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Mostrando postagens de janeiro, 2017

Chuvas de verão

Janeiro é um mês estranho. É o prólogo de um ano novo enfim em prática, e ao mesmo tempo o período em que absolutamente nada parece acontecer. Entre os recessos legislativos e a crença popular de que o país só volta mesmo a colocar seus protocolos em dia após o Carnaval, só nos resta a decadência das nossas resoluções sobre emagrecer, o tédio existencial e as chuvas de verão. E se você me perguntar qual desses é o pior, sem dúvida são as chuvas. Hoje mesmo, durante aquela longa estrada da vida entre a saída do trabalho e a tradicional parada no mercado para descobrir qual refeição congelada me aquecerá no jantar, ela caiu. Nem forte o suficiente para que abrir um guarda-chuva se faça coerente – se você por acaso estiver com um – nem fraca o bastante para te poupar de parecer encharcado e triste para outros membros motorizados da sociedade que passam por você nos cruzamentos. E como pouca desgraça não existe, uma música triste tocava nos meus fones de ouvido que não podiam ser g

A crise dos sete meses

Relacionamentos duradouros não são o meu forte. De nenhuma natureza. Foi a essa conclusão que eu cheguei, depois de passar um tempo considerável pensando sobre porque algumas coisas na minha vida, ironicamente, não duraram um tempo considerável. O emprego mais longo que já tive, por escolha e não circunstância, durou exatos seis meses e meio. E me lembro disso porque a esta altura, eu contava cada dia em que estava naquele escritório. Em uma moda similar a dos presidiários que somam os dias da sua pena com risquinhos desenhados em uma parede da cela. Até enfim decidir me libertar, mas dentro dos parâmetros do capitalismo. A diferença entre cidadãos livres e presidiários está em como chamam essa tal liberdade. Cidadãos chamam de aviso prévio. Aos condenados, a condicional. O namoro mais longo que já tive chegou à marca exata dos seis meses. Não me lembro ao certo qual foi o momento em que percebi que o amor acabou – se houve amor – e que estava na hora de ser sincero sobre

O monstro de olhos verdes

Shakespeare me entenderia. Mesmo depois de 400 anos desde a sua morte, o legado dramatúrgico que deixou para a humanidade nos persegue até hoje. Foi feliz ao comparar um dos sentimentos mais antigos do mundo com aquele de um gato que brinca com sua presa antes de devorá-la. Não porque está com dificuldades em prendê-la, mas por esporte. Zombando-a com seus olhos verdes e insensatos, pois sabe que toda a sua liberdade e agilidade não foram páreos para a sua astúcia. Talvez não haja melhor definição de inveja como esta. Se a vida for mesmo a competição constante que eu imagino que seja, as alternativas são definitivas: haverá vencedores e haverá perdedores. E enquanto aos vencedores serão entregues os espólios, os perdedores devem assistir com amargura em seus olhos e uma dolorida salva de palmas que reverbera em seus egos feridos. Não há nada mais dolorido do que admitir que você não é a melhor pessoa do mundo. E eu sei bem: faço isso todos os dias. Antes que você me julgue

Vida em marte?

Um ano atrás , David Bowie morreu. Uma lenda do mundo da música que eu só tive o prazer de descobrir poucos meses antes do fatídico dia do seu falecimento. Isto porque eu estava ocupado demais, lidando com um fatídico dia meu. Vários deles, aliás, desde a mudança para Foz do Iguaçu. Enquanto ainda não conhecia ninguém pela cidade, nem sabia como percorrê-la direito, fiz o que qualquer pessoa sensata faria: comecei a criar memórias por aí, por mais singelas que fossem. Todos temos que começar de algum lugar, não é mesmo? E no meu caso, foi com uma música. Gostaria de dizer que foi algo mais épico, dramático e inesquecível para ter uma aventura extraordinária para revelar aqui, mas não. Eu só andava por aí escutando “ Life On Mars? ” com meus fones de ouvido ligados no volume máximo. Porque era assim que eu me sentia por aqui – em um admirável mundo novo. Mas sem uma noção sequer de como poderia sobreviver aqui, apesar de ter tantos planos em mente. Os mesmos planos que, há um ano

O dia que não terminou

Então... Onde eu estava? Ah, sim: Cascavel, Paraná. Um ano e meio atrás. Muita coisa mudou desde então. Na última vez em que escrevi aqui, eu estava prestes a receber meus amigos em casa para a nossa festa de despedida do meu apartamento. O lar onde morei por cinco anos, onde amadureci mais do que gostaria de admitir que havia sido possível, e onde vivenciei alguns dos momentos mais marcantes da minha vida. Foi o lugar em que eu mais chorei pelas vitórias e derrotas com as quais me deparei por aí, por mérito próprio. Depois de inúmeras entrevistas de emprego, dias ruins no escritório, problemas de relacionamentos, discussões com amigos por bobeiras e desentendimentos... E tudo mais que servisse de catalisador para me motivar a me sentar em uma das cadeiras da sacada por horas e horas, com alguma bebida em uma mão, e o por do sol refletindo nos meus olhos. Mas aquela noite. Ah, aquela noite... Essa sim foi inesquecível. Amigos que conheci durante meus anos em Cascavel se