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Mostrando postagens de julho, 2017

A complicada simplicidade

Você me dispensou. Tudo bem, eu entendo. Não é nenhuma novidade. A essa altura, eu nem leio mais as desculpas na íntegra. Só passo o olho nas já famosas palavras-chave – medo, ansiedade, indecisão – ou nas expressões infames do tipo “não sei o que quero da minha vida agora” ou “não estou pronta para um relacionamento sério”, e sigo em frente. Isto é; eu entendo que preciso seguir em frente. Mas por um instante – um longo e aparentemente arrebatador instante – eu realmente me sinto sem direção. Como alguém que estava tranquilamente em direção a um horizonte, acreditando que dias melhores estavam adiante, só para ser surpreendido por um penhasco. E a queda é certa, derradeira, finita. Mas cá entre nós, e eu não quero ser nenhum estraga-prazeres, a verdade é que eu não entendo. Sabe por que? Porque eu sei o que vai acontecer agora. Não exatamente agora, nem amanhã, nem semana que vem. Mas é o que vai acontecer, porque essa história não é original nem imprevisível. Depois de um tempo,

O dia depois de amanhã

Das seis da manhã à meia-noite, com raras exceções. Tem dias em que consigo me refugiar em devaneios menos preocupantes, e noites que quase não tenho meu sono interrompido por algum medo do futuro. Mas quando a rotina não falha, este é o horário em que eu vivo ultimamente; das seis da manhã à meia noite. E entre trabalhar, namorar, estudar, ser parte de uma família, beber com os amigos e evitar ter um completo colapso nervoso, tenho que ser sincero: sobra preocupação, ansiedade, medo... e falta tempo. O que aconteceu? *** Era tudo o que eu queria. A carreira, o amor e um despertador programado no meu celular para me acordar todas as manhãs. Para soar a largada da corrida de mais um dia. Algo que, desde que cheguei a Foz do Iguaçu, não era um aplicativo muito utilizado. Ainda faltava uma razão para acordar cedo. Coisa que, infelizmente, ficou para trás durante a mudança. Mas foi exatamente por isso que me mudei. As razões pelas quais eu levantava da minha cama de manhã, naqu

A crise dos 20 e poucos anos

Tudo começou com uma ressaca. A sensação de que a noite anterior não havia terminado ainda, mas na forma de leves dores de cabeça, uma vontade insaciável por líquidos que não possuíssem o mesmo teor alcoólico de todas as bebidas pelas quais eu passei, e um cheiro intragável de tabaco que demorou dias para que eu deixasse de senti-lo nos meus poros. Foi uma típica sexta-feira à noite, para falar a verdade: sair com amigos para um dos tantos barzinhos da cidade, com direito a alguns copos a mais de cerveja e uns cigarros para ajudar a liberar toda a carga de estresse que se instalou durante a semana. A pressão do trabalho, a correria da faculdade, as obrigações domésticas, e as neuroses usuais sobre não ter dinheiro o suficiente no bolso, nem aquela “alguém especial” da vida. Nada que eu já não tenha vivido milhares de vezes antes. Só havia um porém: eu não tenho mais 17 anos. Longe disso; os 25 estão me encarando cada vez mais de perto. O que explica a primeira ressaca que tive em

A noite

Pôr do sol. Tire os sapatos. Suspire fundo. O dia acabou. Prepare um drinque. Coloque um som. Encontre um lugar confortável. O som ambiente. A ausência da luz. Acenda um cigarro. Uma faísca para perfurar a escuridão. Observe a vista da sacada do apartamento. A primeira estrela surge no céu. As outras logo a seguirão. Que tipo de dia foi hoje? *** O que está acontecendo comigo? Quando foi que os dias se tornaram tão longos? Mas esta vida é tão curta! Prepare outro drinque. Tome outro suspiro. Relembre como tudo começou. Como chegou até aqui. Amanhã é outro dia... Outra coisa? Outra vida. De onde veio aquela estrela? Para onde ela vai? Para onde você vai? Por que a música parou? Acabou o CD. Mais uma vez. Um dia você também vai parar. Haverá outra vez? Não sei dizer. Não pense nisso. Não pense em nada. Por que não fecha os olhos? O amanhã não pode esperar? Por onde você anda, meu bem? *** Chega disso tudo. Não toque nessa garrafa. Não acenda outro cigarro. Não

O mundo pós-romance

Toda a maturidade que eu consiga alcançar nesta vida talvez jamais compensará pelos mil e um conceitos distorcidos que eu aprendi antes de saber julgá-los melhor. Não há juízo ou psicologia que possam me salvar agora – e, acredite, bem que eu gostaria. Se parece exagero... Bom, primeiramente, a essa altura nenhum devaneio exagerado meu deveria te surpreender mais; apenas revire os olhos e espere que algum capítulo mais coerente seja publicado aqui. Mas caso haja surpresa, duas considerações: 1) Desta vez a neurose não partiu de mim. É um misto entre os ecos da infância e os revezes da pós-modernidade. Eu juro! 2) Que bom que ainda consigo chamar a sua atenção. Tudo bem; até eu me confundi um pouco. Mas isto só prova a minha nova teoria sobre a pós-modernidade. Pra simplificar: tudo começou com um dia frio, em que eu acordei com uma vontade inocentemente nostálgica e ironicamente simétrica de rever “A Era do Gelo”. *** Em uma manhã dessas, enquanto preparava o café, eu re

Tempo e castigo

No auge dos meus 25 anos, eu nunca me senti tão atrasado na vida. Houve um tempo em que a sensação era justamente o contrário: por ter gostos mais diferenciados do que os outros garotos da minha idade – o hábito caseiro, os dotes domésticos, a harmonia irônica – eu sempre me permiti acreditar que estava à frente do meu tempo. Mas com base no último ano, esta sensação foi definitivamente jogada ao vento. Não querendo dizer que o último ano não tenha sido bom – mais do que isso, foi revolucionário. Mas é inerente a tragédia de qualquer pessoa que já completou o que pode ser considerado ¼ de uma vida saudável. Isto é, se eu tiver sorte. Convenhamos, Igor: você não tem cuidado tão bem de si mesmo quanto deveria. Teu fígado não nega. A sensação que tenho hoje é de que a vida que levo definitivamente não bate com a idade que tenho. Algo que é constantemente comprovado pelas atualizações dos meus amigos, conhecidos e figurantes na linha do tempo do meu Facebook: relacionamentos sérios, c

Beber, rezar, amar

Ontem eu comemorei 45 dias de sobriedade filosófica em Foz do Iguaçu. Resistindo às tentações de mergulhar em questionamentos sobre a vida, o amor e a cidade que fossem além das minhas distrações metafóricas - como, por exemplo, pensar sobre o quanto a péssima direção dos motoristas paraguaios nos estacionamentos de mercados aqui pode representar o desequilíbrio do dólar na bolsa de valores mundial. E talvez eu conseguiria me manter sóbrio por mais tempo, se não fosse a minha irônica sorte de redescobrir a minha fé nos lugares mais aleatórios. Ou, neste caso, nos lugares e nos horários de funcionamento certos. *** De agora em diante, vamos considerar que estes relatos infames sobre mudanças que ando registrando por aqui vão mais além do que um mero caminhão de mudança que viajou 130 quilômetros para levar as minhas coisas de um familiar ponto A para um distinto ponto B. O que eu quero com tudo isto na verdade é contar uma história que faça mais sentido do que a última que viv

A corrida maluca

Antes de admitir qualquer problema, vocês precisam tentar entender o meu lado. Não é que eu queira defender um comportamento que talvez seja mesmo inconsequente, ineficiente e imaturo. Muito menos, quero exagerar na proporção disto... Mas eu sou irremediavelmente obcecado por competições. Por comparar o quanto eu já percorri na vida em comparação a todos as outras pessoas/competidores pelos quais eu já passei, e por aqueles que estão – teoricamente – à minha frente. E provavelmente você também é assim, ou então já teve seus momentos que obviamente guardou para si. Porque competir é a base da evolução humana; é instintivo. Desde o espermatozoide mais rápido que cruza a linha de chegada, até o candidato que demonstra ser mais eficiente nas perguntas eliminatórias de uma entrevista de emprego. Até mesmo quando se está caminhando pacificamente pelo shopping e alguém significantemente mais lento que você surge na sua frente; é instintivo querer ultrapassá-lo – e quem sabe até murmurar b

Fé e outros rascunhos

A cada dia que passa, eu tento me situar um pouco mais com a minha nova realidade. Uma realidade que, neste caso, envolve Foz do Iguaçu: uma das cidades mais dinâmicas em termos de turismo, cultura, entretenimento e possibilidades de vida em níveis internacionais. São tantos restaurantes, casas de shows, museus, parques temáticos, maravilhas da natureza...  Que às vezes eu me surpreendo um pouco com o quanto eu fico entediado em casa. Porque, sinceramente, viver cansa. Explorar novos lugares pode ser trabalhoso. Provar novas cozinhas pode ser caro. E ter novas experiências tem lá a sua famigerada margem de erro. É fácil arquivar algo como “ experiência ” depois de ter passado por momentos de desgosto e estresse, mas a minha meta hoje vai além de tudo isso. Minha meta hoje é de aprender a ser feliz, tranquilo e grato pelo que eu tenho: uma oportunidade de recomeçar, o tempo e a infra-estrutura o suficiente para fazer isto. Isto é, até aquele teste. *** Dia desses eu fiz um

O soneto da mensagem instantânea

Tarde chuvosa, céu cinza, edredom. Sábado à noite, clima ameno, vinho tinto. Sofá, preguiça, televisão. Acolhimento, segurança, conforto. Felicidade nas pequenas coisas, em tempos nublados, só porque sim. Sem motivos, sem pressão, sem explicações. Conversa, risada, olhares. Eu, você... É. Isso. Neste verso, só eu e você. Talvez o que complique as coisas seja querer sempre algo a mais do que isto. Ou uma razão para isto. Ou se concentrar no que não está ali no momento, do que no momento que está ali. Ou, ou, ou... Ou nada. Pare com isto. É sempre assim. Tudo ou nada. Mais do que tudo. Mais do que o agora. O que aconteceu com a simplicidade? O que aconteceu com a gente? Quando foi que deixou de ser divertido? Por que não responde?! O céu estava fechado e agora se abriu. Manhã seguinte. Louça suja na pia. Claridade. Preguiça de fazer o café, de levantar da cama, de viver de novo. Fragilidade, vista embaçada, dores nas costas. E aos poucos foi deixando de s

Os embargos de sábado à noite

Até que ponto eu estou sozinho por opção? Depois de mais uma semana corrida de trabalho, faculdade, e outros imprevistos de percurso, posso ficar tranquilamente em casa durante um sábado à noite, fixado em uma maratona de Netflix com acompanhamento de pizza e cerveja. Só descansando, recuperando o fôlego antes que mais uma manhã de segunda-feira chegue... E por pouco não me esqueço totalmente de que sequer existem Facebook, WhatsApp ou até mesmo outras pessoas. Não significa que estou sozinho no mundo – tenho meus amigos por aí, mas estão provavelmente na mesma situação que eu. Desfalcados financeiramente o suficiente para não pensarem em sair para lado algum, e existencialmente entediados o suficiente para não considerarem alternativas mais sustentáveis, como juntar a galera para que fiquemos todos desfalcados e entediados juntos em um lugar só. É só um sábado à noite em casa; está tudo bem. *** Quer dizer... É mais um sábado à noite em casa. Quantos sábados à noite eu já

O princípio do quarto da bagunça

Para cada mudança que a gente faz, sempre há aquela caixa cheia de coisas aleatórias cujas quais você ainda não sabe exatamente aonde guardar no seu novo lar. E então você guarda a caixa em um canto escondido dos olhos das visitas para que não pensem que você é bagunceiro ou preguiçoso demais para desempacotar tudo. Dias passam, meses, anos, até que finalmente você lembra de que algo que seria muito necessário agora não estava junto com as outras malas e caixas que você organizou no dia da mudança. Está em algum outro lugar... Mas onde? E procura debaixo da cama, dentro do armário, nas gavetas do criado mudo e nas prateleiras da estante, até se lembrar de que ficaram algumas coisas guardadas na dispensa “pra arrumar depois”. E muitas mudanças depois daquela mudança em particular – a que ocasionou o empacotamento, arquivamento e esquecimento daquelas coisas – você reencontra aquela caixa e descobre que muitas outras coisas que você estava precisando ou já precisou antes estiveram al

O apocalipse nosso de cada dia

E lá vamos nós de novo. Eu ainda me lembro do tempo em que não havia nada pior para mim, do que a perspectiva de um recomeço. Talvez fosse só a preguiça de precisar encontrar novas circunstâncias às quais eu deveria me adaptar, mas não acho que era só isso. Claro que havia medo também – a inevitável herança que o fim de um ciclo sempre deixa para o próximo. Então até aqui já temos preguiça, readaptação, medo... Todos são argumentos muito válidos para justificar a aversão a qualquer coisa nova que se torne disponível para mim. Ou então, qualquer coisa nova que eu pense em ir atrás por conta própria. Sem nunca parar pra contemplar a simples noção de que talvez, quem sabe, eu goste mesmo é de ser um ser faltante, mas por escolha própria. A psicologia define o ser humano como uma instância inacabada, incompleta, em uma desesperada procura por sossegar o desamparo silencioso que rege a sua vida. Mas se a incompletude ficar por minha conta, em vez do universo, bom... Isso explica por

A cidade fantasma

Se eu considerar o quanto a maior parte de mim é feita na verdade de contradições e não de ironia e comentários sarcásticos (ao contrário do voto popular), isto não deveria surpreender ninguém – muito menos a mim mesmo – enquanto andava pelas ruas do centro de Foz de Iguaçu durante uma noite qualquer. Incomodado com um pensamento que havia tido algumas semanas antes, em outro dia qualquer, ao andar  por outra rua nos mesmos arredores. Cogitei a hipótese de que talvez a solução para o meu problema estivesse na iniciativa em desbravar novos territórios da terra das Cataratas que ainda não demarcados por mim e as minhas contradições. Mas então me lembrei de que a cidade, embora cheia de marcos históricos e rotas estratégicas de fuga para dois países vizinhos, não é tão grande assim. Embora a cidade e eu ainda tenhamos algo em comum nisto: nossos dilemas envolvem três fronteiras diferentes. A contradição em questão está no seguinte: o que mais me assustava quando cheguei à Foz do Igu

Amor: um arquivo temporário

Existe uma pasta escondida nas profundezas do disco rígido do meu computador que quase nunca é acessada. Nem por mim, nem por ninguém. Não está protegida por senha, nem está nomeada para orientar quem passa por ela a estar ciente sobre o que está guardado ali. E o que há nela, bom... É algo embaraçoso, eu confesso. Algo que, admito, não deveria existir há um bom tempo. E mesmo assim, ela se mantém intacta, salva e arquivada em uma outra pasta que também não está escondida ou bloqueada para que terceiros vejam o que ela contém. Ela só está ali, imóvel, intacta e impiedosa, se eu precisar adjetivar o seu conteúdo também. E ela continua ali por um motivo, é claro. Só não me pergunte qual é, pois se não há justificativa para a sua criação, quem poderá dizer da sua permanência? Mas algo a mantém ali, e é nisso que eu parei pra pensar nesta noite. Depois de estações passarem sem que ela fosse redescoberta, eu a encontrei mais uma vez em um fim de tarde de inverno. Só porque eu escut