Existe uma linha tênue entre viver e sobreviver, e é bastante simples perceber a diferença: está na paixão. Se você tem paixão, você vive. Senão, você só sobrevive, por questão humana básica. Antes de vir para cá, eu me considerava um apaixonado; pelo curso que escolhi, pelas pessoas que me deram força para prosseguir com ele e com os desafios que viriam pela frente. Perdão, eu não me considerava um apaixonado e ponto. Eu achava que minha paixão era eterna, algo escrito nas estrelas e que nunca se apagaria. Curiosamente, eu expressava tudo isso com palavras digitadas. Parecia tão inocente e confortável; eu me sentia bem com isso.
Dois meses depois, a situação amadureceu, mudou, cresceu e está assim agora: cinza, tipo aqueles dias nublados e perfeitos para ficar dentro de casa com uma xícara de chocolate. Nem precisa dizer que são meus dias preferidos, e eu até fui agraciado com um deles hoje – mas não pude aproveitar como gostaria, devido às responsabilidades que adotei e, em troca, roubaram todo o meu tempo livre. Ócio virou lenda; raro como ouro. Com exceção das coisas boas, a situação está cinza. Igual a mim.
Minha alma parece estar mal-lavada, embaçada e difícil até de descrever. Tudo bem, tudo mudou, mas deveria ter um limite. Eu deveria continuar o mesmo... não deveria? Estou lentamente aderindo à minha nova geografia, mas sinto que estou perdendo minha personalidade pelo caminho. E ainda dizem que este é o tal mundo real.
Pois vou lhes dizer: no meu mundo real não se tem tempo para absorver mudanças, é mais fácil criar inimigos do que fazer amizades, responsabilidades tornam-se sinônimo de desistir do que você quer no presente para colher os frutos do seu trabalho no futuro, e não há abraços. Simplesmente não há, e não consigo vos dizer o quanto fazem falta.
A paixão que eu costumava ter por tudo na minha vida não esfriou, mas está suave e silenciosamente desaparecendo pouco a pouco, música a música, olhar a olhar, lágrima a lágrima... O que era vida, o que era amor, agora se torna sobrevivência num mundo frio, áspero e sem abraços. Como se gente grande não precisasse de abraços. Esta cidade é pequena demais para acolher todas as minhas irracionalidades.
Claro, tudo isso não cabe numa resposta a um “tudo bem?”, vide meu silencio crescente. Parece que não adianta dizer aos outros que, depois de dois meses longe da vida que eu levava, a luta por sobrevivência está acabando comigo.
Talvez isto tenha sido um erro, ou talvez seja passageiro. Quem sabe? Não me importa; engulam a vontade de me dizer que tudo dará certo... o que eu quero agora é um abraço.
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Sabe por que a despreocupação em colocar tudo isso aqui? Sou um mísero “ghost writer”, apenas aspirando por um desabafo e uma boa noite de sono.
E o mundo nunca saberá...
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