Mais tarde naquele sábado, eu pedi uma pizza. Era um bom modo de enfrentar uma situação na qual eu havia me envolvido, e ainda mais, na situação ainda maior na qual a primeira se encaixava. Primeiro se tratava de apenas morar sozinho e tentar encontrar uma maneira de lidar com noites de sábado em casa, e logo se mostrou como uma terapia de choque sobre como aceitar o fato de que eu não estava apenas morando sozinho em um apartamento maior desta vez; eu estava vivendo sozinho nele também. Uma, duas, três cervejas depois, eu continuei a refletir sobre algo que acontecera recentemente, envolvendo uma amiga cuja qual demorou um ano para ser chamada deste jeito, mas que levou cerca de dez segundos para ter seu título precedido por um prefixo pouco atraente – ex-amiga. E me fez pensar ainda mais; apesar de ainda não ter nenhuma ex-namorada em meu passado, o número de ex-amigos e amigas era surpreendentemente alto, e terrivelmente inegável. Era possível o fato de que até mesmo minhas amizades fossem disfuncionais, ou era apenas eu quem não conseguia manter amizades? E mesmo quando são os outros quem cometem os erros e desenganos ou deixam suas falhas tomarem o melhor de si, mas aqui e agora em um sábado a noite onde todos provavelmente estão por aí se divertindo e tomando cervejas acompanhados de colegas e risadas – ou, no mínimo, companhias – eu não pude deixar de ter o mais amedrontador dos pensamentos; e se o problema esse tempo todo não são os outros? E se o problema sou eu?
Mas até quando o problema sou eu alguns ainda tentam retornar em minha vida, uns de maneira mais sutil e outros um pouco mais agressivos, mas sem deixar de mostrar o quanto se importam, apesar das minhas falhas. Estranho, como eu sempre havia considerado a mim mesmo péssimo em inúmeras coisas, mas um bom amigo apesar disto, e ainda assim me encontro sozinho em um apartamento maior do mesmo modo em que também viva sozinho em uma quitinete. Talvez o problema seja mesmo eu, que de algum modo afasta as pessoas quando o que mais gostaria na verdade era que estivessem todos aqui, celebrando minha vitória comigo, mas que agora não parece mais do que apenas um grande e caro enfeite para uma vida sozinha e, bom, um pouco tonto por causa da cerveja a essa altura.
Quando a pizza chegou, corri três andares abaixo para pegá-la, porque desde quando consigo me lembrar sempre achei que seria mais rápido que o entregador, e até mesmo para poupá-lo do trabalho já que este sem dúvida já estava em uma posição comprometedora o bastante. E quando cheguei ao portão, percebi exatamente o quanto era eu mesmo quem estava comprometido em uma posição muito pior.
- Opá, os senhores já conhecem a nossa pizzaria?
Por um milésimo de segundo fiquei em choque. O entregador achou que a pizza era para mim e minha família, ou talvez eu e meus amigos, mas certamente aqueles doze pedaços, acompanhados por um refrigerante de dois litros como bônus, não eram apenas para mim.
- Sim... Eu me mudei recentemente, mas todo sábado peço uma pizza de vocês.
Escalei as escadas de volta para o apartamento quase me arrastando, e enquanto subia os degraus os barulhos dos outros apartamentos através das portas fechadas tornaram-se claros para mim. Por trás de algumas portas estavam famílias reunidas, e em outras amigos jogando conversa fora. Quanto a minha porta, nada havia atrás dela até que eu a atravessei, e uma vez mais a tranquei para que nenhum outro entrasse em meu mundo.
Talvez o que eu esteja querendo dizer é que não quero mais ficar sozinho desse jeito, ou em qualquer outro por sinal. Talvez o problema seja mesmo eu, e eu não seja o bom amigo que imaginava ser. Talvez não tenha sido eu quem abriu mão de tantas pessoas ao longo dos anos; talvez tenham sido meus amigos quem terminaram comigo, mas era eu quem insistia em dar a última palavra, ou o último adeus. Talvez quatro cervejas apenas tenham feito com que eu admitisse uma dificuldade, e as coisas melhorem daqui um tempo. Mas por ora deixarei aqui meu apelo a todos os meus ex-amigos; aqueles dos quais abri mão, aqueles que ignorei ou então deixei de lado porque achava que poderia encontrar pessoas melhores, aqueles que me viram partir sem sequer lhes dar um motivo, e aqueles que continuam comigo mas que ainda não sabem como se despedir até que eu mesmo o faça.
Eu não quero mais ex-amigos. No mínimo, quero ex-namoradas em meu futuro, e companhias para minhas próximas pizzas.
Ao som de: Best Friends – Amy Winehouse.
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