Mais tarde naquele dia eu saí para fazer uma caminhada pela cidade, e conforme o pôr-do-sol trazia a noite, meus medos e verdades também vieram a tona. Às vezes eu penso que talvez não tenha nascido para ter um relacionamento, ou alguém com quem eu possa dividir minha vida. Isto é, há uma vida aqui para ser dividida? Bom, ao menos um pouco de vida deve haver, senão da onde tiraria cada vez mais palavras para tentar traduzí-la, não importa se faça sentido ou não. Quanto mais eu caminhava, mais eu imaginava se talvez não exista alguém com quem eu combine, alguém que me complete e que caminhará ao meu lado quando tudo ao meu redor parecer quebrado e sem volta. Nem todo mundo tem seu "feliz para sempre", e se eu tenho tantas outras coisas em minha vida, talvez um relacionamento seja a única peça que me faltará para tornar tudo completo, afinal não se pode ter tudo. Ou talvez o problema seja eu mesmo; por que eu me importo tanto? Eu sei...
Tudo o que eu sempre quis desta vida, desde que consigo me lembrar, é ter alguém para trocar beijos, dividir risadas, confessar meus segredos, e que me ensine a simplesmente deixar as neuroses de lado e ser feliz, ao seu lado. Isso é tão errado assim? Dizem que o segredo está em deixar de procurar, de querer, de correr atrás e simplesmente aproveitar, e assim começam a ecoar em meus pensamentos todas as falas que meus amigos me disseram ao longo dos anos, e por mais que os rostos mudassem, as mensagens eram sempre as mesmas. Acontece que eu não consigo deixar de querer, não sei deixar de correr atrás, se minha definição de felicidade, felizmente ou infelizmente, ainda envolve duas pessoas, e por mais contente que eu consiga ser comigo mesmo, ainda não será o bastante... E não me digam que não pensam o mesmo.
De repente, ao parar para esperar pelos carros seguirem seus rumos para que eu pudesse atravessar, a realidade também me fez parar aonde estava; não é mesmo possível que, em todos estes anos, ninguém ainda não tenha sido colocada em meu caminho para que eu ao menos não tentasse tocar o amor com o qual eu sonho tanto. Seria possível que aquilo que eu mais desejo, também seria aquilo que eu mais temo? Estaria eu sabotando a mim mesmo esse tempo todo, me ocupando ao inventar desculpas enquanto a vida acontece ao meu redor? E então eu percebi que não estava em dúvida quanto a me mudar do meu apartamento para deixar de morar sozinho; eu estava mesmo evitando que as pessoas entrassem, para que eu não deixasse de viver sozinho.
Quando uma pessoa se acostuma a viver sozinha por tanto tempo, é difícil abrir a porta para os outros, especialmente quando as coisas ficam difíceis. Por isto não contei aos meus amigos quando meu chão desabou, por isto abri mão de conhecer pessoas novas quando achei que não poderia confiar nelas, e por isto deixei outro amor ir embora, porque não pude dizer as palavras que agora me agonizam por dentro. Ao chegar perto de casa, tirei duas chaves do bolso; a chave do meu apartamento que não está mais vazio de coisas, mas continua vazio de vida, e a chave de um apartamento novo, e possivelmente de uma vida nova.
Antes de entrar em casa eu tive que parar para pensar; por que eu estava tão desesperado em me manter no mesmo lugar, em um apartamento que mesmo depois de dois anos continua sem vida? Entrei em casa para me deparar com a mesma solidão de sempre, e naquele momento fiz uma escolha; talvez eu tenha mesmo perdido minha capacidade de acreditar em mim mesmo e nas coisas que quero para mim, ou talvez esteja sendo movido por medo e só agora me dei conta disto, mas eu iria me mudar, na esperança de que talvez eu mesmo começasse a mudar também. É estranho acreditar que palavras possam me aproximar das coisas que quero para minha vida, quando na verdade muitas delas apenas servem de desculpas para me afastar, mas não desta vez.
Meu nome é Igor Costa Moresca, solteiro e disposto a mudar. Enquanto outras pessoas ainda estiverem dispostas a entrar em minha vida, talvez se eu puder aprender a deixá-las entrar, eu ficarei bem. E enquanto eu estiver aqui nesta cidade que aprendi a amar, talvez eu também aprenda a amar a mim mesmo, e quem sabe outra pessoa em especial também. Isto é o que faz a diferença hoje.
Ao som de: As Long As You’re There – Glee.
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