afinal? O ano foi 2012. O lugar foi uma cervejada ensolarada nos arredores de Cascavel. Eu não estava muito acostumado com aglomerações alopradas e alcoolismo liberado em plena luz do dia, acompanhados das trilhas sonoras mais ridiculamente aleatórias possíveis, mas diante das opções disponíveis para aquele fim de semana, era o que restava. Eu estava usando uma camiseta preta com um pequeno símbolo indescritível de uma marca desconhecida, quando eu e meus amigos encontramos nossos outros conhecidos, ao redor

A crise dos quatro anos

            Foi o ano mais ou menos. Não é só disso que eu vou me lembrar, mas acho que aqui e agora, é a melhor definição que eu poderia dar. Diziam que seria o ano mais difícil. O ano em que realmente descobriríamos exatamente o que estamos fazendo aqui, o que queremos disso tudo, e o que vamos fazer com isso. Pois mentiram, porque eu ainda não sei.             Eu sei que estou cansado. Meu Deus, como estou cansado! Cansado de levar bolos de pacientes, de fazer relatórios na clínica, de entregar trabalhos que não substituem provas, de obrigar meu corpo a assistir aulas porque a mente ficou em casa... Cansado de emprestar livros na biblioteca pra usar no relatório, no projeto, no TCC. TCC... TCC é algo que não me assustava tanto assim. Provavelmente porque, assim como o real tamanho da faculdade (que eu ainda não conheço por inteira) e a profundidade da psique humana, eu não tinha muita noção do quanto se tratava de um trabalho tão grande. Horas e horas de escrita, revisão, esc

Relacionamentos imaginários III

            Eu desisto . Como se as pessoas já não fossem difíceis o bastante de se entender em seu habitat natural, com suas coisas, suas neuroses, seus problemas, seus parentes e suas contas pra pagar, conceber a união entre dois seres igualmente disfuncionais e provavelmente semelhantes em seus desajustes e incoerências é demais pra mim. Talvez esteja cedo demais na minha vida para decretar uma opinião concreta sobre isto, muito menos duradoura ou perpétua, mas eu cansei. E não é porque eu não tenho nada de mais acontecendo na minha vida ultimamente a não ser pelas provas do último bimestre, os currículos que estou entregando por aí pra tentar colocar toda a psicologia que eu aprendi nos últimos quatro anos em prática, e a perna machucada que está começando a querer me motivar a andar sozinho de novo, porque tudo isso não deixa de ser importante e consumidor também. Mas eu desisto. Eu cansei. Existem vezes em que eu ainda consigo quase assimilar o sentido que algumas pessoas atr

O dia seguinte

              A verdade é que nós morremos um pouco todos os dias, de um jeito ou de outro. Nos só não pensamos muito nisso porque, bem, não dá tempo. Entre tentar lembrar de tudo que você precisa comprar no mercado quando sair do trabalho e passar por lá pra ir pra casa, pra depois sentar em frente ao computador e tentar se concentrar para fazer um trabalho ou terminar aquele relatório de estágio, e ainda retornar a ligação da sua mãe que você não ouviu porque o trânsito estava muito barulhento, sem esquecer de avisar os seus amigos de que você já chegou em casa e dali meia hora eles já podem passar pra te buscar para vocês saírem... É, não dá tempo. E mesmo que dê tempo, ninguém realmente considera isto como algo tão sólido quanto a louça suja ou a roupa pra passar. Nós sabemos que vai acabar, uma hora ou outra, mas não temos muita noção quanto a fato de que pode ser amanhã, ou de que poderia ter sido Segunda-Feira.             Mas nós ficamos doentes e elaboramos lutos todos

Boa sorte

Pra quem não viu: CATVE - Pedestre é atingido por telha de amianto no calçadão CGN - Telha voa e atinge pedestre na região central             ***             Eu sofri um acidente. Sabe aqueles dias em que você acorda e tem certeza de que vai ser só mais uma rotina corrida e atarefada? Com trabalhos à fazer, provas pra estudar, consultas pra ir, compromissos pra zelar e, por que não?, roupa pra passar. E entre uma coisa e outra, eu estava andando pela rua quando aconteceu. Caiu uma telha em mim. É, uma telha. De amianto. Maior do que eu, mais pesada do que eu, aterrissou na minha cabeça e me deixou no chão no meio do calçadão de Cascavel em plena tarde de Segunda-Feira. É. Pra variar, não ia ser um dia normal.             Fui socorrido por pedestres que pareciam estar mais apavorados do que eu. “ Moço, você precisa que a gente chame uma ambulância? ”. Meu instinto natural de autosobrevivencia contra a vergonha daquilo tudo era maior do que o meu físico, mas minh

Fora da bolha

             Certifique-se de que seu amor pode sobreviver fora da bolha que ele mesmo cria. Para alguém como eu, que ultimamente tem se preocupado muito mais com o trabalho, a faculdade ou a louça suja pra lavar que nunca acaba, falar de amor parece tão... Vazio. Não é mais a falta agonizante e desesperadora de alguém para amar que me aflige. Longe disso. Também não é a aparente incapacidade de adotar as neuroses de outra pessoa para juntá-las com as minhas e, a partir disso, preencher o tédio existencial e o lado vazio da cama em um Sábado à noite com algo acolhedor, inspirador, afrodisíaco e igualmente desafiador como um relacionamento. E poderíamos criar felicidade disso.             Confesso que já vi casais por aí que parecem dar conta do recado. Que enfrentam as tempestades dos mal-entendidos, os devaneios dos silêncios agravantes e os telefonemas que acabam abruptamente porque um não gostou do que ouviu e decidiu desligar o outro. Nada disso me incomoda agora, porque mes

O método Moresca

Um dom e uma maldição. É isso que nós costumamos dizer. Quer dizer, é isso que nós costumamos gritar. Nós falamos alto, não necessariamente para chamar a atenção, porque ela vem até nós de um jeito ou de outro. Na verdade, talvez não haja um motivo certo. Falamos alto porque falamos alto, e chamamos a atenção porque chamamos a atenção, ponto. E somos habilidosos, criativos, ridiculamente carismáticos e intensos ao mesmo tempo. Quem costuma chegar perto de nós, jura que nunca viu nada igual. Nunca conheceu ninguém igual. Mas as probabilidades de se ferirem também são grandes. Somos insaciáveis, loucos por conhecer cada vez mais sobre esse mundo que nos cerca e as pessoas que nos rodeiam. Tudo isso enquanto ainda tomamos todo o cuidado para não nos perdermos no próprio mundo que criamos, que existe dentro de nós e que, se não nos apoiarmos em algo ou alguém tão forte o bastante, pode acabar nos engolindo de dentro pra fora. Mencionei que também somos estranhos?             Estranh

O show deve terminar

            Depois de anos de decepções e lágrimas derramadas sem alguma justificativa realmente plausível para a sua falta de caráter e piedade, era de se esperar que eu não me importasse mais com você. Muito menos, pensasse em você quando sequer te encontro no meu caminho. Mas não. Talvez a triste e aterrorizadora verdade seja que eu gosto mesmo é de sofrer. Não necessariamente por você, mas por algum instinto de sadomasoquismo natural que se sobrepõe completamente sobre minha necessidade de garantir minha autossobrevivência, senão por motivos que estão mais aprofundados na distorção da minha psique do que eu sou capaz de imaginar, mas - e infelizmente preciso admitir minha superficialidade nem-tão-encoberta aqui - simplesmente porque você é bonita de se ver.             Porque seu olhar cativante não entrega a rispidez das suas verdadeiras intenções, tampouco confessa a exata realidade dos seus pensamentos. Só não há como negar mesmo o quanto você é bonita. E indiscutivelment