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Mostrando postagens de fevereiro, 2018

Envolvimento à distância

Existem três caminhadas marcantes na vida de um homem. Há o trajeto que ele faz em direção à garota com quem marcou o primeiro encontro, seguido pelo percurso que fazem de mãos dadas no shopping - já com um compromisso firmado – até finalmente os passos que ele dá em direção ao altar, e aguarda pelos passos da sua futura esposa irem de encontro a ele. Olhando em retrospectiva, talvez seja daí que tenha surgido o meu gosto por caminhadas, e sua eventual escalada em velocidade até tornarem-se corridas. Sempre estive ansioso pelos passos marcantes em direção à vida que eu sempre quis. Talvez também seja daí que surjam meu fascínio e frustração, ambos na mesma proporção, por relacionamentos imaginários – mais conhecidos agora pela modalidade de envolvimento à distância (EAD). E eu sei que você sabe do que estou falando, porque ao mesmo tempo em que está lendo isso, está esperando seu mais recente contato do Tinder responder sua última mensagem. Ou pior: está esperando que ele dê

Bem vindo ao fim

Eu sinto muito. Permita-me antecipar o questionamento e confirmar que sim; isto é para você, que está lendo agora e pensando que o motivo pelo qual não nos falamos mais é porque estávamos ocupados demais nos engasgando com as coisas que não conseguimos dizer um ao outro. Coisas como “eu estava errado” e “me desculpe”. Caso esteja sentindo a minha falta, e tudo o que você precisava ouvir de mim era o consenso de que esta distância também é culpa minha, sinta-se à vontade. Porque a verdade é que eu sou mesmo ridiculamente difícil – com ênfase tanto no ridículo quanto na teimosia. E convenhamos, você há de concordar que também é assim. Senão o que mais explicaria as fotos deletadas, as conversas abandonadas pela metade, e o eco que passou a preencher a presença que costumávamos ter na vida do outro? Eu posso ser ruim, meu bem – muito ruim – mas você também não é fácil. E talvez, quem sabe, seja melhor assim. Cada um do seu lado, vivendo a sua vida, tentando não perder tu

Razões para acreditar

Coisas ruins irão acontecer. Problemas surgem, pessoas traem, oportunidades escapam. Não tem como fugir disso: viver significa estar em constante ameaça de ser jogado para fora da estrada que decide percorrer. E quando isso acontecer, você pode se deixar levar ou voltar ao seu caminho. Pode reclamar, chorar, beber, negar, evitar falar sobre o assunto, pular de bar em bar só para evitar voltar para um apartamento vazio... Ou pode assumir o controle do vazio, e o preencher com a próxima etapa da sua vida. Mesmo que não saiba qual será ainda. Os psicólogos chamam isso de aceitação. O senso comum encara como esperança. Pessoas normais que seguem dia após dia sem se importar em procurar fazer algo diferente entre uma rotina repetida e outra, sequer pensam nisso. E quanto a mim... Talvez eu só finalmente tenha descoberto a real diferença entre ser pessimista e ser realista. O segredo está em não esperar pelo ruim constantemente. Apenas admita que a margem de erro existe. Agora, se e

O estado de sublimação

Sexo é o meu esporte favorito. Ou então, tornou-se o meu esporte favorito. Desde o primeiro beijo que inaugura as preliminares, até as mãos que descem pela cintura e ousam passear pela coxa. As palavras sussurradas ao ouvido, enquanto os corpos lentamente entrelaçam-se. O calor que aumenta com a proximidade – com a intimidade. A respiração ofegante, o pulso acelerado. O gosto da boca. O cheiro da pele. O toque do outro. O mundo de sensações que vem à tona no espaço entre nós, cada vez menor. A intensidade do olhar, a pegada no quadril, a mão que desliza até o seu ponto mais vulnerável. A pressão, a fricção, o êxtase... Eu costumava pensar que não existia sexo sem amor. Aí eu cresci e descobri que só não queria acreditar que poderia existir. Porque pensava que sexo deveria ser consequência do amor, não um ato paralelo a ele. A verdade é que não existem regras, limites, pudores ou fetiches que estejam fora de cogitação. A única coisa que sexo deve ser é bom. Desde que o im

A técnica da linha

De acordo com o Google, existem diversas maneiras para retirar uma aliança presa no dedo. Em casos extremos envolvendo inchaço ou corte parcial da circulação, é necessário o uso de equipamentos como um alicate, um tesourão corta-a-frio ou uma micro-retifica, que é uma espécie de serra elétrica.  Mas em se tratando de ocorrências mais amenas, a maioria dos tutoriais recomendados pelo corpo de bombeiros sugere que se tente primeiro a técnica da linha: basta levantar um pouco do anel preso até que uma linha passe por ele, e usar a mesma para puxar a peça até a extremidade do dedo, desprendendo-o aos poucos conforme é empurrado para fora. É avaliado por especialistas como o procedimento menos agressivo e invasivo, capaz de prevenir a segurança do usuário e danos acidentais à peça. No entanto, não há nenhum tutorial disponível no Google sobre como retirar do coração a pessoa para quem você deu a aliança. Sim, eu procurei. *** Ser traído sempre foi o meu maior medo. Pra quem

O legado das mãos dadas no shopping

Eu quero acreditar que funciona. Casamento, parcerias, envolvimento, intimidade. Mesmo tendo em mente que absolutamente todos os relacionamentos da minha vida são disfuncionais, de alguma maneira. E que não é preciso pensar muito para chegar à conclusão de que eu sou o denominador em comum entre eles. Alguns eu desequilibrei pela falta, outros pelo excesso. Há ainda os que nunca conheceram a luz do dia por insegurança de ambas as partes. Por pensar demais em toda a estrada adiante de nós, e nos assustarmos em tentar dar sequer o primeiro passo. Acontece. Quando tudo desmorona e todas me abandonam, independente do que ocasionou o deslocamento, eu ainda continuo aqui. Perdidamente apaixonado pela ideia de que, apesar de todos os pesares, é algo que funciona. Agora, não me peça para argumentar e tentar convencê-la disso. É uma escolha. Algo que se dispõe perante mim a cada novo desastre que vem, vê e me vence. Eu estou cansado. Quebrado. Ridiculamente perdido. Mas quero acreditar