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Tudo novo, de novo

Talvez o que eu senti no ônibus a caminho de casa, voltando da faculdade com o frio no meu rosto e o pouco movimento de minhas mãos, não seja raiva, mas sim desconforto - daqueles que são momentâneos, sabe? Desconforto pelo fato de que minha rotina foi alterada uma vez mais, como se fosse impossível regularizar padrões durante minha estadia aqui. Ontem foi o desapego de Londrina, depois as complicações da faculdade, os aprendizados no trabalho, e agora chegou a isso; trocar o conforto da van pelo tumulto e agonia de ônibus para ir e voltar da faculdade, tudo em nome do meu novo aluguel.

A verdade é que sempre fui irresistivelmente apegado a rotinas; padrões de comportamento do dia a dia, que por sinal fazem até o dia passar mais rápido, ou senão, pelo menos com mais ordem. Eu gosto de organizar minhas tarefas e compromissos, como se tudo pudesse ser previsto, mas sempre deixando uma brecha para planos de emergência - por exemplo, tornou-se de praxe sempre carregar consigo R$2,20; a tarifa do ônibus daqui, porque nunca se sabe. E se existe uma coisa que agita meus sentidos e aumenta minhas aflições, são remanejamentos inesperados.

Provavelmente me adaptarei a isto com o tempo, o problema é que hoje foi só o primeiro dia. E parece que as rotinas que eu costumava ter jamais voltarão, já que o plano é continuar seguindo em frente e, de agora em diante, é tudo novo de novo. Por exemplo, já estou me acertando com o inverno, e reencontrar meu cachecol, touca e luvas, que há anos não eram usados, meio a malas que ainda não desfiz também ajudou um monte. Sejamos sinceros; numa cidade onde a temperatura abaixa perigosamente ao longo do dia, a última coisa que eu precisava era que o ônibus quebrasse no meio do caminho pra faculdade. E ninguém gosta muito de andar no inverno; nem mesmo eu.

É isso que acontece quando se sai da rotina; nada mais será o mesmo de novo. Pelo menos agora eu tenho um cachecol.

***

Às vezes eu acho que quando me deparo com semi-conhecidos na rua, é na verdade o jeito de Deus me dizer: “crie vergonha na cara e faça amigos!”.

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