Existem 346 quilômetros separando Cascavel e Londrina, o que seriam equivalentes a aproximadamente seis horas de ônibus - ou quatro horas e meia se você viajar com meu avô. Por isso foi tão surpreendente quando eu resolvi pegar o último ônibus saindo de Cascavel para passar um único dia em Londrina. Talvez, se fosse apenas um dia qualquer, isto parecesse extremo ou inconsequente, mas não estamos falando de um dia qualquer, e tampouco de uma pessoa qualquer.
Minha chegada não correu exatamente como eu planejava; no meio da viagem ficamos sem gasolina e aguardamos parados na estrada escura por algum tempo até o motorista retornar para reabastecer o tanque e acelerar com toda a sua frustração em direção ao nosso destino. Eu cheguei em Londrina às 5h30 da manhã, onde o sol nem havia nascido ainda, só para não encontrar minha carona me esperando como haviamos combinado. Meu amigo havia saído na noite anterior e, como descobri posteriormente, acabou chegando em casa exatamente na hora em que cheguei à cidade, mas estava sonolento demais para dar atenção aos meus toques à cobrar.
Algum tempo depois, eu decidi desistir de esperar e parti à procura de um outro ônibus que me levasse até em casa, o que acabou levando algumas quadras a pé até encontrar o ponto certo. Vi o sol nascer enquanto esperava pelo outro ônibus, sentado em um ponto junto a um grupo de amigos que também estavam voltando de uma balada, mas ninguém percebeu a presença de mais uma pessoa no ponto - estavam ocupados demais "se pegando" antes de se despedirem de seus respectivos pares.
Quando meu ônibus chegou e atravessou as avenidas principais da cidade, não pude deixar de me sentir feliz mesmo com todo o atraso e deslocamento; uma série de flashbacks passaram diante dos meus olhos e me certificaram de que estava chegando em casa. Passamos pelas ruas que eu costumava caminhar todos os dias - fosse de dia ou de noite, sóbrio ou bêbado - e pelos lugares que frequentava, como o colégio onde estudei a vida inteira ou as casas de amigos que moravam ali perto, mas nenhum dos quais sabia da minha visita relâmpago.
Ao me aproximar de casa, o ônibus se depara com um acidente de carro que o força a dar mais uma volta na quadra, e enquanto os passageiros correm em direção à janela para tentar entender se foi o carro que bateu na moto ou o contrário, eu não pude deixar de pensar o quanto estava sendo difícil voltar para casa, mas logo chegou meu ponto e minha hora de descer. Quando abri o porta do prédio, meu celular toca – é meu amigo, que acordou assustado e encontrou meus vinte e cinco toques não-respondidos, querendo saber aonde eu estava. “Eu? Eu estou em casa.” E estava mesmo.
Às vezes nossos dias parecem repetitivos ao ponto de passarem em branco por nós. Porque nenhum de nós sabe quando teremos dias importântes em nossas vidas, até estarmos no meio deles. Mas desta vez eu sabia, e mesmo de toda a agitação para chegar até ali, às 7h40 da manhã de Domingo quando minha avó abriu a porta e encontrei minha mãe me esperando de braços abertos, eu percebi o quanto valeu a pena estar ali. Mesmo com 346 quilômetros entre uma cidade e outra e 365 dias em nosso ano para viver do modo que acharmos certo, mãe só tem uma.
Ao som de: Home Sweet Home – Carrie Underwood.
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