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Mostrando postagens de agosto, 2017

O deslocamento

Eu já pensei em absolutamente todas as teorias para tentar entender porque você foi embora. Talvez eu tenha sido “eu” demais, com minhas manias incorrigíveis, meus dramas épicos e minha ansiedade desenfreada. Talvez você tenha conhecido outra pessoa – alguém do seu passado, ou simplesmente alguém novo, presente e menos “eu” o bastante para te agradar. Talvez a graça da novidade tenha se dissipado com o passar dos dias, como se a rotina tivesse tornado a paixão rarefeita e à mercê dos ventos do inverno. Ou talvez, quem sabe, na pior das hipóteses e encarando o maior dos meus medos de hoje em dia, você simplesmente não estivesse disposta a ter um relacionamento. Completo com todas as manias, dramas e ansiedade que o acompanham. *** Eu não queria escrever sobre isso. Juro que não queria. Mas eu não consigo parar de pensar em você, Fulana. Não consigo deixar de me preocupar contigo, e de imaginar como seria bom tê-la em meus braços de novo, e sussurrar que tudo ficará bem. E j

Pra não dizer que não falei das flores

Tem sido um inverno difícil. Eu sinceramente não me lembro da última vez que me senti assim. Inquieto, incompleto, inconstante. Como se nada fosse capaz de me satisfazer. Nem o café fresco na manhã de domingo, nem o conforto da minha cama ao fim do dia. Para falar a verdade, o que eu ando fazendo à noite também não pode ser chamado de “dormir”. E nem de algo mais divertido de se fazer em uma cama. Eu só fico deitado, acordado, em alerta. Na esperança de que o barulho de mensagem nova no celular me chamasse, avisando que alguém se lembrou de mim. E que bom seria se fosse você. Mas não tem sido. Já faz algum tempo que não é você, e é nisso que eu fico pensando... Você ainda pensa em mim, ou as vezes em que tem cruzado por mim na rua são indiferentes? Comparadas aos dias em que estávamos ansiosos para nos encontrarmos... Lembra da primeira vez que nos vimos? Do sorriso largo que eu inspirei em você? E do quão bobo eu parecia ser, tentando chamar a sua atenção? Eu sinto falta de

O outro lado da crevasse

Em 1991 , Gaspar LeMarc, um explorador francês, estava no meio de uma jornada pelas cordilheiras dos Alpes quando uma nevasca o separou de sua equipe e subitamente causou um acidente que o fez cair dentro de uma crevasse – uma abertura natural entre geleiras, cuja profundidade aproximadamente estendia-se até 90 metros abaixo do chão. Quando recuperou a consciência, Gaspar percebeu que sua perna estava severamente ferida, deixando-o impossibilitado de escalar de volta à superfície. Ao lutar contra todos os instintos naturais que possuía, e ao obrigar-se a aceitar a pior alternativa possível no momento, Gaspar decidiu que não havia outro meio a não ser se aprofundar cada vez mais dentro da crevasse e da escuridão que a dominava. Depois de quase dois dias, Gaspar conseguiu encontrar uma saída do outro lado. Ao retornar para a base, Gaspar reencontrou sua equipe auxiliar que estava prestes a abortar todas as tentativas de resgate que já haviam procedido, conforme o código de honra dos e

A culpa é minha

Eu sinceramente acredito que existe algo a ser dito sobre as coisas que não fazemos. Só não sei ao certo o que, porque dizem que o que não foi feito também não vale a pena ser comentado. Se não aconteceu, não significou nada. Mas aí entram as coisas que acontecem e que, vez por outras, também sofrem pela falta de um significado, um sentimento que as mantenha vivas em nossa memória. Então eu não sei. Particularmente eu gosto de acreditar que tudo que é capaz de me causar algum tipo de impressão marcante, também vale a pena ser discutido. E na falta de alguém para me ouvir, acredito que vale a pena ser escrito. Talvez a poesia seja o exílio dos arrependimentos, ou o porto-seguro dos sentimentos ocos. Tudo parece muito bonito, muito apaixonante, muito sintético, mas sem muita utilidade. Isto é, a não ser para indicar a leitura à alguém que está sofrendo por algo que não sabe como lidar direito. Poesia serve para dar forma a estes sentimentos, como um porta-retratos que enfeita um