Eu tive um sonho ontem a noite. Eu estava numa sala de cirurgia, com médicos e enfermeiras ao meu redor, todos com seus bisturis e anestesia direcionados ao meu coração. De repente, um dos médicos se assusta com algo e todos param. Ele estuda cuidadosamente com uma pinça uma fratura no meu coração jamais vista antes. E afirma com horror, "Este coração foi partido". Os médicos ao redor balançam a cabeça em uníssono e adjetivos parecidos; "Quebrado", "Estraçalhado", "Incurável". O cirurgião pega meu coração em mãos e o avalia uma vez mais com choque, e o joga no lixo. Acordei.
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Estranho mesmo é não direcionar mais minhas palavras para “você”. Me faz sentir mais sozinho agora que começo a tomar conta que “você” nunca lerá isto.
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Na manhã seguinte eu decidi levantar cedo e levar meu coração partido para passear. Estava frio e levemente chuvoso, mas eu nem liguei. Depois de um ano, eu me dei conta exatamente de como Cascavel é o lugar perfeito para se estar sozinho. Uma verdadeira terra de ninguém onde o desdém toma o ar e fica até difícil atravessar as ruas. De manhã pelo menos é um pouco mais sossegado. Ao passar das esquinas e das músicas, eu percebi o quanto ainda pensava em você. Quem dizer, nela. Escrever como se fosse para ela parece mais suave, e menos doloroso de admitir que ela não está mais aqui. Alucinações e fantasias dela me faziam companhia, junto a meus artistas favoritos. Barry White cantava sobre como amar você era bom (“You’re My First, My Last, My Everything”), Gloria Gaynor berrava sobre como eu nunca conseguiria realmente dizer adeus (“Never Can Say Goodbye”), e Al Green perguntava a todos por mim como fazer a chuva parar de cair e como reparar um coração partido (“How Can You Mend a Broken Heart”). Ao longo da avenida, parei para tomar café no McDonalds e deixar a chuva cair na cidade em vês da minha cabeça. Olhando pela janela, parecia que todas que passavam por ali tinham algo parecido com ela. O cabelo, o perfume, eu procurava qualquer vestígio para alimentar minhas lembranças, mesmo sabendo da dor que poderia causar não só à minha cabeça, mas à fratura em questão. Segui meu caminho de volta pra casa e a chuva começou a cair mais forte. Estava difícil de enxergar com o vento levantando a chuva e jogando-a nos rostos de todos. Estranhamente, pela primeira vez, eu me senti "confortável" com o clima cinza e frio que me cercava. Como se eu finalmente sentisse que poderia fazer parte disso tudo.
Depois de chegar em casa, voltei a tomar café e refletir com a chuva batendo na janela. A verdade era que eu esperava ver ela de novo por aí, no mais aleatório dos momentos, e não sei exatamente porque. Talvez porque a memória do rosto dela parece estar se esvaziando a cada dia que passa. Não digo mais seu nome constantemente e não faço mais planos para dois. A maioria dos lugares pelos quais eu passava guardavam resquícios de saudade pelos bons tempos. Não sei o que diria se eu a visse de novo nem o que faria. Ouço músicas sobre como agora fujo do amor que eu procurava e de como não sei por quanto tempo ainda viveria assim. Antes parecia um insulto dizer que a vida continuaria sem ela; não parecia fazer jus. Não parece uma idéia tão ruim dedicar meus dias cinzas a ela. Enquanto a sensação de separação inacabada continua a me assombrar, sinto-me bem com a companhia de minhas fantasias. E quem sabe foi pelo melhor. Nenhum de nós realmente conseguiria ter dito adeus.
Algumas nostalgias atrás, eu tive um pensamento. Acho que prefiro sentir falta dela do que estar com ela. Não pergunte porque. Parece menos doloroso.
Música de Hoje: Chances Are – Robert Downey, Jr. & Vonda Shepard.
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