Às vezes eu gosto de deixar minhas crises tomarem conta para ver o quanto minha sanidade é empurrada até o limite, e sempre me surpreendo com até onde consigo chegar sem romper com a lucidez… Eu acho. Está difícil, falta ar, meus pés doem, mas a cabeça ainda está erguida. Estou tentando seguir em frente mas não consigo me livrar da sensação de que estou parado no mesmo lugar há meses… Desde que você foi embora, e ninguém preencheu o vazio que você deixou. Quer dizer, eu não deixei que tentassem. Deixar seu lugar reservado, mesmo sabendo que você mesma nunca fez questão que eu a esperasse, é o que me reconfortava quando o mundo real batia na minha porta e dizia que estava na hora de sair desta ilusão.
Mas não, eu evitei a realidade o máximo que pude, e me escondi do mundo em minhas fantasias – o meu mundo, que eu sabia no fundo da minha alma que seria o único lugar que não me desapontaria. E passei a exigir mais das pessoas que estavam dispostas a ver além da minha condição crítica para se aproximarem de mim. Passei a esperar algo das pessoas que sequer sabia exatamente o que era. Elevei minhas expectativas ao máximo para que ninguém pudesse atingí-las, assim não haveria perigo. Sem laços, sem correr o risco de perder-me em intimidades, sem me apaixonar de novo… Para não sofrer de novo. Passei a temer e a afastar aquilo que sempre quis, acreditando que no final eu estaria sozinho de novo. Usava o final hipotético para justificar evitar o começo. E me tranquei dentro de mim, ao mesmo tempo que o despespero de querer sair e viver de novo tornou-se minha única companhia.
Eu posso sentir a razão escapar por meus dedos. Minha vida passou a girar em torno do amanhã que nunca chega, mas com ansiedade e falsa esperança por dias melhores. A dor tornou-se familiar demais; como uma espécie de porto-seguro, uma vez que era só o que eu conheci. Felicidade tornou-se um sonho distante, quase inalcançável, se eu me permitisse buscá-la. Apesar da angústia, existe segurança na desesperança – nada mais poderia me machucar… Poderia? Sim.
E então eu percebi o quanto estava sem direção e sem noção alguma, mas é fácil se perder quando se deixa levar por fantasias. Ao ver meus devaneios chegarem ao fim pude sentir meus pés voltarem ao chão, ainda ouvindo a música no fundo… “How can you mend a broken heart…”.
Fui até as profundezas do inferno dentro de mim e voltei, quase intacto e desorientado quanto aos meus próximos passos, mas determinado a abrir meu coração novamente e deixar as pessoas entrarem. Senti faíscas de vida reluzirem diante dos meus dedos, me levantei da escuridão e fui em direção à luz. O amanhã pode não chegar, este é o verdadeiro perigo. Acho que estou pronto para viver de novo. Senão hoje, talvez amanhã.
Ao som de: If Tomorrow Never Comes – Ronan Keating.
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