Para um escritor em treinamento como eu, não há nada mais fácil do que passar o dia tentando dar forma a certos sentimentos que pairam em mim com palavras na esperança de que talvez algumas coisas façam mais sentido após serem escritas e postas à mercê de interpretações alheias. No entanto, apesar de algumas palavras virem a mim facilmente, outras podem ser muito mais difíceis de serem expressas, seja na escrita ou no que dizemos aos outros por aí. Por exemplo, depois de cometer um erro, existe algo mais doloroso ao nosso orgulho do que dizer "me desculpe"? Ou então, algo mais agonizante à nossa confiança estraçalhada ao dizer para alguém, "eu te perdôo".
À medida que nos relacionamos com as pessoas, as coisas vão se tornando cada vez mais difíceis de serem entendidas e definidas, assim como as coisas que ocasionalmente ele ou ela espera ouvir de nós. O que acontece quando não conseguimos lidar com o "eu te amo" dele, ou então, o que fazer quando não conseguimos dizer isso a ela? Às vezes as palavras falam mais alto quando sequer são ditas; quando os lábios se fecham e o silêncio toma conta, é até mesmo possível ouvir os apelos desesperados do nosso amor gritar conforme lágrimas tomar seu rosto por não ouvir o que esperava de nós.
O amor acaba. Na verdade, algumas vezes o amor nem chega, e não há nada que podemos fazer para esconder isso. Mas de algum modo, nunca há um modo fácil de dizer, "eu não gosto mais de você, melhor pararmos por aqui enquanto ainda não nos odiamos". Infelizmente, a maioria das pessoas decide esperar pela oportunidade perfeita para pronunciar as palavras mais imperfeitas que existem, em completa negação de que este momento nunca chegará e se prendem a relacionamentos sem ardor, amizades que há muito tempo perderam o bom humor, e lembranças distorcidas que nunca aconteceram, mas que parecem muito mais aceitáveis e fáceis de lidar do que a realidade em si.
Como se no amor já não fosse difícil o bastante, consegue imaginar como parece impossível pedir pela simples ajuda de outra pessoa quando nos deparamos com uma situação com a qual não conseguimos lidar sozinhos? Quem de nós pode dizer que nunca pensou duas, três vezes antes de realmente dizer em voz alta, "eu não vou dar conta disto"? Pior ainda é encontrar alguém que não só entenda, mas também tome conta dos nossos apelos, nossos pedidos de socorro e ofereça uma mão para ajudar a nos levantar, enquanto tantas outras que menos esperávamos simplesmente nos empurram de volta ao chão. Assim, muitas coisas em nossas vidas acabam passando por nós sem nunca serem ditas, do urgente até mesmo ao fundamental. Afinal, o fundamental parece mesmo tão básico que sequer sentimos a necessidade de repeti-lo, sem considerar que talvez as pessoas gostariam muito de ouvir só por ouvir; só para darem fim a seus momentos de fraqueza e se certificarem de que ainda estamos com elas.
Falamos muito o dia todo, mas será que realmente dissemos algo que importa? Estamos nos tornando escravos de palavras vazias, ou estamos amedrontados demais para dizer qualquer coisa com um significado muito grande que escolhemos nos calar por completo? E se este for mesmo o caso, estaremos mesmo seguros sem dizer tudo aquilo que sentimos? O mundo ultimamente se resume a isto; palavras escritas, digitadas, silenciosas e na maioria das vezes até mesmo simplesmente copiadas e coladas de um olhar para outro, sem saber que com isto demos um passo para trás, para uma velha questão: palavras valem mais do que ações? E por que temos tanto medo de falar em voz alta quando parecemos tão confortáveis neste silêncio transcrito?
As palavras são as mesmas; somos nós quem estamos nos arrependendo cada vez mais de tudo que poderíamos ter dito, mas que escolhemos manter guardado. Até mesmo os sons que as palavras emitem são os mesmos, mas talvez seja tarde demais; nos tornamos mudos. O que é difícil de dizer pode se tornar ainda mais complicado se você continuar calado. E para um escritor em treinamento não há pesadelo pior do que engasgar-se com palavras que poderiam facilmente ser expressas, escritas, lidas, ditas e repetidas quantas vezes fossem necessárias.
Me desculpe, eu te amo, mas não gosto mais de você, isto é difícil, e eu não conseguirei dar conta sozinho.
Ao som de: Sorry Seems to Be the Hardest Word – Elton John.
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