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Terra de ninguém

Acordar à uma da tarde, geladeira cheia de comida pra microondas, cama desarrumada, sem supervisão (a não ser os vizinhos que ficam passando pela janela), e total liberdade. Em apenas três meses em Cascavel - ou como eu costumava chamar, "terra de ninguém" - e no auge dos agonizantes dezessete anos, eu havia conseguido o improvável: meu próprio apartamento. E em apenas um ano, eu consegui o impossível: fazer deste apartamento meu lar definitivo pelos próximos quatro anos e meio, ou até minha estadia expirar aqui na cidade onde as capivaras correm soltas.

E ao somar isto com um muito merecido período de férias do trabalho, é possível sentir o aroma de preguiça no ar mesmo de longe. Eu havia construído minha própria terra de ninguém, e realizado o sonho de qualquer adolescente frustrado que aspira um dia fugir de casa ou montar uma república. Claro, dormir e acordar quando dá vontade, comer e beber o que quiser, e aproveitar tudo o que o ócio criativo tem a oferecer tem seu preço, mas após finalmente estabelecer controle sob o aluguél e as contas que sempre se acumulam, eu posso dizer que estou na minha casa longe de casa.

Livre para desperdiçar o tempo que quiser e sentir o gosto da pseudo-independência... Apesar de que seria bom ter companhia, mas por enquanto contento-me com as alegrias de ser um homem solteiro e bem-resolvido... E sozinho. Morando sozinho, vivendo sozinho... Pensando bem, alguém aí quer dividir um apartamento?


Música de Hoje: The Wasteland – Elton John.

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