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À deriva

Quem nunca se sentiu sozinho numa multidão? Existe um certo tipo de desespero que não é expressado através de lágrimas ou desconentamento; aliás, você não pode percebê-lo com certeza até olhar fundo nos olhos destas pessoas, e se surpreender com a negação na qual vivem. Estas pessoas geralmente estão cercados de companhias, rindo à toa até que você as pegue em um momento de fraqueza, quando lançam um olhar que mostra como o que realmente querem está mais distante do que gostariam de admitir. De que adianta cercar-se de pessoas que você chama de amigos, se mesmo ao redor deles você se sente sozinho? Eu passo a maioria das noites sozinho em casa, sem ter para onde ir ou com quem ir, mas é por escolha própria. Claro, eu poderia me trocar e sair agora mesmo com as pessoas erradas, ir para lugares que nada tem a ver comigo, apenas para ter assunto na manhã seguinte. “É, eu saí ontem a noite. Fui com um pessoal em um lugar que nem sei onde é. Foi legal”. Legal é diferente de bom.

Estamos todos à deriva em um mar de rostos desconhecidos, a não ser quando encontramos aquela pessoa com quem decidimos compartilhar nossa vida, e que nos impede de nos afogarmos em nossas próprias lágrimas. Lágrimas que o mundo jamais descobre que derramamos. Mas até esse dia chegar, podemos tentar criar a ilusão de que somos amados por nos cercarmos de pessoas que mal nos conhecem… Para que? Não sou chato, anti-social ou convencido; sou apenas mais corajoso para assumir minha solidão, eu acho. Me parece o mais honesto a fazer. Talvez eu passe mais noites sozinho em casa, mas é apenas porque não encontrei as companhias certas e seguir as erradas não me parece bom. Porque mesmo em momentos de solidão, eu tenho amigos à distância que me fazem mais bem do que alguns que estão aqui do meu lado; amigos que me conhecem de verdade, e que não encontrei da noite pro dia.

Estou procurando por algo que ainda não encontrei. Sejam amigos leais, o amor da minha vida, ou apenas alguém com quem passar uma noite fria. Alguém que faça valer a pena. E isso não é fácil de encontrar, mas antes só do que mal acompanhado.

Ao som de: We’re All Alone – Boz Scaggs.

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