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A história da minha vida


   Esta é a minha última tentativa de descrever o que eu realmente quero dizer sobre músicas com letras diferentes das que a minha mãe pensava, planos que eu tinha em mente quando me mudei para cá que acabaram tomando rumos completamente diferentes, e canastras que foram formadas a partir de uma mão que não era a que eu esperava, mas que era o único jogo que eu fui capaz de formar. O que eu venho tentando dizer já faz alguns posts, é que a minha vida não tem me levado ao caminho que eu sempre pensei que ela iria me levar. Não. Pelo contrário. Aonde eu vim parar não é nem remotamente perto da onde eu cogitei que fosse o que poderia acontecer. Mas isso não necessariamente torna o caminho que eu ando seguindo, algo ruim. Só o torna algo... Diferente. E, definitivamente, é aí que mora o problema. Até quando você vai esperar que a sua vida seja tudo aquilo que você pensou que ela seria, hein Igor? Porque não vai ser. E aqui não entram variáveis como atitudes, oportunidades ou – devo até arriscar dizer – destino. Ela só segue o caminho que pode seguir, como um rio cuja correnteza possui uma única direção. Talvez não tenha tido a mais perfeita nascente, mas também não significa que irá encontrar sem fim em um penhasco em forma de catarata, que destrói seus navegantes em sua base de rochas e profunda imensidão. A essa altura eu já construí uma série de metáforas, e ainda nem passei do rascunho do primeiro parágrafo. E, adivinhe só, eu ainda não consegui dizer o que eu quero dizer.
   O que eu quero dizer, é que depois de ouvir músicas cujas melodias não eram nada daquilo que eu imaginava, e depois de ver filmes cuja história desviou-se do fim que eu imaginei que ela teria, e depois de confrontar uma vida cujo percurso não mostrou-se ser nada daquilo que eu havia pensado que seria, chegou a hora de admitir que eu não possuo todo o controle que eu gosto de pensar que possuo sobre o meu destino. Não aquele destino todo poderoso e misterioso que, teoricamente, rege os meus comportamentos e o desdobramento deles no contexto do universo além do meu umbigo, mas sobre o meu próprio fim. Porque tudo acaba; empregos, amizades, relacionamentos, faculdades, e até mesmo a vida. É claro que eu estou exagerando aqui, mas só porque é algo em que eu sou muito bom em fazer, salvo descrever devaneios irracionais e preocupações sem fundamento sobre a vida. E caso você não seja um leitor de primeira viagem, a ironia deste novo parágrafo não irá te surpreender.
   Talvez seja isso mesmo que eu precise: que a vida me surpreenda, mas de um jeito bom. Depois de ter percorrido metade de 2014, eu acho que finalmente entendi qual é a lição que eu preciso aprender com este ano: aprender que a vida jamais será do jeito que eu quero que ela seja, mas apenas do jeito que ela poder ser. Dentro de todas as suas limitações e possibilidades, e que isto pode até não ser do meu agrado, mas como já diziam os populares, “é o que tem pra hoje”. O problema é que a noção de limite sempre me incomodou. Admitir que todas as possibilidades, todos os sonhos do mundo, na verdade não estão ao meu alcance é algo realmente doloroso para que eu admita em voz alta. A não ser que seja a última coisa que eu possa fazer, antes de admitir derrota perante o universo como eu o reconheço.  Só para ter a surpresa de que – uau! – a vida não é como eu a percebo. Não. É um pouco pior. Mas isso também não significa que ela não vale a pena. Só significa que eu talvez eu não vá parar aonde eu sempre imaginei que iria. A diferença aqui é que as atitudes contam um pouco mais do que antes. Por mais que a minha concepção de destino permaneça imutável, o caminho que eu irei trilhar para chegar até ele pode mudar, bem como as pessoas, os lugares e as oportunidades que eu poderei conhecer através dele. E aí só depende de mim querer seguir em frente por uma nova direção, e de sentir-se disposto o bastante para enfrentar uma vida cuja qual eu não me preparei, mas que essencialmente eu sempre acreditei que iria ficar bem.
   Talvez seja a madrugada que eu já adentrei, o medo que sempre me contrai, ou a garrafa de vinho que eu tomei, mas há algo em mim agora que está começando a parecer uma luz na fim de um túnel. Um túnel que tem sido honestamente, loucamente e profundamente longo de se percorrer, mas que apesar de todos os apesares, pode finalmente me levar de volta à luz. A luz da realidade, que arde um pouco mais do que o mundo de fantasia em que eu sempre lutei para me prender, mas que tem o benefício de ser mais verdadeiro e bem menos abstrato. Porque a negação só te levará até parte do caminho; depois disso você estará a mercê de uma faísca na escuridão. Quando você finalmente aceitar o que a sua vida é, do que ela é e não é capaz, e até onde você pode ir através dela, é aí que as coisas começam a ser um pouco menos assustadoras, e a ter um pouco mais de valor a medida em que você as conquista.
   A verdade é que eu deveria beber menos. E pensar antes de falar. E sorrir mais, publicamente, e chorar menos escondido. Planejar mais do que imaginar. Agir mais do que sonhar. Me impor mais do que esperar pela minha vez. Viver mais do que escrever bêbado de madrugada. Eu não sei. Às vezes a vida parece um presente tão grande, uma graça tão imensa, que eu não me sinto capaz de aproveita-la em sua plenitude. Uma parte parece sempre se perder no tempo, e talvez seja justamente a parte em que eu seriamente me prendo para buscar um significado, até que o todo pareça infame. O lado bom das divagações embriagadas das madrugadas de insônia, é que elas podem te ajudar a abrir melhor os olhos na manhã seguinte. O lado ruim é que, se você não tomar cuidado, pode passar o resto da vida em um coma de sonhos e planos que jamais tomarão forma. Porque por mais que seja bom sonhar até as duas horas da tarde, isto ainda não supera a sensação de acordar às sete da manhã e se deparar de um dia cheio e cansativo pela frente, mas que jamais dará a impressão de que foi inútil acordar cedo.
Enfim, filosofias à parte, é nisto que dá ter muito tempo livre e pouco o que fazer com ele. Claro que eu saio, bebo, vivo e dou risada. Mas depois disso, eu ainda preciso de um pouco de disciplina para dar forma à minha irracionalidade. Apesar dos insights, eu estaria fatalmente perdido sem uma rotina.

   Deus abençoe o meu superego.

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