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Uma amizade normal

Ninguém sabe ao certo como uma amizade começa, mas geralmente acontece quando duas pessoas sentem que podem confiar um no outro num piscar de olhos, e a partir disso iniciam uma parceria firme e forte conforme fazem planos de sair por ai, ou para matar tempo e jogar conversa fora, ou para pedir conselhos quando as coisas ficam, bom, foda. Três anos atrás, eu estava afundado em livros e desespero na biblioteca do colégio, meio à recuperação de algumas - bom, muitas - matérias no fim do Ensino Médio e com pouco ânimo para insistir em aprender o máximo de Física possível para sobreviver às provas finais. O silêncio dominava o ambiente quando de repente alguém grita, "Chega dessa porra! Quem tá afim de largar isso e fumar arguile?", e instantâneamente respondi, "Vambora!". E de uma tarde esfumaçada de arguile e provas de Física refeitas, nasceu uma amizade mais forte do que qualquer outro companherismo que eu já havia tido; daquelas amizades de sentar na sacada no fim de tarde com um tererê em mãos e observar a cidade com nostalgia pelo fim do Ensino Médio e sonhos sobre faculdades e mulheres futuras que aguardavam por nós.

É difícil saber também quais amizades sobreviverão ao tempo e a distância que a vida tende a impor entre as pessoas. Imagine que naquele mesmo ano, enquanto me distraia das aulas e matérias para planejar festas e arrecadar fundos para comprar bebidas, um colega acabou por transformar-se em outra amizade mais duradoura do que eu podia imaginar; daquelas de oferecer carona quando o amigo chega na rodoviária, esquece ele lá, e se prontifica a estar mais alerta quando ele voltar para casa. E às vezes algumas amizades podem parecer sem sentido; porque falamos sobre assuntos absurdos e teorias infames - como imaginar como seria se acontecesse uma guerra entre o Brasil e o Sul do Brasil, culminando na então chamada Batalha de Londrina - para não falar das conversas profundas pelo MSN - com direito à "música do dia", "link do dia" e "notícia bomba do dia". Uma coisa bem normal mesmo, sabe?

E então tem as amizades que desafiam as próprias leis da natureza; as amizades entre homens e mulheres que, acredite, não envolvem sexo ou suas respectivas repercussões. Daquelas em que um oferece segredos de dentro da organização do seu sexo ao outro, visando o bom andamento de relacionamentos e, por que não, uma parceria ainda maior para as noitadas de fim de semana? Só que amizades assim são mais raras; afinal, pode ser tão difícil dizer aos outros que aquela gostosa é só nossa parceira, assim como pode ser complicado explicar à namorada de que eu e a fulana estávamos só conversando sobre o último desastre amoroso dela.

Mas não somos nada sem nossos amigos e não imaginamos nossas vidas sem eles depois que passam a frequentar nossas casas, a aparecer em nossas fotos e a integrarem-se em nossas vidas. Claro, amigo é amigo e filho da puta é filho da puta. Como saber a diferença? É simples; amigos não são só aqueles que nos fazem rir quando não pode, mas que nos fazem rir para impedir nossas lágrimas de cairem. Feito isso, "vambora" pro bar!

Ao som de: I'll Be There For You - The Rembrandts.

Comentários

  1. Parei de fazer os inúmeros orçamentos para ler seus post. Excelente!

    Volte para Londrina para... beber!

    "Abss"

    Marcio

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