Eu tive um pesadelo ontem à noite. No sonho, eu estava cercado de pessoas em um grande corredor, frente às portas de salas que pareciam não ter nada dentro. Na minha frente, estava outra pessoa, com uma cara desapontada. Não havia som no sonho, mas pelo que pude identificar em sua face e o modo como proferia suas sentenças, tudo dava a entender que a pessoa estava gritando sobre algo. Quando acordei, percebi que não era ilusão; era uma briga que tive ano passado, e a culpa que eu ainda carrego estava apenas começando a se expressar.
Ao longo do dia, fui relembrando uma série de desentendimentos passados cujos quais não superei totalmente; alguns pequenos porém marcantes, outros escandalosos e irreparáveis. Cada um recheado com sua própria parcela de culpa que, aparentemente, ainda pesava em mim. Mais do que eu imaginava.
Quando saí de Londrina, deixei para trás grande parte de minhas angústias, mas algumas ainda encontraram um meio de se infiltrar em minha bagagem e me seguiram. Achei que as tinha perdido ou simplesmente superado, mas pelo visto estava enganado. Meus desentendimentos e momentos rancorosos passados estavam repassando diante dos meus olhos, e não pude deixar de sentir um golpe. Estranho, mas após uma briga, será que nos livramos completamente das assombrações? Ou somos perpetuamente perturbados por fantasmas de discordâncias passadas?
Tentei me perder em trabalhos ou me concentrar em outras coisas mais relevantes, mas os pensamentos não fugiam da minha cabeça. Cada briga que tive, cada instante de raiva que senti e que expressei, e cada mágoa que senti estavam ressuscitando, e a culpa, a pior parte, ia lentamente se acumulando.
Claro, depois de toda discussão, era de praxe pedir desculpas já que vivíamos - e estudávamos - no mesmo ambiente fechado, e nos deparar de novo e de novo frente a frente era questão de segundos. Mas agora que estamos todos soltos no mundo, sem portões de colégio nos cercando, todo e qualquer vestígio de rancor que ainda possa existir pode ser perigoso para o bem de uma amizade.
E eu me torturo; será que fui mesmo perdoado? Ou então, será que perdoei de verdade? Como me livrar desses pensamentos-fantasmas? Comecei a pensar em Londrina como uma verdadeira cidade fantasma, repleta de espíritos de relacionamentos passados e inacabados que pareciam ainda vagar pelas avenidas buscando por fim a tal perturbação. Relacionamentos que estou com medo de reviver.
Eu sabia o que tinha que fazer agora; confrontar meus fantasmas para finalmente encontrar paz de espírito. O único problema é, como confrontar pessoas que não posso ver? Pessoas que não estão aqui. Pessoas que, de um jeito ou de outro, deixei para trás. Preciso dar um fim definitivo para maus entendidos que abandonei, e descobrir se fui mesmo perdoado. Pela minha paz de espírito.
Eu sei como é. Acredite, existem confrontos que é melhor só ficarem na nossa cabeça. Coisas enteradas não devem ser reviradas, pelo bem de todos. Pelo menos, algumas né.
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