"Yeah, yeah, whoooo..."
Admito que não sei explicar grande parte disto. Simplesmente aconteceu, e ela também. Não a vi chegar, nem sei de onde veio, mas de algum modo senti sua presença quando ela apareceu no recinto. E a música, claro. "My heart is on fire / my soul's like a wheel that's turning / my love is alive..." Estava junto de outra mulher, mãe, tia, vizinha, não sei, mas nem se comparava. E estava vestida de modo bastante... Revelador, para dizer o mínimo. A blusa que revelava o bronzeado, e escancarava a marca do biquini, e o shorts que acabava logo no começo da coxa - e da felicidade, eu aposto. E sentou, logo ali, no meio da praça de alimentação, completamente convencida (corretamente) de que todos estavam olhando para ela. E estavam, inclusive eu, que fui pego de surpresa enquanto lutava contra o sono durante o trabalho.
"My heart is on fire..." E estava mesmo. Assim, do nada. Lembrei-me de um programa que havia assistido certo tempo atrás, da capacidade inacreditável que fêmeas possuem de captar a atenção de tudo e todos á sua volta apenas com a força de seus feromônios (a substância química que atrai, estimula, excita, e possibilita todo tipo de reprodução). Acontece em coméias com a abelha-raínha e suas operárias, que fazem de tudo para agradá-la, e acontece na vida. Estava acontecendo ali, e ela sabia disso. E, pelo pouco do olhar que pude perceber, ela gostava. Como todo macho de sangue quente, não pude deixar de olhar - a ponto de esquecer coisas relevantes, como o trabalho e tudo mais, apenas para... olhar.
"My soul's like a wheel that's turning..." E foi. Percebi que ela me pegou olhando. E a amiga feia também. Pude ver rápidamente murmurinhos mudos à distância, e sabia que era sobre mim. Ela me pegou no flágra. Nada de novidade para ela, eu pensei. Ela, portanto, pensaria "Mais um" e seria o fim. Mas não foi. Ela gostou de me ver olhando. E ao perder o movimento dos pés e ao ouvir o soar de um alarme dentro de mim - o tipo que deixa o rosto vermelho e as mãos trêmulas - eu percebi exatamente o quanto ela havia percebido; e como ela decidiu se divertir com isto. E levantou, tentei negar mas seus passos vinham em minha direção. Ao meu balcão, sem defesas, sem ajuda, sem álibi. Desprotegido e pego em flagrante por minha própria natureza; o lado cro-magnon que todo homem possui e passa o resto da vida tentando camuflar.
"My love is alive..." E parou na minha frente. Lembro que a situação não tomou mais que um minuto, quem sabe até fração de um minuto sequer, mas pela primeira vez em muito tempo... Eu me senti vivo. Sorriu com um olhar que me confrontava, que sabia que era para ela que eu estava olhando, que era sua marquinha de biquini e seu shorts que haviam me prendido. Tudo por causa dos feromônios que não deixavam ninguém escapar. Percebi como ela estava apreciando o momento, o prazer do meu flagrante e a confirmação do seu poder - uma vez mais, eu presumi - antes de começar a falar. Três frases que em qualquer outro contexto, saídas de qualquer outra boca, não carregariam a mesma energia. Três frases que guardei, que me assombraram, e que quase levou ao declínio de mais um homem fraco que se rendeu à fragância inodora de uma mulher. Uma mulher que sabia o que seus feromônios causavam, e que gostava. E falou. "Uma coca" "Dois copos" "Obrigada" Atendi seu pedido, estranhamente contente por trazer prazer a ela, da forma mais infâme, porém a única que parecia possível. E desfilou de volta à sua mesa, sem sequer olhar para trás para o homem que havia destruído com o calor da sua presença e o reflexo da sua marquinha de biquini. Sem falar do shorts, visto de trás, porque não lembro mais de nada.
Logo ela se levantou, junto à companheira feia, e foi estonteante em direção à saída. Certa de que todos a estavam vendo partir - e estavam mesmo - e, novamente, sem nem olhar pra trás, se foi. Depois de sentar e recuperar o ar, imaginei como seria se todas as mulheres descobrissem o poder que existe nelas, sob a filosofia da abelha raínha e do poder de submeter completamente os machos ao seu redor. Todos os homens se tornariam zangões? Estaríamos perdidos. Por um shorts, por uma marquinha de biquini, por um olhar... e por química. Pura química, capaz de levar à ruína, à queda e à decadência. E como seria bom...
"Yeah, yeah, yeah, yeah..."
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