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O primeiro beijo

Dizem que tudo o que você precisa saber sobre alguém em quem você está interessado pode ser descoberto através daquele primeiro toque entre os seus lábios, e em questão de instantes poderiamos ouvir o som de fogos de artifício ao longe, ou então o fogo da paixão entre nós aumentando mais e mais até finalmente chegar ao ponto de erupção, e nos fazer querer não largar mais dos lábios um do outro. A promessa de um relacionamento, um futuro, ou qualquer envolvimento que seja entre você e a pessoa que você ama define-se a partir do primeiro beijo, e por isso não é a toa que nossa tendência é de ficarmos sempre um pouco nervosos ao esperar que tudo ocorra perfeitamente. Imaginamos qual música tocaria em nossa cabeça enquanto nos envolvemos em nossa atração, tentamos controlar a euforia que toma conta do nosso ser, e a medida que arrepiamos um ao outro, o que começou como um simples toque pode nos levar à loucura em seguida - a loucura de desejar ao outro cada vez mais, a cada novo toque ao qual se entregam.

Mas nenhuma experiência, desde aprender a andar de bicicleta até o desastroso primeiro encontro debaixo das cobertas, se compara ao horror e ao desastre que acompanha o primeiro beijo. A maioria das pessoas o realizam logo no fim de sua infância, o que também acaba por se tornar o fator decisivo e transitório para seu amadurecimento rumo à terra de confusões e desorientações que chamamos de pré-adolescência - não que as fases que vem em seguida sejam menos perturbadoras; pelo contrário, tendemos a nos perder cada vez mais. Só que os momentos da nossa vida que precedem o primeiro beijo, talvez sejam os mais simples e tranquilos que podemos ter sem mesmo percebê-los, até nossos lábios encontrarem seu caminho rumo à boca da pessoa que por algum motivo parece nos atrair incansávelmente, e não temos escolha a não ser ir de encontro a ela sem saber o que será de nós depois. Apesar das experiências boas e ruins, depois de termos nosso primeiro beijo, tão suave e incalculado, mas o bastante para ser inesquecível, somos atraidos a tentar cada vez mais elevar nosso placar e multiplicar o prazer recém-descoberto em relacionar-se com alguém que nos causa borboletas no estômago.

No entanto, a medida que o tempo passou e mudou tudo em seu mundo, os relacionamentos também sofreram transformações drásticas que acabaram não só por facilitar o envolvimento de algumas pessoas, mas também afastou outras daquilo que mais desejavam; conectar-se através de alguém com um beijo, e que este tivesse o mesmo significado para a outra pessoas. O que costumava ser singelo e símbolo do amor entre duas pessoas agora se sujeita a encontros baratos de uma noite só, ou casos com a velocidade de um relâmpago onde nem mesmo nomes são trocados, ou às vezes sequer são bem lembrados na manhã seguinte. Os beijos perderam seu misticismo e tornartam-se comuns entre nós e nossos "ficantes", mas ainda não perdeu seu poder de despertar em nós sentimentos que não esperávamos sentir, paixões pelas quais não esperavamos sucumbir, e amores que não esperávamos ter.

Beijos são atos tão simples que às vezes nem os notamos, e por mais que o ato em si nunca varie cada um ainda possui um significado único; pode simbolizar a devoção de um namorado, ou a tentativa de perdão da namorada. Pode traduzir o medo de perder aquele que amamos, ou o aumento da nossa paixão por ela. Mas independente do seu significado, cada beijo reflete o instinto básico de cada um de nós; o de relacionar-se com outra pessoa. Este desejo pode ser mais forte do que imaginamos, e por isto é sempre surpreendente quando algumas pessoas não só não o entendem, como também o deixam passar em vão.

Ao som de: Kiss Me - Sixpence None the Richer.

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