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Mostrando postagens de março, 2014

O mau ano

Meu pai me disse uma vez que sua vida era matar um leão por dia. Eu, sendo a criança autodidata em mal-criação e sarcasmo que sempre fui, não botei muita fé nisso, e desmereci completamente sua teoria sobre a vida ser difícil porque, convenhamos, a minha não era. Felizmente ou infelizmente, eu cresci e aprendi um pouco mais sobre esse universo caótico, aleatório e ridiculamente irônico que a gente chama de vida, e aonde a gente faz o máximo que pode dentro das poucas horas que nos mantemos acordados (por mais que a gente também durma pouco) para continuarmos vivos.    Porque, ao contrário do que eu sempre imaginei, a vida é mesmo matar um leão por dia. Ou dois, ou três, dependendo do quanto você é importante ou essencial para a sobrevivência de outras pessoas também. Como no caso do meu pai, que tem uma família para sustentar e negócios que dependem inteiramente dele para continuarem funcionando. Dependem tanto que quando finalmente abri meus olhos para querer tentar entender por

Os três dias do condor

    Eu reconheço que errei. Admito que essas coisas levam tempo, paciência, trabalho... Entendo que nada muda de um dia pro outro, talvez nem de uma semana pra outra, e, quem sabe, nem de um mês pra outro. Considero que não me preocupei totalmente à toa, porque para toda exaustão emocional sempre há um componente essencial para originar a combustão. Nesse caso, calhou que o componente foi só ficar pensando por dias, semanas e meses a fio sobre o que fazer com todo o resto da minha vida.    O que só serviu para comprovar minha tese de que não dá pra passar tanto tempo assim pensando na vida, especialmente quando se tem só 22 anos, ainda diante de todas as possibilidades do mundo. Eu posso ser o que eu quiser. Posso sim. Tanto posso continuar seguindo em frente, como posso jogar tudo pro alto e dar a meia-volta nessa vida e acelerar na contramão só para causar um acidente do qual eu jamais me recuperaria. Ou eu posso acelerar e sair da estrada, para dirigir no mato e na terra pelo

A camiseta básica

   Você já teve a sensação de que todas as escolhas que já fez na vida foram as erradas? Já? Então senta aqui, vamos conversar.   Antes de qualquer coisa, preciso confessar que não sou egocêntrico. Quer dizer, não sou tão egocêntrico assim. Mas desde que me conheço por gente, sempre tive essa mania de observar as pessoas, as coisas e tudo mais que acontece por aí, e sem querer acabo vendo um pouco de mim ali. E sinceramente não acho que isso seja de todo ruim, nem de toda originalidade. Porque de acordo com algumas matérias que ando tentando copiar em sala, geralmente o que nos atraí à pessoas e coisas são pequenos fragmentos nossos que vemos refletidos nelas. Logo, as pessoas e as coisas que fazem parte da nossa vida invariavelmente tem a nossa cara, e se tornam uma extensão de quem a gente é. E foi isso que me animou da crise que começou com uma coisa qualquer: uma camiseta básica cinza que comprei por menos dinheiro do que ela valia, mas que vinha acompanhada de outra camiset

A marcha ré emocional

   Dessa vez tudo começou mesmo com a marcha ré. Com a maldita marcha ré e aquela aula da auto-escola em que acabou aquela história de deixar que o instrutor leve o carro do ponto A para o ponto B, longe da civilização apressada e inconsequente para os confins dos bairros mais tranquilos e – curiosamente – recheados de placas de “Pare” a cada esquina. Mas naquela aula, não. Naquela aula me deram as chaves de um carro e me disseram pela primeira vez, “ Quer sair dirigindo daqui? ”. “Olha, querer querer mesmo eu quero. Mas acho que é mais uma questão de conseguir do que querer...” Aconteceu que aquela instrutora em particular não queria saber nem de “ querer ” nem de “ conseguir ” nada, e despreocupadamente entrou no carro no lado do passageiro. Ok, Deus, e agora? Fecho os olhos, e Você vai me guiando? Ou só coloco a chave na ignição e simplesmente tento? Levando em conta o olhar que a instrutora me deu, optei pela segunda opção.   Aconteceu, também, que eu não estava em um dia

O fardo do tempo livre

   Ninguém deveria parar para pensar na vida quando se tem só 22 anos. Mas não me entenda errado. Eu não quero dizer que jovens de 22 anos ainda não tiveram vida o suficiente para ser refletida, ou para sentir remorso, arrependimentos... Ou inclusive para ter crises. Mas naquele Sábado à noite, que não tinha nada de especial caso fosse possível tirar um extrato dessa vida da qual estou falando, onde seria possível grifar mais vezes do que deveria todas as outras noites que já passei dessa maneira. Com as mãos no teclado, uma cerveja aberta do lado, e uma dose irremediável de perdição latejando na minha cabeça. E é por isso que eu escrevo. Não vai resolver muita coisa, tudo bem, e certamente não vai fazer com que todos os meus problemas desapareçam. Mas na falta de um terapeuta 24 horas, ou de amigos disponíveis para desabafos em um feriado prolongado de Carnaval, a carnificina emocional iminente que atingirá uma inocente página branca do Word com os meus problemas é o que me resta