Pular para o conteúdo principal

Três semanas depois

Eu não previ nada disto.

Eu trabalho numa chopperia em um shopping (ignore a aliteração), e por mais movimento que tenha, eu ainda sim tenho o turno da manhã/começo de tarde e as coisas podem ficar meio paradas. Na praça de alimentação tem duas televisões que passam videoclipes de músicas e propagandas do shopping o dia todo – as mesmas músicas, todos os dias. Quando tem movimento, o som é diminuído ao extremo e somente surdos-mudos acompanham os vídeos. Eu já decorei a programação, e até mesmo algumas coreografias.

Nesses dias eu fico escorado no balcão vendo as poucas pessoas no shopping passarem para lá e para cá, com seus olhares distraídos e sacolas recheadas de supérfluos. Essa é a pior parte do trabalho; quando não há trabalho. Minha rotina mudou completamente de três semanas atrás para hoje, e eu não tenho mais tanto tempo livre – vide minha ausência virtual.

Eu não consigo nem mesmo escrever tanto quanto gostaria, não dá tempo de ligar o computador. Escrever à mão também não é mais uma opção; é tarde demais, eu fiz amizades na faculdade e não passo mais os intervalos escrevendo sem sair da sala. Nesses raros momentos que já não existem mais, eu parava pra pensar nas coisas. Descobri que é perigoso parar e pensar nas coisas, pelo menos para mim. Agora eu sou ocupado demais, mas sem querer dizer que eu não penso mais. Só que esses pequenos intervalos são emocionalmente letais.

E então eu fico me torturando com flashbacks do ano passado, dos bons momentos que tive e das lembranças que carrego comigo. Relembro também de eventos não tão agradáveis, de escolhas tolas e se existe sequer o menor arrependimento. E aí eu penso... Fiz a decisão certa ao vir para cá? Fui o melhor amigo que poderia ser? Cresci de acordo com o que meus pais sonhavam? Quando foi que comecei a mudar? Eu não sei responder nada disso, e nem sei para quem deveria perguntar.

As pessoas da minha sala na faculdade acham que sou CDF. Eu sinto falta de ter pessoas ao meu redor que me conhecem, e bem. Por isso eu não gosto mais de ter tempo livre. Eu paro, e penso. E sinto saudades. E questiono as últimas três semanas. E, e... E aí eu me perco. Nos meus momentos de fraqueza, eu sento e espero tudo passar. Não incomodo ninguém, e funciona.

Mas no geral, eu estou bem. Aliás, mais do que bem. “De boa”.

Comentários

  1. Para de ser igual, vei. Parar e pensar é uma das piores coisas que tem pra fazer quando está longe. Mas saudade é bom, começar de novo também. Dá medo no começo, mas com o passar do tempo a gente percebe que não teve coisa malhor a se fazer do que essa mudança.

    obs: como assim você já tinha decorado algumas coreografias!? Certeza que você ficava dançando atrás do balcão, o que espantava os clientes haha

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Os 5 estágios do Roacutan

            Olá. Meu nome é Igor Costa Moresca e eu não sou um alcoólatra. Muito pelo contrário, sou um apreciador, um namorador, um profissional em se tratando de bebidas. Sem preconceito, horário ou frescura com absolutamente nenhuma delas, acredito que existe sim o paraíso, e acredito que o harém particular que está reservado para mim certamente tem open bar. Já tive bebidas de todas as cores, de várias idades, de muitos amores, assim como todas as ressacas que eram possíveis de se tirar delas. Mas todo esse amor, essa dedicação e essas dores de cabeça há muito deixaram de fazer parte do meu dia a dia, tudo por uma causa maior. Até mesmo maior do que churrascos de aniversário, camarotes com bebida liberada e brindes à meia noite depois de um dia difícil. Maior do que o meu gosto pelos drinques, coquetéis e chopes, eu optei por mergulhar de cabeça numa tentativa de aprimorar a mim mesmo, em vês de continuar me afogando na mesmisse da minha mela...

A girafa e o chacal

Melhor do que os ensinamentos propostos por pensadores contemporâneos são as metáforas que eles usam para garantir que o que querem dizer seja mesmo absorvido. Não é à toa que, ao conceituar a importância da empatia dentro dos processos de comunicação não violenta, Marshall Rosenberg destacou as figuras da girafa e do chacal . Somos animais com tendências ambivalentes – logo, nada mais coerente do que sermos tratados como tal.  De acordo com Marshall, as girafas possuem o maior coração entre todos os mamíferos terrestre. O tamanho faz jus à sua força, superior 43 vezes a de um ser humano, necessária para bombear sangue por toda a extensão do seu pescoço até a cabeça. Como se sua visão privilegiada do horizonte não fosse evidente o suficiente, o animal é duplamente abençoado pela figura de linguagem: seu olhar é tão profundo quanto seus sentimentos.  Enquanto isso, o chacal opera primordialmente pelos impulsos violentos, julgando constantemente cada aspecto do ambiente ...

Wile E.: o gênio, o mito, o coiote

Aí todo mundo no Facebook mudou o avatar para a imagem de algum desenho e eu não consegui achar mais ninguém, mas depois de um tempo eu resolvi brincar também. O clima de celebração do dia das crianças invadiu as redes sociais de tal maneira que todos nós acabamos tendo vários flashbacks com os desenhos de nossos colegas, dos programas que costumávamos assistir anos atrás quando éramos crianças e decorar o nome dos 150 pokemons era nosso único dever. E para ficar mais interativo, cada um mudou a imagem para um desenho com qual mais se identifica, e quando a minha vez chegou, não tive dúvidas para escolher nenhum outro senão meu ídolo de ontem, de hoje, e de sempre: o senhor Wile E. Coiote. Criado em 1948 como mais um integrante da família Looney Tunes, Wile foi imortalizado pelo apelido e pela fama de fracassado em sua meta de vida: pegar o Papa Léguas. Através de seu suposto intelecto superior e um acesso ilimitado ao arsenal de arapucas fornecidas pela companhia ACME, Wile tento...