Sabe aqueles dias em que você sente que não pode chegar perto de outros seres humanos, para o seu bem e a segurança deles? É um dia em que todas as forças do universo se conciliam estritamente para te irritar, e conseguem. Você pode até, no maior dos milagres, acordar de bom humor num dia assim, mas com um piscar de olhos, de repente tudo e todos tornam-se malditos que só apareceram no seu caminho para testar sua paciência, geralmente com coisas pequenas e perguntas insignificantes. As pessoas dizem que você não pode ficar estressado, você as manda pra bem longe, e o dia vai piorando.
Todos tornam-se alvos e não há quem você não imagine que exploda e te deixe em paz. E, claro, a hora no relógio não passa para que você volte para casa o mais rápido possível, sem ferir ninguém. Você questiona se as ordens do seu chefe no trabalho são de verdade, ou se são só pra te irritar, você não liga pra colega escrota que não te cumprimenta, e você nem se preocupa em servir direito o cara que pediu um chopp justo na hora em que você está fechando o caixa. Deu até vontade de cumprir aquela promessa.
Aí tem os lugares onde você não pode ir num dia assim; evite aglomerações, porque você é a única pessoa sã que tem bom senso de não parar pra cagar no meio do shopping e não anda na velocidade de um peido; até parece que é pra te atrapalhar de propósito quando você tenta se locomover em corredores estreitos – e sempre, sempre haverá duas ou mais tartarugas na sua frente que não te deixam passar, mesmo que você esteja de uniforme e provavelmente trabalhando. E eu fiz a cagada de ir nas Lojas Americanas exatamente com esse humor.
Parecia pegadinha; tem dez caixas, só cinco funcionando, sendo um deles preferencial, e as pessoas muito inteligentes que saem de casa naquele sabadão de tarde pra ir passear esquecem que precisa de dinheiro pra pagar o que querem comprar e despejam mil reais em moedas no balcão – e contam uma por uma, que é pra não perder troco. Pra melhorar, o caixa não sabe fazer conta. Rangi os dentes numa fúria assassina, mas mantendo estampado no rosto aquele sorriso plastificado que é pra não dar na cara que estava desejando que o chão se abrisse e engolisse todos à minha volta. É uma oportunidade ótima para treinar frases-feitas e felicidade forçada, que é o que mais se vê num shopping.
Voltando pra casa – da onde você não deveria ter saído - , os carros sincronizam suas passagens exatamente quando você vai atravessar a rua, e as pessoas coreografam seus passos com os seus, e tomam o espaço da calçada. Ao entrar dentro de casa, você consegue respirar fundo pela primeira vez no seu dia e agradece por não ter saído armado. E prepara um drink do tamanho da sua cabeça, porque amanhã tem mais.
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