Depois de mais uma semana corrida e agitada, o costume de várias famílias está no bom e velho ritual de se reunirem ao redor de uma mesa repleta de comida caseira, alguns com sua cervejinha enquanto as crianças se afogam no refrigerante, com uma sobremesa apetitosa os aguardando em seguida, ao som de risadas e muita conversa animada até mesmo depois da comida ser servida. Cada parente então se dividia para diversas tarefas depois do almoço; alguns faziam fila para o banheiro enquanto outros lidavam com a louça suja, as crianças mal podiam esperar termianr o almoço para voltarem a brincar, até todos se reunirem novamente em frente à televisão para o filme que estivesse passando até a hora do futebol. Assim, alguns permitiam se deixar levar pelo Futebol, pelo Faustão e pelo Fantástico, a medida que outros buscavam um lugar à sombra para digerir e descansar, e até mesmo roncar em uníssono - apenas para voltar para casa e dedicar-se novamente à arte de dormir. E na semana seguinte não é nem preciso remarcar; o ritual se repete com as mesmas peculiaridades, as mesmas figuras, e o mesmo ânimo. Este ritual é conhecido como o almoço de Domingo.
Minha família seguia o ritual com cuidado e dedicação. Ao fim da Sexta Feira já fora decidido quem levaria o que; nos reuniriamos na casa da tia Odete, tia Odinalva levaria uma carne assada, mamãe produziria um de seus legendários pudins, com a supervisão de vovó, claro, e algum dos primos estaria encarregado de nos dar carona até o almoço. Logo, outros tios, outros primos e amigos família também apareciam para completar os lugares ao redor da mesa, para ajudar - e atrapalhar - o churrasqueiro da semana em seu embate com um carvão de marca duvidosa, enquanto as tias colocavam a conversa em dia sobre a última cirurgia que fizeram, ou o que aconteceu na novela das 8 na noite passada. E nunca se via um olhar triste, uma cara de desânimo ou uma falta de acolhimento por parte de ninguém; mesmo depois da pior semana, estávamos sempre ali reunidos para esquecer dos problemas e dar graças por mais um almoço juntos. Por isto talvez ainda seja tão difícil aceitar o fato de que aos Domingos eu ainda sou obrigado a vestir o uniforme e marchar ao trabalho - abrindo mão da comida caseira, de rever os parentes e passar horas em frente à televisão, assistindo qualquer coisa que fosse, mas se perdendo na barulheira da família.
Há dois anos, eu me convenci de que isto fazia parte do meu passado, e que estes Domingos haviam sido perdidos no caminho de Londrina para cá, mas como já é de se esperar nesses casos, a vida se encarrega de provar que sempre estamos errados sobre aquilo que pensamos ter certeza. Chame de milagre de Páscoa, mas o shopping fechou neste Domingo. E justo no dia da comemoração da ressurreição daquele que morreu por nós, não pude deixar de perceber que parte da minha fé em coisas como família, churrascos e Domingos também voltou a mim. Outra coisa que não pude deixar passar em branco; talvez estarmos sozinhos seja mesmo uma escolha nossa, e assim como podemos escolher por nos esconder no mundo, podemos optar por reintegrá-lo e descobrir que existem coisas piores do que passar por almoços tumultuosos em Domingos – podemos acabar sentindo falta deles.
Ao som de: Please Don’t Stop the Rain – James Morrison.
Comentários
Postar um comentário