É, eu saí. Todos disseram que eu precisava sair mais, conhecer pessoas novas, deixar minha zona de conforto de lado e tentar algo novo - como viver, por exemplo. Sabe aquela sensação de imensidão que você tem ao perceber que o mundo é muito maior do que o seu próprio mundinho aparenta mostrar? Talvez não seja o tipo de coisa que alguém pense enquanto espera na fila para entrar na Bielle Club, mas estamos falando de mim aqui e nenhuma estranheza será vista com surpresa. Mesmo sabendo que vou me desapontar com o que encontrarei, às vezes eu ainda gosto de tentar ir além dos limites dos meus preconceitos e dar uma chance ao mundo real de me cativar e, quem sabe, me atrair a integrá-lo junto a todas aquelas outras pessoas aparentemente felizes com seus ingressos em uma mão e a bunda da acompanhante na outra. E alcoolizadas, claro, porque este é um daqueles momentos gloriosos da vida em que estar sóbrio não é uma opção; é uma afronta.
Mas segui adiante; fui empurrado, pisoteado, julgado, barrado, cadastrado e revistado, até que meus amigos e eu chegamos ao destino da nossa noite ao atravessar uma porta que escondia um mundo definitivamente diferente do meu - o mundo real, completo com suas luzes ofuscantes, música eletrônica, mulheres elegantemente inatingíveis - assim como as financeiramente inalcançáveis - e os rapazes que as acompanhavam em camarotes alagados de uísque, rodeados por uma multidão de figurantes igualmente vestidos para mais uma noite a solta na cidade pecaminosa e recriminadora que chamamos carinhosamente de Cascavel. Uma volta de reconhecimento, alguns esbarrões com conhecidos, e um balde de vodca com energéticos depois, lá estávamos nós; apenas uma roda de amigos em meio a várias outras rodas de amigos animados com todo o som e a fúria do já famoso sertanejo universitário da nossa geração, se não fosse pela presença do estranho no ninho que vos escreve. De algum modo, nunca consegui enxergar uma noite na Bielle com a mesma visão dos meus amigos - e, provavelmente, todas as pessoas deste mundo. O barulho era música, a bebida era infinita, e as pessoas que passavam por nós não eram apenas pessoas, mas alvos em potencial para lançarmos nossa artilharia de esquemas rumo ao ficar, que neste mundo é conhecido como o fator crucial para definir sua noite como boa ou "uma merda".
Não, eu não peguei ninguém. Sim, eu quis. Mais alguma pergunta? Com a madrugada nascendo diante de nós - e uma aula experimental de laboratório a nossa espera em seguida - o mundo real começou a esvaziar e era possível enxergar o chão e o caminho para o banheiro claramente de novo, o que para um bom entendedor significa que a festa acabou e estava na hora de voltar para casa. Ao enfrentar a longa espera da saída, logo estávamos de volta à noite para qual saimos para nos aventurar, todos muito felizes, frustrados e levemente embriagados com vodca e contradições do ar da boate. Depois de não dormir por duas horas, enfrentar a aula prática e seis horas de trabalho forçado, quer dizer, registrado, eu finalmente venci o sono e a preguiça que me dominavam e o efeito do engov que tomei como café da manhã já havia encerrado seu ciclo de ação em meu organismo agora com a audição mais danificada do que antes de passar por aquelas portas, e parei para refletir sobre como o mundo real ainda tem seus atrativos, algumas falhas a serem trabalhadas, mas sem nada para se temer muito. Há tempos eu me perguntava, o que tem de tão bom no mundo real? Bom, quando se está sozinho, é bem chato. Mas é bem mais divertido quando se tem uma galera na qual podemos nos apoiar quando começamos a perder o equilíbrio e o bom senso meio a tanta dança e estímulos etílicos.
O mundo real parece inofensivo agora que já apanhei o bastante para perceber o quanto a vida pode ser simples e que não há nada de mais em se divertir de vez em quando. É, demorou, eu sei. Mas aprendi. Então dessa vez eu ganhei; nem de ressaca eu fiquei. Ponto pra mim.
Ao som de: Rolling in the Deep - Adele.
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