Igor Costa Moresca. O nome ainda é o mesmo, mas me sinto diferente. Diferente e silencioso, mas não porque não tenho nada a dizer. Silencioso porque tenho tanto a dizer, tantas coisas me passam pela cabeça e tantas sensações tomam conta de mim ao mesmo tempo na fração de um segundo, que não sei como começar a tentar explicar. Mas aqui estou eu: duas semanas, trezentos e quarenta e seis quilômetros e quatro quilos a mais depois, de volta em casa. Quer dizer, tem sido um longo caminho de volta. Assim que adentrei meu antigo novo lar com minhas malas prontas para serem reabertas, já estava na hora de empacotar tudo mais uma vez, já que a vida acabou por me apontar para uma nova direção. Eu tinha um novo apartamento à minha espera, velhos amigos para rever e uma rotina para reconstruir na cidade que havia deixado para trás para tentar reencontrar um pouco de paz lá fora, mas assim como o dinheiro acabou e o mundo real me chamou de volta, aqui estou eu cercado de caixas com meus pertences, depois de passar dois dias tentando encontrar uma maneira apropriada de transportar quase três anos de uma vida nova para um apartamento maior, já que este tornou-se pequeno demais para meu novo mundo.
Meu corpo está quase completando vinte anos enquanto minha mente finalmente se aproxima dos dez, mas acredito que isso seja apenas parte do processo de crescer, amadurecer e passar a ver o mundo com outros olhos, como um velho marinheiro que sofreu um novo despertar para a vida após quase ser engolido pelo mar. Depois de uma breve temporada em Londrina, percebo agora como tudo parece diferente mas nada realmente mudou pelas ruas daquela cidade, assim como as pessoas que conheci. Mas se a cidade, apesar das mudanças ao longo dos anos, ainda mostra-se como a mesma Londrina que deixei para trás, e meus amigos e familiares também não aparentam ter mudado seus costumes, por que eu me senti tão diferente entre eles? Era por que tentei retornar às minhas raízes na esperança de que pudesse reencontrar pelo menos alguns fragmentos que faziam de mim a pessoa que sempre acreditei ser, ou seria apenas os anos comprovando a mim que mesmo enquanto eu tentasse embarcar de volta ao meu passado, já era tarde demais e eu finalmente perdi o barco? Isto definitivamente porque ainda me sinto como se estivesse me afogando em um mar de rostos desconhecidos quando retornei para casa, especialmente agora ao meio de tantas caixas prontas para me acompanharem a uma nova embarcação.
Mas eu posso estar me precipitando, e não seria a primeira vez. Talvez o passado seja como uma âncora que nos impede de seguir adiante em busca de novos mares e novos horizontes. Talvez seja preciso abrir mão da pessoa que costumávamos ser, para nos tornarmos a pessoa que seremos. De onde estou agora, percebo que finalmente superei as tempestades de Londrina e as ondas turbulentas da minha chegada em Cascavel. Mas para onde vou ainda não sei. Tudo que posso dizer é que me sinto diferente, talvez até mesmo pronto para o que este mar, esta cidade, possa lançar em meu curso. E então, eu me desprendi do meu porto seguro e saí para me aventurar em uma nova jornada. Mesma cidade, mas um novo eu. Levantar âncora! Eu estou de volta.
Ao som de: You Haven’t Seen the Last of Me – Cher.
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