Eu não sei sorrir. Aliás, acho que sorrisos são superestimados, ou então sou eu mesmo quem tem dificuldade demais para conseguir tirar uma boa foto. Quando eu tinha 14 anos, um fotógrafo sem paciência insistiu que eu sorrisse para as fotos da escola, mas tanto ele quanto eu nos arrependemos depois. Uma das cópias da foto foi usada para a confecção da nossa carteirinha de estudante, e apesar de tiramos fotos novas a cada ano, aquela em especial foi reciclada até o 2º ano do colegial.
Um dia fui ao cinema com minha prima e passei pela bilheteria portando a tal carteirinha, e o que aconteceu em seguida eu só descobri quando voltamos para casa. Após comprarmos os ingressos a mulher da bilheteria chamou minha prima de volta e perguntou com uma voz de preocupada, "Escute, o filme é legendado... Ele vai conseguir acompanhar?". Daquele dia em diante eu decidi que tudo bem, vamos tirar fotos, mas não me peça para sorrir - eu não consigo. As pessoas tiram conclusões precipitadas ao encontrar alguém sem um sorriso no rosto - ele deve estar triste, ou então, ela deve ser bem antipática. Ele parece sério, ela tem cara de metida, e por aí vai. Mas essas pessoas se esquecem de que existe muito mais por trás de um sorriso do que este aparenta. Aliás, sorrisos na verdade não são mais do que uma tática para esconder o que realmente estamos sentindo ou pensando.
Ainda em 2005, teve outro acontecimento que mudou para sempre minha visão sobre sorrisos em fotos. Na véspera da minha formatura da 8ª série, meu avô faleceu. Já estava internado há algum tempo, mas apesar das circumstâncias nenhum de nós estava preparado para que, da noite pro dia, tivessemos que nos vestir de preto. Eu me lembro de uma conversa durante o café da manhã após o ocorrido; ele havia falecido durante a madrugada e era tarde demais para cancelar os preparativos pra ir à festa. Minha vó olhou para mim e minha mãe e disse que isto não podia nos impedir de ir, senão por mim mas pelo vô, que também estava contente pela conquista do neto.
Comparecemos ao enterro à tarde, e quando a noite caiu ainda estava de preto, mas de terno. Meus amigos ouviram falar sobre o que aconteceu e foram solidários, mas não deixei que isto os impedisse de aproveitar aquele dia que, apesar de, ainda era especial. Não ficamos muito e nem dançamos a valsa, mas minha mãe e eu ainda estávamos presentes quando o fotógrafo da festa parou em nossa mesa para retratar o momento. Hoje esta foto está em minha estante, como um lembrete de um dos momentos mais difíceis da minha vida, onde fui obrigado a aprender que a vida tem mesmo dessas coisas, mas sempre continua. Quem vê o porta-retrato nem imagina a história que existe por trás daqueles rostos, afinal estávamos sorrindo.
Este é o segredo dos sorrisos; servem apenas para manter as aparências, mas você nunca pode ter certeza do que se passa no coração da quem está sorrindo. Não, eu não sei sorrir. Eu nem tento mais, na verdade. Mas aqueles que me conhecem sabem que esta expressão séria não me definem, porque meu coração é sempre verdadeiro. E quando vamos tirar fotos juntos, ainda ouço gritos como "Igor, sorria!" de pessoas que não me conhecem tão bem, mas meus amigos sabem que isto não importa. O que importa mesmo é estarmos juntos ali; nossa amizade vai além das aparências.
E mesmo incapaz de traduzir minha felicidade em meu rosto, estou sempre sorrindo por dentro.
Ao som de: Smile - Glee.
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