Alemão é uma das línguas mais complicadas que existem; até os palavrões soam mais ofensivos do que o normal. Mas é complicado em parte porque, em alemão, existe uma palavra específica para tudo, inclusive coisas – ou melhor, sentimentos – que não sabemos descrever, e às vezes nem admitimos que existem.
Schadenfreude. Sem tradução exata, é a justaposição das palavras “schaden” (dano) e “freude” (alegria), que significa a alegria que sentimos com o sofrimento alheio. Eu já falei da minha incapacidade de ficar feliz pelos outros (mas claro, há exceções) e, mesmo com psicólogos atestando que este é apenas um lado ruim da natureza humana, schadenfreude na verdade vai além disto. É o desejo malicioso de sentir prazer ao ver alguém em uma situação ruim. Estudiosos até citam a existência de uma reação química no nosso organismo que demonstra e comprova schadenfreude em cada um de nós. Existe biológicamente e atua no nosso cotidiano, mas é reprimido.
Quem de nós admitiria que se diverte com a queda dos poderosos, ou com a exposição de pecadores hipócritas. A mídia usa e abusa do schadenfreude para manipular vereditos, condenar pessoas e formar uma massa de manobra contra aqueles que são pegos meio aos seus pecados. Assistir brigas, ver o circo pegar fogo, tudo isso faz parte do lado sombrio de nossas almas. Convenhamos, quando nos deparamos com uma discussão em público, não podemos deixar de não olhar, e de não julgar. E, às vezes, o único fator que nos leva a desgostar de alguém e a desejar seu mal, nada tem a ver com a pessoa; é schadenfreude.
Ninguém gosta de ter consciência do fato de que bem e mal podem co-existir em um mesmo coração. É difícil entender que nos divertimos com maldade; por isso deixamos em alemão.
Pensando pelo lado bom, quando formos pegos por schadenfreude, podemos dizer que foi faux pas.
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