Quando a Disney não está prolongando o mito da princesa indefesa e o príncipe encantado - e o mito do sexo perfeito sem treinamento ou leitura prévia do kama sutra - os filmes geralmente são voltados para o relacionamento improvável, porém indestrutível, que se forma entre uma bela moça e um homem horrendo - quando não é um monstro peludo. A partir disso surgiram os estereótipos acima dos casais passando por nós pela rua: se ele é feio e ela é bonita, ele tem dinheiro, se os dois são feios estão juntos por falta de opção, e se ela é feia e ele é bonito, ai é amor mesmo - até ele largar ela por uma mais bonita, porque gente bonita tem que ficar com gente bonita, do jeito que a seleção natural exige, a não ser que seja boa de cama mesmo usando a fronha na cabeça. Mas a única coisa natural nisso é a nossa própria natureza podre de julgar livros pela capa e nunca considerar que, adivinha só, existe conteúdo também, salvo as exceções - afinal, realmente, existem pessoas ocas por ai.
Considerando que ainda existem monstros peludos e mulheres ocas entre nós, há a teoria da beleza interior que possui força até o ponto em que nossas vistas se cansam de enxergar o que há de bom nas pessoas, quando os olhos dele são vesgos ou o nariz dela ocupa grande parte da nossa visão. Ao exercer minha natureza podre através de comentários em voz baixa, minha amiga disse que para ela não existem pessoas feias - como não?! Disse que não conseguia enxergar feiura, já que todo mundo é bonito senão de algum modo, mas para alguém. Engoli a seco meus comentários junto com meu preconceito e, porque não dizer, meu próprio reflexo - porque um feio falar mal de outro é o cúmulo da feuira. E me fez pensar; existe preconceito ou existe gente feia mesmo?
Ninguém pode negar que valorizamos a beleza; mulheres bonitas entram sem pagar, e homens feios pagam o dobro. E não há muito para reclamar; somos todos culpados por propagar e promover o estereótipo, começando pela Disney até você e eu. Só que beleza por si só enjoa, e em algum momento acabamos por abrir os livros e conhecer a história das belas e as feras ao nosso redor, e descobrimos que os enredos não são nada como imaginávamos. Assim, a feiura nos corações alheios nos faz repensar sobre nossos conceitos de beleza, e a olhar novamente para aqueles que antes pareciam machucar nossos olhos, mas que sempre nos trataram tão bem. Eu costumava ter uma teoria enrolada em preconceito sobre gente feia: me davam esperança. Afinal, se existem mais casais feios do que bonitos, as chances de que alguém me considere bonito o bastante para passar uma noite ou um final de semana - ou, quem sabe, o resto da vida - comigo passam a depender apenas de eventualidades e tempo. Algo bem feio de se pensar, eu admito.
Algo que eu não pude deixar de reparar também é o quanto as mulheres mais bonitas também revelam-se como as mais inseguras. O poder da beleza é tão grande que se volta contra elas, ao mexer com a insegurança de seus pretendentes e afastá-los em ves de atraí-los como era de se esperar. E enquanto a beleza interior continua sendo alvo da contradição humana ("ela é gente boa, mas é tão feinha" ou então, "ele é lindo, mas é um ogro"), ainda torcemos os pescoços quando mulheres bonitas passam por nós - sem nunca imaginar o quanto não só parecemos feios, mas também ridículos.
Ao som de: I Feel Pretty / Unpretty - Glee.
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