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Retorno

Parece que cada decepcção que ocorre em nossas vidas nos afasta de nós mesmos, a medida que o medo, as lágrimas e o choque com a realidade nos levam a tamanha desorientação capaz de fazer com que o chão sob nós desapareça de repente e nos deixa sem saber como nos sentir como nós mesmos de novo. Nós nos perdemos; às vezes não sabemos como encontrar o caminho de volta para casa, ou para os braços da pessoa que amamos, ou até mesmo para aquela pessoa que nos encarava nos espelhos da vida, mas que agora parece tão diferente. A vida é uma estrada e cada um de nós faz o máximo que pode para discernir o caminho certo a ser seguido, mas quando algo acontece em nosso caminho não há nenhuma placa que nos direcione de volta ao nosso antigo rumo, e nenhuma placa de retorno para nos oferecer ajuda. Nos perdemos dentro de nós mesmos, e parece que alguns de nós nunca conseguem reencontrar seu rumo.

Eu já me perdi várias vezes na minha vida, a medida que mulheres, escolhas profissionais, faculdades e bom, a própria vida, trouxeram reviravoltas cujas quais eu jamais pude prever. Talvez nem todos sintam essas mudanças da mesma maneira, mas a sensação de desorientação é sempre a primeira em nossos pensamentos. Para onde vou a partir daqui? Como posso seguir em frente? E se eu voltar? Da desorientação vem as dúvidas, a incerteza de como prosseguir e superar o que nos tirou do nosso caminho para continuar em rumo à tudo aquilo que procuramos para nós, incluindo a esperança de um dia nos sentirmos completos. Quando nos perdemos parece que algumas coisas passam direto por nós, como o amor ou a felicidade, e nos sentimos incapazes de fazer alguma coisa para alcançá-las, já que estamos tão precariamente perdidos para conseguirmos nos levantar e seguir em frente.

Para retomar nosso caminho é preciso relembrar o que nos levava adiante; talvez fosse a procura por alguém ou alguma coisa, ou quem sabe apenas aquele algo a mais que ainda não sabemos o que é, mas que reconheceremos no instante em que encontrarmos. Quanto a mim, nos meus momentos de incerteza o que me ajudou mesmo foi me esforçar para voltar a escutar as músicas da minha vida, aquelas que traduziam minhas angústias e sonhos tão claramente que parecia óbvio que deveria seguir na direção em que elas apontavam. Quando a música em mim parou, me apoiei no barulho das ruas, nos sons da cidade e nas trilhas sonoras dos meus amigos, até redescobrir meu tom. E do nosso tom, logo vem a nossa direção.

Foi um caminho e tanto para chegar até aqui, mas depois de tanto andar, me mudar, me surpreender, rir, chorar, espernear, conversar, desabafar e beber, aqui estou; ainda inteiro, ainda esperançoso... Ainda eu. Passamos a vida toda tentando encontrar algum senso de estabilidade para nos dar segurança a medida que cada passo é o desbravamento de um mundo novo, até que um dia paramos para descansar e percebemos que mesmo sem ter encontrado tudo o que procurávamos, estamos felizes. Reencontramos nosso caminho de volta por acaso e prometemos que nunca mais nos perderemos. Mas só para precaver, deixamos marcas no caminho para compensar pela falta das placas de retorno; em caso de emergências, damos um passo para trás antes de tentar ir em frente de novo. E então, depois de muito tempo e sem ao menos perceber, eu voltei a mim. Bem vindo de volta, Igor.

Mas sabe o que ajudou mesmo? Vir cantando pelo caminho.

Ao som de: SING - My Chemical Romance.

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