Ela é complicada; são as palavras que podem descrevê-la muito bem em qualquer época. Ela começou na primavera, e eu a conheci anos atrás quando éramos ambos jovens e ingênuos, com uma vida inteira pela frente e sem saber exatamente para onde ir. E por mais que eu a conhecesse, mais do que aqueles ao nosso redor, haviam sempre fragmentos que ela mantinha em segredo, e que até hoje descubro.
Mas como tudo de bom neste mundo, ela era difícil. Era linda, mas complexada, com problemas consigo mesma. Era genuosa, temperamental, equilibrada até onde sentia que podia. Era inteligente, rápida, se destacava na multidão. Era perseverante, insistente, teimosa. Adorava dias chuvosos e cantar na rua, dançar, pular, sorrir. Também era sensível; tinha argumentos para tudo e adorava usá-los. Adorava um bom debate, uma boa troca de idéias; apendia com eles, crescia com eles. Ela era preocupada, esforçada, esperançosa… Era feliz, em toda a sua complicação.
Mas o mundo roubou seus sonhos, suas esperanças, o otimismo que habitava seu olhar até quando estava chorando. Foi traída, magoada, ferida, enganada, passada para trás, mal-tratada. Apenas se escondeu, de tanto apanhar, de tanto sofrer. Foi reprimida, repreendida. Viu seu céu azul tornar-se cinza, e contentou-se com isto. Foi esgotando-se ano após ano, mas a menina que eu conheci ainda estava ali, firme e forte, ainda lutando por dias melhores.
Muitas lágrimas depois, eu ainda tento aprender mais sobre os fragmentos que esta menina esconde, por medo de deixar se expor de novo. Por medo de confiar de novo, de deixar-se levar. Pelo contrário, foi levada pela vida, perdendo de vista a menina que uma vez foi. Olhando fundo para ela, ainda posso enxergar aquela por quem faria tudo, e percebo que faria tudo de novo. Sabia muito sobre ela, seus gostos, seus desejos, suas aspirações. Ela nunca foi dele; ela sempre pertenceu a outro.
Ele aprendeu a conviver com isto, do jeito difícil, e percebeu que não poderia viver sem ela. Ela o recebeu de braços abertos uma vez mais, como já havia feito antes quando ele se perdia. Mesmo quando achava que não ouviria mais dele, e vice-e-versa, reencontravam-se e era como se nada tivesse acontecido. Olhando em retrospectiva, todo o drama parece distante a ponto de parecer só história. Mas é a história deles, é o que os formou e os trouxe até aqui. Estão separados, porém juntos ainda, mas não um com o outro. Não era amor; era melhor. Foram amigos, os melhores, e ainda são. Constantes variáveis, cujos destinos sempre estiveram congruentes porém nunca unidos.
Acima de tudo que sabia sobre ela, tinha certeza de algo que carregava sempre no coração quando a revia. Ela, a menina difícil e complicada, sonhadora com os pés no chão, não estava destinada a ficar sozinha. Mesmo em suas crises e momentos de desespero, ela seria amada; para sempre, por ele. A eterna menina, os melhores amigos.
Ao som de: She Will Be Loved – Maroon 5.
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