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Por um sentido na vida

Eu não gosto de ter tempo livre. E por mais estranho que pareça a pior parte disto não é como esta afirmação soa, mas como é difícil de admitir e como as pessoas não entendem. Nós vivemos tão fixados em concepções próprias do que os outros pensam de nós quando tentamos escolher como nos definir, que simplesmente esquecemos de viver. Na verdade não esquecemos, apenas adiamos. Mas é um adiamento sem data. Por exemplo, eu não gosto de ter tempo livre porque me dá a oportunidade de reavaliar minha vida - por mais que eu ouça e até acredite que em apenas dezoito anos não é muito possível querer dar sentido à vida, uma vez que esta mal começou - e de me sentir erroneamente vazio. De querer encontrar a razão fundamental da minha existência no mundo, e ao mesmo tempo ser livre das amarras que eu mesmo criei. Tudo muito confuso e complexo que até parece simples quando dou um passo para trás, para rever o quadro maior. Que nada disso realmente importa, e que eu deveria parar de adiar minha vida com questionamentos inúteis; por que dar sentido à vida?

Agora que o maldito dia passou eu me encontro livre do prazo de validade que havia dado à mim mesmo; o prazo para encontrar a pessoa certa e não me sentir triste ao ver casais por todo lado, felizes ou não, mas no mínimo juntos. Ou quem sabe é uma nova rede de segurança que se estabeleceu, já que só acontecerá de novo daqui há 363 dias. Não sei, por isso usei uma desculpa qualquer para sair e andar por aí, talvez apenas como argumento para convencer a mim mesmo a sair de casa e ver pessoas, sentir o vento no rosto, e aproveitar mais um dia frio de céu azul. Parece pequeno, mas faz sentido pra mim. Talvez a principal razão de eu não gostar de ter tempo livre seja o desespero que existe no silêncio de um apartamento vazio, gozando da mísera vida hipócrita e egoísta que aqui reside, e chora em cantos por tudo que poderia ter sido e não foi, só para se sentir melhor depois. Felicidade aleatória, angústia constante. O problema seria a vida, a cidade, ou eu mesmo?

Pior do que dias vazios, são dias em que mil coisas acontecem numa hora só. Mas acho que a vida é feita disso mesmo. Pelo lado bom, estou quase acreditando que sou feliz. Só o que me falta é a pessoa certa. O resto é barulho de fundo.

De tudo que já me falaram, sobre eu não ser normal, que eu não sou de verdade, e que eu deveria estudar filosofia, às vezes eu acrdito quando releio estas coisas e não acredito que saiu de mim. Mas acho que estou fazendo progresso; eu quase não reparei naquele outdoor hoje.


Música de Hoje: Bennie and the Jets – Elton John.


***

O ministério da saúde adverte: passar o Dia dos Namorados sozinho pode surtir em efeitos colateráis como insanidade temporária e descoordenação motora. Persistindo os sintomas, um bar deverá ser visitado.

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