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Mostrando postagens de junho, 2015

O aviso prévio

Nem tudo acaba. Um dia eu ainda vou aprender, de uma vez por todas, que as coisas são menos definitivas do que eu acredito que elas sejam. Que os objetos na visão do retrovisor podem aparecer maiores e mais significantes do que eles realmente são. E que, incrivelmente, nem tudo acaba. As coisas só... Mudam. E eu já tive tantas oportunidades de me permitir aprender isso. Mas parece que quanto mais algo está diante de mim, mais eu procuro por outra interpretação. No mínimo, este é alguém que não gosta de ser contrariado, dado que o que está em sua frente não lhe agradou muito e outro significado precisava ser encontrado. Ou, no máximo, este é alguém que não sabe deixar a vida ser... Simples. Leve. Flutuante. O ano mal passou da metade, mas a quantidade de desfechos que eu já carrego comigo parecia ser demais para ser verdade. Claro que nem tudo são epitáfios; muita coisa também começou. Mesmo sendo conhecido por deixar coisas boas passarem reto por mim, outras acabaram ficand

Terminar é normal

ELA: Um dia eu vou morar aqui... EU: Pff. Ah, vai... E foi assim que começou. *** Alguns anos depois, ela me disse que tinha uma entrevista para ir. Uma vaga de estágio imperdível, e que precisava de pouso. E é claro que ela podia ficar aqui; a entrevista era bem cedo, e pra quem pegava o ônibus de volta para outra cidade todas as noites após a faculdade, seria muito mais fácil já estar por aqui. E ela ficou. *** Quando ela conseguiu aquela vaga, me mandou uma mensagem perguntando se poderia ficar aqui por alguns dias. Duas semanas no máximo, só até encontrar um apartamento. E por um momento eu senti um aperto: seria pedir demais da minha já demasiada zona de conforto. Um abuso da minha boa vontade, da minha privacidade preguiçosa, e da minha rotina solitária com a qual eu aprendi a lidar com o passar dos anos. Mas seriam só duas semanas, Igor. Que motivos você tem para dizer “ não ”, realmente? É claro que você pode ficar aqui. *** (Um mês depois)

A zona de conforto

Existe uma diferença bastante suave entre estabilidade e estagnação. Tal diferença que eu só fui capaz de compreender mesmo quando finalmente me peguei preso entre as duas coisas – e me sentindo perdido ao mesmo tempo. Eu entendo que as coisas acabam. Repeti isto incansavelmente até que todas as coisas, bom, acabaram de fato. E assisti os rostos pelos quais eu passava diariamente se dispersarem nas multidões do mundo afora, enquanto nossas lembranças se espatifaram no chão a medida em que cada um de nós decidiu trilhar um caminho diferente após o apocalipse de luz e fúria chamado de formatura pelo qual nós esperamos por tantos anos, e pagamos tantas parcelas de carnês, só para descobrir que estávamos mesmo mais desprevenidos do que poderíamos imaginar. Quanto a mim, a minha imaginação só conseguiu ir até a definição de qual música eu escolheria para tocar na minha entrada para a festa. Algo épico, grandioso, lendário. E, por conseqüência, definitivo. Até aí eu já escrevi basta

Mais do que palavras

Às vezes eu acho que escrevo mais do que deveria. Não me entenda errado; eu falo bem mais do que eu deveria também, mas com a escrita é diferente. A escrita envolve pensamento, planejamento... Não pode derramar algo em um papel simplesmente sem filtrar nada daquilo antes. Você optou por aquela letra, aquela palavra, aquela frase... O que torna a experiência definitivamente mais significativa e, por isso mesmo, mais perigosa. E eu escrevo demais, sempre escrevi, mas não consigo me imaginar vivendo de qualquer outro jeito. Prefiro ter arrependimentos em forma de vírgulas e dois-pontos, do que morrer engasgado com um ponto final fatal que poderia ter salvo a minha vida caso eu decidisse admiti-lo não só em voz alta, mas em tinta também. Ou em manuscritos virtuais, já que é assim que a vida tem funcionado ultimamente. Foi exatamente este perigo, este risco constante de ser pego desprevenido enquanto transcrevia o que deveria ser apenas mais um período em uma composição ordinária, e

O melhor de você

O que é intimidade? É o que separa os colegas dos amigos, e o que diferencia amigos de irmãos que você escolheu para si. E pra ser bem sincero, tudo que vem com isso é muito bom. A facilidade com a qual eu jogo minha chave pela janela porque estou com preguiça de ensinar a eles como funciona o interfone problemático do meu prédio e já deixo a porta aberta para entrarem, é a mesma que eu tenho para dizer a eles quando algo está errado. Na verdade eu nem preciso dizer nada, porque um silêncio inesperado, um olhar torto, uma piada que eu engoli em seco e às vezes até mesmo uma vírgula fora do lugar (ou uma ausência de qualquer palavra que me ajude a expressar o que está acontecendo) já servem para me delatar e para pedir ajuda a eles por mim. Pensando bem talvez eu não tenha tanta dificuldade assim em pedir ajuda, porque em se tratando de amigos e pessoas ao meu redor para me socorrerem em momentos difíceis, eu ando muito bem acompanhado. O problema em dar intimidade para que as pe

Precisamos conversar

                 Estas provavelmente são as duas palavras mais assustadoras que uma pessoa pode ouvir. Porque você “ precisa ” falar comigo? Em vês de só conversar, livremente e arbitrariamente, você “ precisa ” falar comigo? O que foi que eu fiz? Já estava assim quando eu cheguei. Você deve ter entendido errado. Não foi aquilo que eu quis dizer. Ou foi, não sei, mas talvez eu tenha dito com a entonação errada. É isso, você não me ouviu direito. Ou eu disse errado. Ou eu fiz errado. Ou eu não fiz nada, e você esperava que eu tivesse feito. O que você quer afinal? Me diga agora! Não deixe para depois o castigo que você quer me dar agora. Por que tem que ser pessoalmente? Por que algo tem que ser dito afinal?! Eu achei que estava tudo bem. O que está acontecendo?!                 O que aconteceu foi que as pessoas não conversam mais, vide a necessidade de pedir a você que precisamos tirar um tempo das nossas vidas ocupadas, nossos compromissos inadiáveis e nossas outras mil pessoa

Meu já famoso desabafo infame

De todas as coisas que eu já fui capaz de escrever um dia, as marcações que mais se destacam são as frases batidas sobre sonhos e esperanças. Eu sempre gostei muito de ter um lado puxado para a poesia, mesmo que estivesse abastecido por egocentrismo e paranóia. É um lado que eu curti muito, e que me ajudou a superar varias das fases difíceis que eu tive na vida ao longo dos seis anos que já se passaram desde que eu decidi morar sozinho. E muito mais até, depois que eu aprendi a diferenciar o que era morar sozinho de viver sozinho – e a, irremediavelmente, optar por abrir mão do meu status quo. Porque eventualmente, queira ou não, você aprende que estar sozinho é muito bom sim, mas que isto só te leva até certo ponto. Eventualmente você vai precisar de outra pessoa com quem se possa trocar idéias e debater pontos de vista diferentes – ou, no mínimo, alguém com quem você possa brindar. Mas à medida em que eu vivo e trabalho para manter o meu ego em cheque e as contas do meu aparta